Sou de um tempo em que respeito e disciplina eram mais do que lei,
fosse no seio da família ou na escola. Um tempo em que se tratava os mais
velhos por senhor ou senhora e se pedia a bênção para pais, tios, avós e
padrinhos.
Lembro bem que, em casa ou fora dela, as
crianças deviam se comportar, respeitar os mais velhos e, principalmente,
obedecer aos pais. Havia uma espécie de doutrina que começava em casa e se
estendia porta afora.
Naquele tempo a escola era uma extensão da
casa e lá se aprendia muito, principalmente porque havia o respeito para com
quem ensinava. O aluno saía do grupo escolar afiado para enfrentar o próximo
desafio, que era estudar no ginásio.
Passei quatro anos nos bancos do Grupo
Escolar Dr. Júlio Mesquita que valeram pela vida toda. Lembro bem que eu era um
menino magricela de orelhas grandes que prestava atenção em tudo que as
professoras ensinavam, pois sabia que tudo aquilo iria me servir pelo resto da
vida, pois foi assim que minha mãe me preparou para iniciar meus estudos.
Quando ingressei no primeiro ano ginasial,
prestes a completar 11 anos, já estava preparado para os novos desafios que a
vida escolar iria me impor. A base que havia recebido era mais que suficiente
para encarar as mudanças que viriam pela frente.
Apesar das mudanças radicais entre uma
escola e outra, entre as matérias do ginásio e a cartilha do grupo escolar, uma
coisa não se alterou. Da mesma forma que o aprendizado dos tempos de grupo
escolar, tudo que aprendi no ginásio continua me servindo até hoje.
E não são apenas os ensinamentos que até
hoje povoam minha mente. Os momentos vividos naquela escola imponente estão
arquivados até hoje no meu baú de memórias.
Posso, num piscar de olhos, recordar
momentos que marcaram minha passagem pelo ginásio, ouvir o burburinho intenso
do recreio. Ou uma voz grave avisando algum desavisado que o mesmo estava
infringindo uma das regras básicas.
‘Sapato na quadra’. Qual dos milhares de
alunos que passaram pelo ginásio nunca ouviu essa frase retumbante?
Essa expressão, tão ouvida naqueles tempos, era usada sempre que
alguém pisava na quadra de esportes da escola usando sapato de sola de couro.
Quando isso ocorria logo se ouvia a voz grave do professor Barretto, que mais
do que depressa dava o aviso para que o mesmo deixasse aquele local sagrado
para ele e para os alunos.
Talvez aquela simples frase dita em alto e
bom som não representasse para mim mais do que um aviso para alguém que estava
infringindo uma das regras. Mas hoje me dou conta que aquilo significava muito
mais que isso.
Durante os quatro anos de ginásio, antes
de ir para o colegial, ouvi aquela e outras frases ditas por aquele professor
que até hoje guardo na memória. E hoje, quatro décadas depois, sei o
significado de tudo aquilo.
Mais que impor regras ou disciplinas aos
alunos, professor Barretto deu aos seus milhares de alunos as noções básicas de
boa conduta. Assim como no grupo escolar aprendi a ler e escrever, a fazer
conta de mais, de menos, de vezes e dividir, com aquele professor aprendi a
disciplina e a ordem.
Até hoje ecoam em meus ouvidos suas frases
de efeito ou seus avisos. Até hoje me recordo de tudo aquilo e constato que
nada é por acaso.
Hoje, quando vejo pessoas caminhando ou
buscando a forma física nas academias logo nas primeiras horas da manhã, lembro
que acordava ás cinco da madrugada para enfrentar um frio de rachar e frequentar
as aulas de Educação Física.
Hoje dou valor a tudo isso e carrego
comigo muito do que aprendi em suas aulas. Lembro dos testes de ginástica
básica, do passeio campestre e de tantas coisas boas que marcaram minha
passagem por aquela escola e que me trazem boas recordações. E, às vezes, me
pego dizendo ‘sapato na quadra’ quando algum amigo, sem querer, infringe uma
regra.
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