terça-feira, 30 de agosto de 2011

Um domingo inesquecível

Sou de um tempo em que todos os garotos sonhavam em brilhar com a bola nos pés. Um tempo em que o futebol brasileiro estava em alta e ostentava com méritos o título de melhor futebol do mundo.

Vivi esse tempo e, como todo e qualquer garoto de minha época, sonhei em fazer sucesso como jogador de futebol. Claro que era apenas um sonho de menino, mas pelo menos não deixei de sonhar.

Lembro bem que naquela época o Brasil ostentava com orgulho as conquistas em três Copas. Era o ano de 1970 e eu, um menino que já deixava de ser magricela de orelhas grandes, vivi aquilo que se pode chamar de momento inesquecível.

Apesar de mirrado, eu tinha lá meus predicados como jogador de futebol. Se não era forte, pelo menos corria e era canhoto, um diferencial para os conhecedores do esporte bretão.

Lembro que fui convidado para treinar no XI de Agosto, time que mais tarde daria origem ao Itapira Atlético Clube, e que era comandado pelo Nelson Atala, homem forte do futebol local na época. Feliz e orgulhoso participava de todos os treinos físicos na quadra do Lions e dos coletivos no campo do ‘seo’ Hélio, hoje Pedro Bagini, no Centro de Lazer Hideraldo Luiz Bellini.

Um belo dia veio a recompensa para tanto esforço. O XI de Agosto faria um jogo amistoso contra o Nacional da Capital e eu estava relacionado entre os que iriam para São Paulo.

Para mim, um menino sonhador, que já havia realizado o sonho de jogar no sagrado gramado do ‘velho’ Chico Vieira, ao lado do Parque Juca Mulato e de ter disputado várias partidas no novo Chico Vieira, lá no alto da rua Duque de Caxias, que a gente chamava de ‘campo novo’ ou de ‘campão’, tal era o tamanho de seu gramado, aquela era a maior notícia de toda a minha curta existência. Claro que eu sabia que não seria um jogador de futebol profissional de sucesso, mas só de ter meu nome na lista já era uma vitória.

As noites que antecederam aquele dia 13 de setembro de 1970 foram intermináveis. Por minha cabeça passavam pensamentos que me levavam àquele campo onde eram disputados os jogos do Campeonato Dente-de-Leite, que a TV Tupi mostrava.

Só de pensar que iria pisar no gramado em que, pela TV, vi jogarem amigos como Plininho Cremasco e Ike com a camisa do meu Palmeiras, ou Luís Paulo e Dito Mário com a camisa listrada do próprio Nacional, já era um sonho. Pensar que estaria no mesmo local em que a TV Tupi, transmitia nas tardes de sábado os jogos do campeonato dente-de-leite, não me deixava dormir.

O grande dia chegou e lá fomos nós para a Capital de todos os paulistas. Eu, como fazia parte dos magrinhos, fui acomodado no carrão do Plínio Cremasco. Os maiores, ou mais bundudos, como o Neto Coloço e o Coradi, viajaram de Expresso Cristália para não ocuparem mais espaço nos dois carros que levaram o resto do pessoal.

Perdemos de 5 a 3 para o Nacional, mas apesar de jogar por oito ou 10 minutos, me senti realizado por pisar naquele gramado do estádio da Comendador Souza, que tinha por baixo uma terra preta que ficou grudada no solado de minha chuteira novinha, da marca Olé, de sola branca, que ganhei de meus pais depois de tanto pedir, em substituição à outra, conhecida como ‘cabeça de touro’, que me machucava os pés com seus pregos. Eu sabia que aquele momento ficaria marcado em minha memória e que um dia seria lembrado de uma forma ou de outra.

Depois do jogo e do lanche, uma outra surpresa nos aguardava. Da Comendador Souza fomos direto para o Morumbi ver a final do Campeonato Paulista.

Lá, naquele estádio que eu tinha visto apenas pela TV, pude ver o São Paulo bater o Corinthians por 1 a 0, gol do ponta-esquerda Paraná, e confirmar o título paulista daquele ano, conquistado no jogo anterior diante do Guarani, em Campinas. Ver craques como Sérgio, Jurandir, Forlán, Roberto Dias e Toninho Guerreiro de um lado, e Ado, Rivelino e outros craques de outro foi mais um sonho para aquele menino que não tinha por hábito ficar longe de casa.

Talvez pelos ensinamentos de meus pais e, principalmente, pela austeridade como meu pai dirigia nossa família, ter vislumbrado tantas coisas novas e vivido momentos inesquecíveis distante de casa, fez com que aquele domingo fosse mágico para mim. Foram momentos que nunca mais saíram de minha memória, apesar dos mais de 40 anos que se passaram.


O XI de Agosto acabou, mais tarde surgiu o Itapira Atlético Clube, eu nunca me transformei em um grande craque dentro de campo, mas pude gravar em minha história aquele momento mágico. Até hoje lembro de todos aqueles momentos, como se tivesse vivido tudo aquilo no dia anterior, tal a felicidade que aquele domingo me proporcionou.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A Itapira do meu tempo

Sou de um tempo em que as casas eram mais simples. Um tempo em que tudo era mais simples e, por isso mesmo, tinha mais valor.

Um tempo em que as pessoas podiam caminhar nas ruas sem o perigo de serem abordadas por um assaltante. As casas comerciais daquele tempo não precisavam colocar grades nas portas para evitar os saques e roubos e havia, principalmente, mais respeito mútuo.

Lembro bem desse tempo que já vai longe. Às vezes, na tentativa de recuperar tudo aquilo que ficou lá atrás, fecho os olhos quando estou caminhando em determinadas ruas e busco lá no fundo do meu baú de memórias o que havia naquele lugar.

Procuro, sem encontrar, o Bar do Odilon, o Cine Bar, os cinemas, o Bar Central, o Itapira Bar, a loja Paulista, da Áurea Rossi, a Paulista Presentes, onde eu comprava meus cavalinhos e personagens do Forte Apache. Tento descobrir onde foram parar a loja do Lico Amâncio, a Leader de Praça, como estava escrito em sua fachada, e o Brasília Bar, a farmácia do Emílio Rovaris, a Casa Teté, a Farmácia da Fé e o bar do Sebastião Mendes.

Que bom seria poder rever tudo aquilo, caminhar pelas ruas e saber o nome de cada uma das pessoas. Poder tomar um refresco no bazar do ‘seo’ Toninho Ferreira ou sentir o aroma dos queijos importados do Buraco da Onça.

Essa busca pelo passado me leva por caminhos que trilhei na infância, quando eu era um menino magricela de orelhas grandes. Em um domingo pela manhã, depois de levar minha pequena Mariane para brincar no parque Juca Mulato, decidi dar uma volta pelos locais onde passei minha infância.

Subi pela Rui Barbosa até o Cruzeiro e desci a Bentico Pereira até dobrar a João Pereira. Ali, naquele quarteirão onde passei grande parte de minha infância, fechei os olhos para resgatar na memória a casa de meus avós paternos.

Olhei para a casa que depois pertenceu ao Décio Luchetti, fechei os olhos por uns instantes e vi aquela casa antiga de número 41, com o portãozinho na frente, a área antes da sala e o portão lateral que dava para o quintal. Por uns instantes senti algo indescritível no coração, como um aperto me espremendo por dentro.

Imediatamente abri os olhos em busca de tudo aquilo que deixei no passado, como se isso fosse possível. Triste por não ter mais tudo aquilo, mas feliz por ter tido essa impressão por segundos, retornei ao mundo presente e por mais alguns instantes pude relembrar tudo aquilo ao reencontrar a dona Alzira Paschoal, vizinha de meus avós, que até hoje reside na mesma casa.

Minha caminhada de volta para casa ficou mais leve depois desse episódio. Desci a Hortêncio Pereira da Silva ‘vendo’ tudo que antes existia naquele trecho.

Enxerguei a casa dos Pretti, os caminhões dos irmãos Pereira, o bar do Júlio Cruz com a cadeira em que meu tio Ivan costumava se sentar, o restaurante do Carlim Zacchi e a velha Igreja de Santo Antonio, com sua escadaria. Olhei para a rua da Penha e lá estavam a barbearia do Paulo Monfredini, a oficina de consertos do Piquica e o armazém do ‘seo’ Neco de Freitas, bem na esquina, onde eu ia com meu avô João Butti.

Voltei para casa feliz, como se tivesse cumprido minha missão. Relembrar tudo aquilo me deu a paz que meu coração necessitava.

E é dessa forma que me transporto para aquele tempo feliz. Sei que muitas vezes essa viagem dói no fundo da alma, mas é assim que busco tudo aquilo que ficou no passado.


É assim que resgato a Itapira do meu tempo. Um tempo feliz e que não volta nunca mais.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Brincadeira de criança

Sou de um tempo em que o ano custava a passar. Um tempo em que os dias pareciam intermináveis e não havia essa correria que vida atual impõe às pessoas.

Havia tempo para tudo. As crianças, além de frequentarem os bancos escolares, encontravam tempo para as brincadeiras saudáveis.

Lembro bem que, como se fossem as estações do ano, as brincadeiras também eram sazonais. A cada período uma delas era a preferida e todos, como se fosse uma combinação, se ocupavam daquela diversão.

Naquele tempo as brincadeiras eram bem diferentes do que se vê hoje. Sem os jogos eletrônicos, computadores ou os recursos tecnológicos da atualidade, as crianças gostavam mesmo era das brincadeiras de rua.

E eu, um menino magricela de orelhas grandes, não era diferente das outras crianças. De tempos em tempos me ocupava com um tipo de diversão para preencher meu tempo ocioso.

Além da bola, uma companheira inseparável, principalmente dos garotos, havia diferentes tipos de brincadeira. Lembro bem que agosto, por exemplo, por ser o mês de ventos, era o período em que todos gostavam de empinar pipas, ou soltar maranhão, como dizíamos naquele tempo que já vai longe.

Passava a febre das pipas e chegava a vez dos piões, das bolinhas de gude ou de colecionar figurinhas de times de futebol ou de filmes, como El Cid, por exemplo. Era um tempo muito gostoso e bem diferente.

Tenho muita saudade desse tempo e essa saudade é dolorida, pois sei que esse tempo não voltará nunca mais. Hoje, como minha pequena Mariane já entende muita coisa, busco nas fotos antigas que mostro para ela as recordações desse tempo feliz.


Não tenho mais tempo para soltar maranhão, rodar pião, jogar bolinha de gude ou colecionar figurinhas, mas sempre encontro preciosos momentos para lhe contar como era aquele tempo. Talvez seja esse o caminho que tomo a cada aperto no coração por já estar bem distante daquele tempo de brincadeiras de criança.

A quarta série ginasial

Faz tempo que isso não ocorre, mas um tempo atrás eu vivia sonhando que estava nas dependências da escola onde cursei o ginasial e também ...