A praça central é o ponto de referência de qualquer cidade, principalmente
interiorana. E com Itapira não é diferente. Ou melhor, não era. A praça
Bernardino de Campos está morrendo e com ela uma parte da história de cada um
de nós.
Constatei o ocaso da praça no final da
tarde de um sábado qualquer. Saí para um passeio pelo centro da cidade com
minha filha Mariane, companheira de todas as horas, e, ao chegar no perímetro
da Bernardino de Campos me deparei com a penumbra e o esquecimento.
Me bateu a saudade dos bons tempos de
infância, adolescência e juventude, pois era ali na praça que tudo acontecia.
Os bares e restaurantes, os clubes, os cinemas, pontos vitais para que o
movimento fosse intenso.
Num instante me veio à memória os bares
que circundavam a praça. O Bar do Odilon, com sua bomboniere recheada; o Cine
Bar, que servia uma pizza fantástica, que não deixava nada a desejar se
comparada à do Sebastião Bar; o Bar Central, com sua sorveteria e o
restaurante; o Itapira Bar, que embora ficasse na rua ao lado, contribuía para
o movimento constante; o Bar do Edifício e o Chopão, pontos de encontro dos
jovens. Um a um, todos foram morrendo, os pontos transformados em outros tipos
de comércio e a praça foi morrendo a cada porta fechada.
Com a mudança da Churrascaria Casa Nova
para um ponto mais adequado, terminou o ciclo e a praça recebeu seu último
golpe. Não há mais um ponto sequer ao seu redor para revitalizar o movimento
noturno. Apenas nos finais de semana há a aglomeração em torno da perua de
cachorro-quente e nada mais.
E pensar que a praça serviu de ponto de
encontro e de partida para milhares de relacionamentos afetivos, namoros e
casamentos. Quantas pessoas se conheceram ali e iniciaram o relacionamento que
se transformaria na formação de uma nova família.
Hoje a praça central sobrevive apenas dos
eventos populares como a Festa Della Nonna e a Festa da Padroeira. Muito pouco
para um local aprazível, espaçoso e que representa muito na vida de todos nós.
Relembrar os pontos comerciais e de recreação que circundavam a
praça central da cidade ativou outras lembranças que estavam guardadas em um
cantinho da minha memória. Foi bom trazer à tona um tempo em que a praça
central era o centro de tudo na vida de cada um de nós.
E essas incursões pelo passado trouxeram de
volta lembranças da própria praça, de sua fonte luminosa, inaugurada nos anos
60, se não me falha a memória em 68, pelo então prefeito Benedito Alves Lima.
Lembro do encanto das pessoas quando a água colorida pelas luzes começou sua
dança. Era algo diferente, bonito de se ver, que tornava mais alegre o passeio
pela praça.
Infelizmente tudo isso acabou e a fonte,
espécie de marco de um tempo que não volta mais, virou um palco que tem sua
parte frontal virada para a rua, apesar da concentração do público acontecer
nas laterais.
Lembrar da fonte luminosa da praça fez-me
voltar ainda mais no tempo e reviver um período em que tudo era mais difícil.
Meu pai, apesar de todas as dificuldades que a época impunha, sempre que podia nos
levava para ver de perto a fonte da Usina Nossa Senhora Aparecida. E como era
gostoso olhar aquele espetáculo, aguardar pelo surgimento da santa, que
submergia das águas.
Era o divertimento que tínhamos naqueles
tempos e eu, um menino magricela de orelhas grandes, ficava maravilhado com
aquilo tudo. Hoje os tempos são outros, as atrações e as facilidades também e
talvez por isso não se dê tanta importância para os pequenos detalhes, fazendo
com que as crianças cresçam sem um referencial, sem um arquivo na memória que
não seja aquele instalado no computador que invariavelmente é o companheiro da
maior parte do tempo.