sexta-feira, 17 de junho de 2011

O campo do riozinho e os torneios do Havelange

Sou de um tempo em que qualquer espaço servia como campo de futebol. Bastavam quatro tijolos para a demarcação dos gols e a bola podia rolar, fosse qual fosse a condição do chão.

Como um garoto apaixonado por futebol e ávido por correr atrás da bola, sempre que podia lá estava eu, um menino magricela de orelhas grandes, correndo com minhas pernas finas e chutando com o pé esquerdo. Fosse na rua de casa ou em um campinho qualquer, o que valia era ver a bola rolar.

Lembro bem de vários locais que eram transformados em campinhos. Como o terreno em que a Companhia Mogiana utilizava para descarregar enxofre, onde hoje está a Faculdade IESI, ou o campinho ao lado do riozinho da rua Sete de Setembro, onde mais tarde foi construída a residência do doutor Décio Galdi e que hoje abriga a casa de eventos Maison Galdi.

Ali, naquele local, muitos foram os jogos e torneios que realizamos. Como eram muitos meninos, geralmente formávamos três ou quatro times e a disputa ficava ainda mais acirrada.

Tudo girava em torno de um garoto, que organizava tudo e dividia os times. Sua habilidade para tal era tanta que o apelido de Havelange logo pegou e nunca mais foi esquecido.

Júnior, filho do doutor Hélio Amâncio de Camargo, era assim. Inteligente, hábil com a bola e craque para organizar os times, a tabela de jogos e as regras. Por isso ficou conhecido como Havelange, uma alusão a João Havelange, que naquela época comandava a CBD (Confederação Brasileira de Desportos), que mais tarde viraria CBF (Confederação Brasileira de Futebol), assim como ele viraria presidente da FIFA.

Lembro bem dele, um menino inteligente, habilidoso com a bola nos pés e também para organizar. E era na casa dele, ali na esquina da XV de Novembro com a Campos Salles que a gente se reunia antes de descer a ladeira até chegar ao campo do riozinho, como era chamado nosso estádio predileto.

Lá, naquele local, de chão sem grama, mas muito charmoso, corríamos atrás da bola e deixávamos que nossa mente fluísse pelos campos da imaginação. Afinal, estávamos na década de 60, época de ouro para o futebol brasileiro, recheado de craques como Ademir da Guia, Garrincha e Vavá, entre outros, sem contar Pelé, o maior de todos.

Parecem estar vivas em minha memória as disputas acirradas em busca da vitória. Atrás da bola, além de mim, garotos como Plininho Cremasco, Tato Monezzi, Paulo Marcos Zelante, Antonio Alberto (filho do doutor Antoninho), Carlinhos Cavenaghi, Decinho Galdi, Ari Cremasco, os irmãos gêmeos João Carlos e João Paulo, conhecidos como Broa e Parada, filhos da dona Mariana e do ‘seo’ Ico, e muitos outros, além do Havelange, claro. Todo mundo descalço, correndo naquele chão disforme e cheio de buracos, pedras e outros obstáculos.

Hoje, bem diferente daqueles tempos, os garotos têm chuteiras importadas, caneleiras, bola impermeável e um gramado macio para fazer a bola rolar. Mas, muitas vezes, acabam matando a bola de canela e mandando o sonho de se transformar em um craque para escanteio.

Como é bom lembrar de tudo isso. Nunca mais vi o Havelange. Inteligente, seguiu a carreira do pai, se transformou em médico e se mudou daqui.


Mas para mim ele vai continuar sempre aquele menino inteligente, educado, hábil com a bola nos pés e craque na organização dos times e dos torneios. Para mim ele vai continuar sendo sempre o Havelange.

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