segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

A quarta série ginasial


Faz tempo que isso não ocorre, mas um tempo atrás eu vivia sonhando que estava nas dependências da escola onde cursei o ginasial e também o colegial. Sonhava que estava no IEEESO, isso mesmo, no IEEESO e não no ESO de hoje.
Em meus sonhos a escola era sempre do jeito que a frequentei, sem as mudanças feitas para atender os padrões atuais ou para conter o ‘ânimo’ dos alunos de hoje. Naquele tempo, nos anos 70, tudo era mais romântico, todos respeitavam a escola como ela devia ser respeitada, assim como os professores e demais funcionários, fossem diretores ou simples faxineiros.
A cada sonho lá estava o extenso saguão destinado ao recreio com os banheiros, a sala de trabalhos manuais do professor José Silveira na ponta, a sala do professor Barretto de frente para a quadra de cima, o gramado, o portão de acesso ao campo de futebol, à quadra de baixo e à pista de atletismo. Era ali que meninos e meninas se encontravam, pois naquele tempo as classes eram separadas.
De todos os sete anos que frequentei aquele lugar mágico o melhor deles foi quando cursei a quarta série ginasial. Talvez por estar naquela idade de transição, em que achamos que já sabemos tudo sobre o mundo ao nosso redor.
Lembro bem que eram duas salas abrigando alunos da quarta série, ambas no pequeno corredor que dava entrada para a biblioteca. A nossa sala era a da direita de quem entrava no corredor, com as janelas para a rua ao lado da escola.
As aulas eram no período da tarde e as de Educação Física às seis da madrugada. Quando era inverno o frio era de ‘rachar mamona’ como era costume dizer.
Eu sentava na primeira carteira na fileira perto da porta. Atrás de mim vinham Rudyard Trani, Plininho Cremasco, Kilão Galdi, Alexandre Caio e, mais atrás o Sérgio Venturini.
Lembro de muita gente daquela sala, alguns que já até partiram para o andar de cima, como o Gildo Piardi, o Paulo de Tarso Nascimento, o Paulo Marin e o Antonio Carlos Amâncio, que no início do ano tinha uma voz fina, mas que quando voltou da férias assustou todo mundo quando abriu a boca e sua voz tinha um tom grave. Era a chamada mudança da adolescência, quando a voz muda, assim como muitas outras coisas.
Eu era um bom aluno, sempre tirava boas notas, mas a sala tinha outros ‘bambas’ como o José Roberto Pretel Pereira Job, o Luís Paulo Souza Ferreira, o Maurinho Xavier, o Sávio Pegorari, o Juca Serra, o Dindão Serra, o Paulo Eduardo Sartori e o Chico Antonio Azevedo. E tinha os que eram respeitados pelos demais por serem mais velhos, como o Cláudio Nascimento, o Miltinho Piardi, o Ipê Ferreira Alves, o Carlão Nogueira, entre outros.
Guardo boas recordações daquela época e bons ensinamentos também. Tínhamos professores de ponta como Clibas Ribeiro Paiva, Sirtes Valdissera, Marlene Barizon, Ninfa Bosso, entre outros, e só não aprendia quem não queria.
Foi um tempo muito bom da adolescência. De aprendizado, mas de diversão também.
Sempre que posso fecho os olhos e volto no tempo. Me vejo sentado na primeira carteira da primeira fileira e visualizo até mesmo cada um dos demais nos lugares em que se sentavam.
Mas, como tudo na vida, aquele tempo acabou no final do ano. Quando conclui a quarta série meu pai decidiu que eu iria estudar no período noturno e tudo mudou.
O tempo pode passar, mas não apaga as boas lembranças como o apagador, implacável, tira do quadro negro a matéria antes que possamos copiá-la. E as boas amizades que aquele tempo mágico proporcionou também permanecem intactas, sem que o tempo possa diluir.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Uma festa popular chamada Carnaval


Como tudo está mudado. Nem parece que o ano está começando e o Carnaval se aproximando.
Como tudo agora é bem diferente de um tempo, há pelo menos 25 ou 30 anos, quando essa era a época em que a cidade começava a ferver na espera pelo Carnaval. O corre-corre em busca de fantasias para os bailes de salão ou para os desfiles das escolas de samba era intenso, assim como os clubes iniciavam nessa época, passado o Réveillon, os preparativos para as quatro noites de folia.
Lembro bem dos anos dourados do carnaval itapirense. Os dois clubes instalados na praça principal – Clube XV e Centro Comércio e Indústria – dominavam, mas a Sociedade Operária também tinha frequência garantida.
Era comum a formação de blocos carnavalescos para os bailes nos clubes e os bares nos arredores ficavam abarrotados.
Na última noite, já com o sol nascendo na quarta-feira de Cinzas, as orquestras do Centrão e do Clube XV se encontravam na praça. Era a última oportunidade para os foliões se despedirem do Carnaval.
Anos mais tarde o Tênis Clube começou a realizar bailes carnavalescos, atraindo para si os freqüentadores do Clube XV. Posteriormente foi a vez do Clube de Campo Santa Fé dominar, esvaziando o Tênis e também o Centrão.
Hoje tudo isso acabou. Não há mais carnaval de salão no Clube XV ou no Centrão e muito menos no Tênis Clube ou no Santa Fé.
Esse tipo de festa perdeu o apelo, principalmente devido ao gosto musical da atualidade, que não permite mais que as tradicionais marchinhas de Carnaval sejam executadas pelas orquestras nos bailes carnavalescos. Se não for funk, axé ou coisa parecida, ninguém dança.
Só quem viveu tudo isso sabe o quanto foi bom. Só quem deixou um baile de Carnaval para ver o sol nascer no parque, ou para tomar uma sopa de cebola no Chopão sabe o quanto tudo isso significou para várias gerações.
Gerações que podem ser consideradas privilegiadas, pois viveram as melhores décadas, ouviram as melhores músicas, dançaram ao som de grandes orquestras e ouviram programas radiofônicos da melhor qualidade. Só restou a saudade de tudo que já passou.
Tudo isso ficou no passado, embora bem guardado no baú de memórias de quem vivenciou esses bons momentos. Momentos que jamais serão esquecidos.

Uma certa Academia


Em 1972 o Palmeiras formou uma verdadeira academia que faria sucesso e conquistaria títulos estaduais e nacionais. Era o tempo em que qualquer torcedor, fosse palmeirense ou não, sabia de cor e salteado a escalação principal.
Dois anos depois, mais precisamente no dia 07 de dezembro de 1974, um sábado, o Palmeiras veio até Campinas para enfrentar o Guarani. Um jogo que valeu pelo segundo turno do Campeonato Paulista, que terminou com a conquista do título pelo Palmeiras após a vitória por 1 a 0 sobre o Corinthians naquele épico jogo no Morumbi, que determinou a saída de Rivelino do clube de Parque São Jorge.
Como o jogo era em Campinas, combinei com o Bi Sartorato, que naquela época trabalhava no Palácio dos Esportes, de propriedade dos irmãos Hugo e Henrique Stort, e fomos para o jogo, levando conosco o Rogério Monezzi, hoje médico endocrinologista.
O jogo reuniu mais de 22 mil pessoas no Brinco de Ouro, que naquela época ainda não tinha o anel superior. Chegamos cedo ao estádio campineiro e procuramos pelo local onde estava a torcida palmeirense.
Lembro que ficamos atrás do gol a direita das cadeiras cativas, debaixo de um sol daqueles, para ver um 0 a 0 sem muitas emoções. O Palmeiras pouco atacou e criou poucas chances para marcar, o mesmo acontecendo com o time bugrino.
Mas, o que mais contou naquela tarde foi que pela primeira vez eu estava em um estádio de futebol por conta própria, sem a companhia do meu pai ou de algum responsável. A sensação foi de que era já não era mais um menino, tinha crescido e podia andar com as próprias pernas.
Voltei muitas vezes aos campos de futebol, vi muitos jogos do Palmeiras em diversas situações. Mas aquela, por ter sido a primeira foi especial.
Mais tarde, já atuando como repórter de campo ou comentarista esportivo, aprendi que podia torcer pelo meu time apenas por dentro, sem demonstrar minhas emoções no microfone. Vibrava ou sofria no meu íntimo, mas no microfone mantinha a neutralidade e o profissionalismo.

Um solo de guitarra


Minha mãe costumava afirmar que um perfume e uma musica a gente nunca esquece. O tempo pode passar e as lembranças irão permanecer para sempre e cada vez que ouvirmos aquela música ou sentirmos aquele perfume irão aflorar em nossa mente.
E não é que a ‘véia’ tinha razão. Toda vez que ouço uma música ou sinto um perfume vem à tona o momento em que ouvi ou senti pela primeira vez.
Mas, deixando o perfume de lado, acredito que sou um privilegiado, pois nasci e cresci em um tempo recheado de músicas que ficarão para sempre. Um tempo em que o bom e velho rock’n’roll dava o tom.
Costumo afirmar que as músicas de hoje, pobres em todos os sentidos, desde a melodia até a letra, passando pelo sentimento e a voz de quem interpreta, deixam a desejar. Gosto não se discute, ninguém tem culpa de ter nascido em um tempo tão pobre de boas músicas, mas bem que esse povo poderia ouvir o que já se fez lá atrás para ganhar um pouco de inspiração.
Como é bom poder ouvir o solo de guitarra de Walter Becker da banda norte americana Steely Dan em Do it Again, lançada em 1972 e que alcançou a posição de número seis nas paradas americanas no ano seguinte, segundo a revista Billboard. Ou a obra prima da banda sul africana The Square Set, que em 1969 lançou Thats What I Want.
Cito essas duas como poderia citar tantas outras canções inesquecíveis, como I Shot The Sheriff, lançada em 74 pelo britânico Eric Clapton; ou Bad Love, do mesmo Eric Clapton, e o que falar de Walk Alway, da banda americana James Gang, lá do início dos anos 70, que tinha Joe Walsh na guitarra. São canções inesquecíveis e que nunca irão morrer para quem viveu esse tempo mágico.
Hoje, quando vou a um show de rock, sei que quem está no palco só está ali porque tem competência, pois se errar uma nota, quem gosta e conhece rock vai notar na mesma hora. Respeito o gosto de cada um, até mesmo de quem prefere o que se produz hoje e daqui dois ou três meses já desapareceu, mas não abro mão do meu bom gosto e da satisfação de ouvir o bom e velho rock’n’roll.
Esse gosto musical devo a dois grandes amigos da adolescência, pois foi com eles que aprendi a gostar desse tipo de música. E cada vez que ouço uma dessas obras primas imediatamente volto no tempo e lembro de Plininho Cresmasco e Rudyard Trani, dois grandes amigos, dois profundos conhecedores da boa música.

Um padre muito além do seu tempo

Nasci no seio de uma família católica. Meus avós eram parte integrante da Matriz de Santo Antônio, sempre presentes e sempre auxiliando no que fosse necessário.
Minha avó Leonor era a responsável pelos pastéis nas quermesses e meu avô João Butti fazia parte do grupo que prestava serviços à paróquia comandada pelo padre Matheus Ruiz Domingues. Essa devoção não era em vão, além de serem religiosos, tinham um filho no seminário, se preparando para assumir seu lugar como padre.
Desde pequeno acompanhei todo esse processo. Meu tio José Rubens estava no seminário e vinha a cada folga para casa. Estudou em São Paulo, Campinas e algum tempo passou também em Aparecida, mas sempre que podia vinha para Itapira.
Era um tempo feliz, a família se reunia a cada data especial como Natal, Ano Novo e Páscoa. A mesa comprida no rancho da casa de meus avós sempre ficava cheia e muitas vezes seus colegas seminaristas também marcavam presença, entre eles Jacintho Domeni Martins e José Veríssimo Sibinelli.
Quando estava em Itapira meu tio cumpria seus deveres na igreja, mas também tinha sua vida normal como jovem que era. E, como bom corintiano, logo pela manhã descia a rua Hortêncio Pereira da Silva até o Bar Santo Antônio, de propriedade do Carlos Zacchi, para ler as notícias na Gazeta Esportiva.
Certa vez, em uma dessas manhãs, segundo relado do Guilherme Martelli, meu tio estava em uma das mesas lendo o jornal quando apareceu um senhor, de uma outra religião, como uma bíblia na mão. Ao se dirigir ao balcão, abriu a bíblia e começou a ‘pregar’.
O Ico Martelli, pai do Gui, que trabalhava no bar e estava no balcão, interrompeu o discurso e mostrou meu tio, sentado e absorto na leitura. “Fale com aquele moço ali”, disse. E, imediatamente, o homem com a bíblia se dirigiu à mesa onde meu tio estava e começou a falação.
Calmamente, meu tio pediu a ele que abrisse a bíblia em uma determinada página e, ao ser atendido, começou a falar para o homem tudo que ali estava escrito. Sem ação, restou ao homem enfiar a viola no saco ou a bíblia embaixo do braço e dar no pé.
Meu tio José Rubens tornou-se diácono no dia 14 de junho de 1970. Guardo essa data porque foi no dia em que a seleção brasileira derrotou o Peru por 4 a 2 na Copa de 70 e garantiu vaga nas semifinais para enfrentar o Uruguai.
Depois disso ainda passou um período no seminário até tornar-se padre em maio de 72. Indicado para assumir a paróquia de Santa Cândida, em Araras, foi para lá e lá faleceu em novembro do mesmo ano, aos 29 anos.
Padre José Rubens Butti, ou simplesmente meu tio Zé Rubens, foi um padre muito além do seu tempo. Com idéias inovadoras, sempre buscou dar às missas e atividades religiosas um conceito mais leve e moderno.
Com seu jeito amigo, conquistou a confiança de todos os que frequentavam suas celebrações, mesmo os mais radicais. Fez amigos por onde passou e mesmo tanto tempo depois de subir para o andar superior ainda é lembrado por seu carisma.


Um homem além do seu tempo


Em um tempo de parcos recursos técnicos e nenhum tecnológico, fazer jornal e rádio era mais que uma profissão. Era, antes de tudo, uma arte e, além disso, tinha que estar no sangue da pessoa.
Diversas pessoas deram sua contribuição para que periódicos sobrevivessem na segunda metade do século passado. Pessoas que muitas vezes não apareciam na mídia, mas que tinham uma importância igual ou maior do que aqueles que estavam sempre em evidência na sociedade.
Em meus tempos de infância, quando a veia jornalística ainda não havia aflorado, eu gostava de ler os jornais da época com Cidade de Itapira e Folha de Itapira. Lia avidamente as notícias sem saber que por trás daquelas páginas muitas vezes carregadas de tinta da impressora havia um sem número de pessoas que davam vida aos jornais.
Pessoas como Benedito Leite, Luiz Ziliotto, Arlindo Bellini, José Peres, José Francisco Lanzoni, João Torrecillas Filho e Amaury Martins, entre tantos que me fogem à memória, mas que também foram de grande importância no contexto jornalístico local.
Lembro pouco dele, mas sempre soube que nesse meio chamado de comunicação, uma figura se sobressaiu pela destreza com que manejava o componidor ou componedor como se falava naqueles tempos, tipos, clichês e outros apetrechos para dar vida às páginas do extinto Folha de Itapira. O jornal, fundado em 08 de maio de 1952, teve nele, além de um eclético funcionário, um diretor quando o mesmo passou das mãos de Luiz Ziliotto para o mogimiriano Arthur Azevedo, que era o proprietário do A Comarca.
Quem conheceu Amaury Martins sabe o quanto ele foi importante para a comunidade itapirense. Além de atuar na gráfica que produzia o Folha de Itapira, enveredou também pelas ondas da Rádio Clube, atuando como repórter esportivo ao lado de grandes nomes da época de ouro do rádio itapirense. De seu amor pela tipografia e tudo que girava em torno dela, ao lado do companheiro de trabalho no jornal, José Peres, fundou a Gráfica Itapirense, que por muitos anos funcionou na José Bonifácio e posteriormente na Francisco Glicério.
Foi assim que Amaury Martins fez sua vida e formou sua família ao lado da esposa Maria do Carmo Lauri, com quem teve as filhas Valéria, Patrícia, Cláudia e Cintia. Foi de sua magia com a arte de escrever, compor e dar vida às palavras que saiu o sustento da família.
No futebol, outra de suas paixões, Amaury Martins passou por clubes amadores da cidade, envergando as camisas de vários times, entre eles a Sociedade Esportiva Itapirense. Era um tempo de glórias e craques como Peretta, Lero, Cristovinho, Carlucha e tantos outros.
Amaury foi embora desse mundo ainda novo, aos 57 anos, em 03 de setembro de 93, mas deixou um legado de bons serviços prestados à cidade e sua gente. Pessoas como Amaury Martins partem desse mundo, mas deixam suas marcas indeléveis no coração daqueles que as conheceram e nunca se esqueceram.

Um grande homem, um grande prefeito

Quando se é criança as atitudes dos adultos ficam gravadas para sempre em nossa memória. Se são atitudes de pessoas dignas, essas marcas permanecem por todo o sempre, transformando o responsável em um ícone a ser lembrado pelo resto da vida.
Conheci Hélio Pegorari nos meus tenros tempos de criança. Por estudar com o Sávio, o segundo de seus quatro filhos, estava sempre em contato com aquela família que morava nas imediações do Parque Juca Mulato, primeiro na José Pereira e depois na Rui Barbosa, curiosamente ao lado da residência de seu antecessor na Prefeitura, Benedito Alves de Lima.
Vez ou outra era na casa dos Pegorari que a gente estudava ou fazia a lição de casa passada pelas professoras do curso primário. E, sempre que via aquele senhor de semblante calmo, que transmitia segurança, me sentia feliz por conhecer uma pessoa como ele.
Empreendedor, tocava ao lado dos irmãos a fábrica de implementos agrícolas fundada pelo pai, Albano, no início do século 20. E seu empreendedorismo acabou fazendo com que fosse escolhido, em 68, para ser candidato a prefeito da cidade.
E foi, justamente nas eleições de 68 que vivi intensamente minha primeira eleição, apesar de ser um menino de 11 anos. A disputa pela cadeira de prefeito tinha nomes respeitáveis como Hélio Pegorari, César Bianchi e Alcides de Oliveira, pela Arena, e Pedro Boretti, pelo MDB, que era a oposição.
Claro que eu não era eleitor ainda, afinal tinha apenas 11 anos. Mas pela proximidade da casa de meus avós paternos com a residência dos Bianchi, na João Pereira, meu candidato na disputa passou a ser o César Bianchi.
Acompanhei a apuração dos votos através da Rádio Clube e marcando atentamente cada urna em uma folha de papel de embrulho. Tudo muito bem feito, com a supervisão de minha mãe, que também gostava de acompanhar a apuração.
César Bianchi não ganhou. Ficou em terceiro, atrás do Alcides de Oliveira, que foi o segundo.
O eleito foi Hélio Pegorari, que foi um grande prefeito, governando a cidade de 69 a 72 e deixando um legado de importantes obras, a maioria debaixo da terra, por serem de infraestrutura, vitais para toda a população.
Hélio Pegorari foi embora desse mundo em julho de 2009, mas deixou por aqui um legado de boas ações. Foi casado com Mary Silva Pegorari, a professora Mey, outra pessoa de alma bondosa, e do casamento vieram os filhos Hélio, Domingos Sávio, Odair e Guilherme.
Hélio Pegorari não faz parte apenas da galeria de prefeitos que Itapira já teve, mas daquela que é formada por homens que deram sua contribuição para o progresso da cidade e o bem estar de seu povo. Ele ocupa lugar de destaque na gama de pessoas que deixam marcas de integridade e competência.

Um certo dia 5 de julho


Parece que foi ontem, mas já se passaram 36 anos. Conhecido como a Tragédia do Sarriá, o dia 5 de julho de 1982 é sempre lembrado pelos brasileiros, principalmente em ano de Copa.
Naquela época o apelo popular de uma Copa do Mundo era muito maior, mais contagiante. Talvez porque não houvesse tanta exposição dos jogadores na mídia e redes sociais.
Era um tempo em que os jogadores usavam chuteiras pretas, não tinham cabelos que mudavam o penteado a cada jogo e não exibiam tatuagens pelo corpo inteiro. Resumindo, era o futebol em sua verdadeira essência, sem frescura.
Naquela época eu trabalhava na agência de Águas de Lindóia da Caixa Federal e lembro bem daquele dia 5 de julho. Um dia que nunca mais esquecerei por tudo que aconteceu antes, durante e depois do jogo.
Como não daria tempo de voltar para casa a tempo de ver o jogo entre Brasil e Itália, que valeria uma vaga na semifinal do Mundial disputado na Espanha, um aparelho de TV foi instalado na agência para que pudéssemos assistir. Estava tudo combinado, era só comemorar mais uma vitória brasileira.
Mas o dia já começou conspirando contra e nada deu certo naquele 5 de julho. Como o dia 2 é feriado na cidade e caiu na sexta-feira, o movimento na agência triplicou na segunda-feira.
Eu estava trabalhando como caixa e só consegui sentar a frente da TV já no meio do segundo tempo, quando a Itália vencia por 2 a 1, pouco antes de Falcão empatar em um chute de fora da área.
Mas, não deu tempo nem de comemorar e seis minutos depois Paolo Rossi fez o seu terceiro gol e colocou a Itália outra vez na frente. Um empate bastaria à seleção brasileira, mas o goleiro Dino Zoff acabou de vez com o sonho ao defender uma cabeçada em cima da linha.
Mesmo tendo um time considerado mágico, com craques como Falcão, Sócrates, Zico, Cerezzo, Éder, Leandro, Júnior e Oscar, o time brasileiro amargou uma derrota por 3 a 2 e não foi adiante. A Itália seguiu em frente e acabou ficando com o título naquele ano.
Mas, apesar da tristeza pela derrota, a vida tinha que seguir em frente. Quando já estávamos preparando o fechamento da agência aconteceu um fato que serviu para nos dar alguns momentos de descontração.
O prédio que abrigava a agência estava em construção e os andares superiores em fase de acabamento. Depois do jogo os funcionários da obra já estavam no batente novamente, apesar da derrota, e deviam estar tão ou mais chateados que nós, pois tinham que voltar ao trabalho.
Um grupo de jovens que passava pelo local, talvez para provocar as pessoas, começou a gritar Itália e aí veio o troco lá do céu, ou melhor, de cima do prédio. Quando passavam pela calçada, um dos trabalhadores da obra, enfurecido com a provocação, não pensou duas vezes e despejou a lata de reboque na cabeça dos provocadores.
Aquilo serviu para quebrar por uns instantes a tristeza pela derrota, tal a forma inesperada como tudo ocorreu. Sempre que me lembrar daquela amarga derrota, com certeza, aquela cena hilária irá voltar à memória.


Um apaixonado pelo futebol


Quando nasceu na vizinha cidade mineira de Jacutinga, em 8 de dezembro de 1951, o menino Aparecido Roberto Vieira nem imaginava que cresceria, formaria família e fincaria suas raízes em outra localidade, que embora próxima de sua cidade natal, pertencesse ao estado de São Paulo. Quando nasceu, o menino Aparecido Roberto nem imaginava que, ao se mudar para Itapira, passaria a ser conhecido como Mineiro por causa de suas raízes.
Naquele dia de dezembro, consagrado a Nossa Senhora da Imaculada Conceição, começaria a vida desse menino que sempre teve uma grande paixão na vida: a bola de futebol. Desde pequeno já dava seus chutes e sonhava em, um dia, ser jogador de futebol.
Torcedor do São Paulo, aquele menino sabia, de cor e salteado, a escalação das grandes formações do seu querido Tricolor. E, porque não, dos outros times também.
Sua carreira no futebol começou como a de muitos garotos daquela época. Foi no Clube Atlético Itapirense, comandado pelo Benedito Valério, o Jaú, que iniciou seus passos no esporte.
De lá para o time profissional do XI de Agosto foi um pulo, assim como para as fileiras do Itapira Atlético Clube, do Clube Atlético Guaçuano, do Barretos e dos mogimirianos Peixe e Clube Atlético Mogiano, além de integrar o elenco campeão paulista da Terceira Divisão pela Sociedade Esportiva Itapirense em 1969, aos 17 anos.
No futebol amador da cidade Mineiro desfilou sua categoria, seus lançamentos e chutes certeiros e potentes defendendo Calunga, Olaria, Duque de Caxias, Cubatão, Santa Fé e Flamenguinho, entre outros. Mas foi no Itapira Atlético Clube que deixou sua marca para a história com um gol antológico, que classificaria o time grená para a fase seguinte do Campeonato Paulista.
Corria o ano de 1979, Mineiro era o ponta-esquerda do time e, antes do jogo, prometera ao pequeno filho Fabrício, seu primogênito, que faria um gol para ele. Jogo duro contra o Jabaquara no Chico Vieira e Mineiro foi à linha de fundo para o cruzamento, mas acabou decidindo pelo chute, mesmo sem ângulo. A bola, caprichosamente, bateu na linha da pequena área, ganhou efeito e enganou o goleiro adversário. Estava paga a promessa ao filho e garantida a classificação itapirense.
Esse tempo já vai longe. Hoje, Mineiro já não dá seus chutes na velha paixão por esse mundo. No dia 20 maio de 2017 foi escalado para jogar no time lá de cima e deve estar fazendo seus gols e lançamentos no andar superior.
Levou com ele sua simplicidade, o amor pelo futebol e seu imenso conhecimento sobre esse esporte que move grande parte dos brasileiros. Quem conversava com ele sabia que estava diante de um apaixonado por futebol.

Última curva


Há algum tempo já estou com o nariz virado para a reta final. Como se diz em uma corrida, já contornei a última curva e apontei na reta para concluir meu percurso.
Se olhar para trás sei que vou ver que já caminhei muito mais do que tenho para caminhar nessa estrada chamada vida. Daqui para frente é levar o carro até o final e aproveitar tudo que ainda tenho para viver.
Embora pareça um sentimento de conformismo, na realidade é apenas uma constatação de que a vida, a cada dia que passa galopa cada vez mais rápido. Se não tivermos fôlego para acompanhar acabamos ficando para trás.
Mas, o que o futuro nos oferece? Sempre ouvi dizer que quando se dobra a última curva já não há muito que se esperar, a não ser o momento de embarcar rumo a última viagem.
Ledo engano! A vida nos reserva, a cada etapa, um turbilhão de emoções e momentos intensos, mas com a dose que nosso esqueleto já cansado pode suportar.
Basta não ficarmos sentados esperando a morte chegar. Temos mais é que apertar o pedal da direita, olhar atentamente para a paisagem da janela lateral e ver que há muito ainda para se viver, nem que seja por breves instantes.
Da vida nada se leva. Quem um dia disse isso não sabe o que é viver ou aproveitar o que a vida tem de bom.
Daqui tudo se leva, menos os bens materiais. Daqui levamos as emoções, os bons momentos, os sentimentos de amizade e tudo o que podemos realizar ao lado de pessoas queridas e em prol da felicidade daqueles que necessitam.
O nariz pode estar apontado para a linha de chegada, o corpo cansado pode estar a poucos metros de alcançar a bandeirada, mas no âmago de nossa engrenagem tudo deve estar sempre em perfeito estado. O combustível da vida pode estar quase na reserva, mas o óleo que engraxa nossos sentimentos deve ser sempre renovado para que tudo funcione de forma plena.
Só assim todos os momentos serão vividos com intensidade e nossa corrida será coroada de pleno êxito. Aí sim o carro poderá ir para o box e ser recolhido para o descanso eterno.

Três gerações, três emoções

No futebol, principalmente, costumamos dizer que certas formações nunca são esquecidas. São aqueles times que marcam época e seja qual for o tempo são sempre lembradas.
Exemplos disso são a seleção de 70 com Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Rivelino; Jairzinho, Tostão e Pelé. Ou o Palmeiras do início da década de 70 com Leão; Eurico, Luis Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César e Nei.
E o que dizer da linha famosa do Santos com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe; ou a seleção de 58, aquela da final contra a Suécia, com Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. Grandes times, grandes formações, muitas lembranças.
Eu posso afirmar que vivi muitas emoções com formações que nunca mais saíram da memória. Times que ficaram para sempre na lembrança por tudo que representaram.
São três épocas diferentes, três gerações, muitas emoções. E as formações nunca mais serão esquecidas, pelo menos por mim, que vivi tudo isso.
Em 70, quando eu tinha 13 anos, a seleção do ginásio fez história ao chegar às finais do Estado. O técnico era o Clóvis Avancini, o Ná, e o time principal tinha Coradi; Rudyard, Dito Mário, Tato e Sávio; Luís Paulo, Ike e Tonini; Tonelada, Plininho e Emilinho.
Passados 15 anos e um novo time fez história novamente, deixando na memória dos torcedores a escalação que todos sabiam de cor e salteado. Em 85 o Itapira Atlético Clube cravou uma das melhores campanhas do Campeonato Paulista da Terceira Divisão comandado pelo técnico Pedro Paulo da Silva, o Nã.
Mesclando atletas da cidade com alguns importados de cidades vizinhas, tinha um time de respeito, formado por Camilo; Chicão, Toninho Bellini, Gersinho e Ditinho; Cláudio José, Pedro Paulo e Fernando; Ronaldo, Lilico e Chiquinho. Outros nomes também fizeram parte da campanha e também deixaram seus nomes gravados na história como Fernandinho, Dinhão, Tatão, Flávio Boretti, Fran e Alemão.
No ano seguinte, um novo time fez sua parte e cravou sua formação na memória do torcedor. Era o time júnior do Itapira Atlético Clube, que ficou entre os melhores do estado.
O técnico era o José Antonio Sartorato, o Bi, escudado pelo auxiliar Devaldo Cescon, o Pasté. A formação principal é guardada até hoje na memória de quem acompanhou sua participação no campeonato e tinha Flávio; Arouca, Márcio, João Olo e Zé Antonio; Pedrinho Zázera, Diógenes e Claudinho; Tiãozinho, Márcio Belli e Chocolate.
São times distintos, épocas distintas, mas cada um a seu tempo deixou sua formação intacta na memória do torcedor. Eu vivi o time de 70 porque jogava no time de baixo; o de 85 cobri todos os jogos como repórter, o mesmo acontecendo com o Júnior de 86.
Memórias assim valem a pena guardar. Um dia todos irão se lembrar e a recordação daqueles tempos será inevitável, assim como momentos únicos vividos por todos que participaram.

Tipo exportação


Itapira sempre foi pródiga em produzir talentos, seja no esporte ou nas artes. Se no futebol teve em Bellini o seu expoente, na música tem uma gama de artistas que deram sua contribuição para o cenário nacional.
No futebol o povo itapirense se orgulha de um certo capitão Bellini, que em 58 ergueu a taça Jules Rimet e tornou-se o primeiro brasileiro a ter essa primazia. Bellini até hoje é venerado no Brasil e no mundo por seu caráter, seu carisma e seus feitos.
Depois dele outras estrelas brilharam no cenário esportivo, com menos intensidade que o grande capitão, mas com mérito e talento. Entre essas estrelas estão Cristovinho, que foi destaque no final dos anos 60 com a camisa do Formiga no Campeonato Mineiro, fazendo gol diante do poderoso Cruzeiro em pleno Mineirão.
Também deixaram suas marcas o veloz ponta-direita Silvio Garlizoni, para nós simplesmente Dé, vice-campeão brasileiro pelo Palmeiras em 78, e Pedro Paulo, que nasceu Paulo Pedro, e teve seu destaque com a camisa da Ponte Preta no início dos anos 70, fazendo gol contra o Santos de um certo Pelé.
Fora do futebol, mas ainda dentro do âmbito esportivo, nomes como Valdir Barbanti, Paulo Roberto de Oliveira, Renato Bortolocci Ferreira e Antonio Rizola Neto ganham destaque, cada um em sua especialidade. Barbanti como doutor do esporte, Paulinho Teté também com grande trabalho em benefício do atletismo nacional, Bortolocci por alcançar feitos no atletismo e Rizola Neto por sua atuação no voleibol, por anos servindo a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) e a seleção colombiana, além de inúmeros clubes nacionais.
Na área da música o que falar de um Henrique Felipe da Costa, o Henricão, cantor e compositor de Está Chegando a Hora, entre outras grandes composições e que também teve passagem pelo cinema nas décadas de 40 e 50. Ou o maestro Cipó, nascido Orlando Silva de Oliveira Costa, compositor, saxofonista-tenor e integrante de grandes orquestras.
Maria Odette Bianchi é outra itapirense de destaque no cenário da música nacional. Desde pequena mostrou talento e participou de festivais da canção nos anos 60, no auge dos programas televisivos do gênero, vencedora inclusive do prêmio Roquete Pinto no início daquela década.
Mas, um outro nome itapirense, com destaque no cenário musical, é José Eduardo Gramani. Violinista, rabequista, compositor, professor e pesquisador musical, participou de grupos de câmara, dirigiu peças musicais e em muito contribuiu para o universo da música.
São itapirenses, alguns que muita gente nem sabe que um dia se orgulhou de ser itapirense, que fez questão de era natural de uma cidade do interior paulista chamada Itapira.

Somos quem podemos ser


Eu sou assim e sempre vou ser. Somos quem podemos ser e ninguém é mais do que ninguém.
Sempre penso nisso. Será que eu seria diferente se tivesse escolhido outro caminho, se tivesse optado por continuar como um bancário, ou fiz o certo ao escolher dar asas à minha imaginação e seguir a vida que escolhi entre letras e microfones?
Tenho ciência que hoje eu seria um senhor aposentado, com um bom salário sendo depositado na minha conta, podendo aproveitar a vida, mas será que eu seria feliz? Será que estaria satisfeito?
Com certeza, não! Somos quem podemos ser, como diz a letra de uma música da banda Engenheiros do Hawaii, que tem exatamente esse nome. E é assim mesmo, ninguém escolhe o caminho, o caminho nos escolhe.
Tenho ciência que hoje minha vida seria muito mais tranquila. Mas será que seria eu uma pessoa feliz?
Certo dia, passando em frente a casa de uma ex-namorada, de família que conseguiu ficar bem de vida graças ao trabalho, comentei com minha irmã Claudia que eu poderia ter ficado bem de vida se tivesse casado com ela, mas que não teria o meu maior tesouro, minha pequena Mariane, que estava no banco de trás do carro. Por isso acredito que o destino de cada um é construído de acordo com o que ele próprio escolhe para nosso rumo.
Ser feliz não significa ter uma vida tranquila se não formos felizes enquanto vivemos. Ser feliz é ser quem podemos ser, da forma que o destino escreveu.
A felicidade está na forma que vivemos, ou que o destino nos deu. Ser feliz é ser assim, do jeito que somos, cada um a sua maneira, cada um com aquilo que o destino lhe reservou.
‘Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão, um dia me disseram que os ventos às vezes erram a direção’. Sábias palavras, que sem querer casam com tudo aquilo que o destino nos reserva.

Sou de um tempo...


Quando eu ainda era um menino, pra não deixar de citar, um menino magricela de orelhas grandes, ouvia os mais velhos dizerem que ‘isso é do tempo que amarrava cachorro com linguiça’, quando se referiam a alguma coisa antiga. Cresci ouvindo isso e nunca vi nenhum cachorro amarrado com linguiça.
Naquele tempo tudo era mais puro, mas sem compromisso, sem a correria dos dias de hoje. Eu sou daquele tempo e sou feliz por isso.
Lembro que as pessoas usavam frases e jargões que hoje estão em desuso. Dona Carmela, minha avó materna por exemplo, como boa italiana, costumava soltar um ‘Dio Cristo Benedetto” para expressar seu espanto ou sua fúria contra alguma coisa errada.
Já minha mãe, quando estava sem dinheiro para alguma emergência, sempre dizia ‘estou mais lisa que bunda de santo’. Era assim que a gente ficava sabendo que não daria para comprar o sorvete do sorveteiro que apertava sua buzina insistentemente na rua.
Meu pai, calejado com diversas situações, sempre falava que ‘parente é dinheiro no bolso’. Sei lá se era pra dizer que parente só dava gasto ou outra coisa que nunca descobri.
E as frases de efeito como ‘melhor ouvir isso que ser surdo’ ou ‘vai catar coquinho’, ou ainda ‘ vai ver se estou na esquina’. Uma mais esquisita que a outra.
Hoje não ouço mais essas frases de efeito. Hoje, quando alguém quer afirmar que o outro não bate bem da cabeça, diz ‘é mais louco que o Batman’. Mas, nunca ouvi dizer que o Batman era louco.
O tempo passou, hoje o mais velho sou eu, as frases mudaram e tudo ficou diferente. Não se usa mais a famosa frase 'amarrar cachorro com linguiça’.
Os tempos mudaram, os hábitos mudaram, os seres humanos mudaram. Só não sei se alguém amarrou o cachorro com linguiça, foi ver se eu estava na esquina catando coquinho e ficou mais liso que bunda de santo.


Será esse o meu mundo?


Esse mundo globalizado me assusta cada vez mais. Através dele e seus mecanismos, seres humanos se transformam, se acham no direito de julgar esse ou aquele, mesmo sem conhecer ao menos um pouco do seu semelhante.
As redes sociais são prova viva disso tudo. Se por um lado nos dão a oportunidade de comunicação com amigos e parentes, mesmo distantes milhares de quilômetros, por outro nos colocam a mercê de pessoas que nem conhecemos ou ao menos sabemos quem são ou como pensam.
Cada vez mais me sinto como se meu mundo tivesse acabado e que estou aqui sem saber ao certo o motivo. É o mesmo que dormir em nossa cama e acordar em um lugar desconhecido.
Cresci recebendo informações e ensinamentos do comportamento correto para com as pessoas, principalmente para com os mais velhos. Sempre mantive esses ensinamentos como regra de vida.
Mas, pelo que vejo, a cada momento o mundo se transforma na velocidade da tecnologia e os seres humanos são levados na esteira, sem tempo de conhecer os bons e velhos costumes de convivência.
No meu tempo de criança as pessoas se conheciam e se respeitavam, davam valor ao convívio e as boas maneiras eram uma constante. Havia gentileza, respeito e era muito mais gostoso de se viver.
Hoje, como ouvi dia desses, está cada vez mais difícil viver. As pessoas não carregam dentro de si os valores principais para que haja espaço onde seja possível praticar os direitos de ir e vir.
Vejo pessoas invadindo a privacidade de outras, sem que ao menos conheça, para criticar, apedrejar e despejar sua ira contra quem quer que seja. E as redes sociais são os mecanismos mais utilizados para tal.
Será que esse mundo tem jeito? Será que esse é realmente o mundo onde nasci, cresci e vivi?
Tudo isso me faz pensar seriamente em me distanciar das redes sociais, de me desligar totalmente de tanta incoerência ou maldade. Só não fiz isso ainda porque tenho ideia do quanto meu acervo de fotos mantido através da rede social é procurado por um número muito grande de alunos quando engajados em pesquisas escolares.
Somente esse fato e a chance de poder me comunicar com quem está distante me fazem manter tudo isso. Mas vai chegar o dia em que nada disso irá servir para coisa alguma e aí será a hora de voltar para o meu mundo real, aquele onde nasci, cresci e vivi.

Ser pai nos faz ser gente


Crescemos e vivemos de uma forma que não compreendemos a verdadeira dimensão da palavra gente. Acredito que só se aprende a ser gente quando viramos pai ou mãe.
Fui pai aos 51 anos e não me arrependo disso. Foi só aí que aprendi o verdadeiro significado da palavra gente.
Ao ser pai aprendi que é ali que começa nossa verdadeira existência. Não há como negar que viver sem ter um filho (no meu caso, filha), plantar uma árvore e escrever um livro não é viver, é sobreviver.
Um certo dia, não muito longe, sentei a frente de um velho amigo, daqueles de infância, que teve a mesma educação que eu tive e que lembra de tudo que lembro como se fosse hoje. Ali falamos sobre tudo que tivemos na infância e tudo que pudemos passar para nossos filhos.
Sérgio Venturini, amigo de infância, centroavante do Paulistinha, companheiro de escola e de tantas aventuras, concordou comigo que só somos gente de verdade quando nos vemos como pai. Chegamos a essa conclusão depois de refletir sobre tudo que tivemos na infância e que podemos passar para nossos filhos.
Ali, sentado na sua frente em seu escritório, bem em frente a casa onde nasci e também a casa onde ele nasceu, que pudemos constatar que a vida passa, os filhos crescem e é por eles que vivemos e lutamos. Que bom que ainda encontro amigos de infância que corroboram com meu pensamento.
Já passamos da casa dos 60, já vivemos tanto e parece que nada mudou. A única certeza é que tudo que aprendemos lá na infância permanece como ensinamento que preservamos de forma intacta em nosso coração.
Seus filhos já estão criados, encaminhados e sua missão está quase cumprida. A minha ainda tem uma longa estrada pela frente, mas sigo seu exemplo e sei que também vou alcançar meu objetivo.
Quem sabe, um dia, a gente se encontre novamente para comemorar a vida e tudo que ela nos deu. Desde os  tempos de infância, quando éramos simplesmente centroavante e meia-esquerda de um time chamado Paulistinha, que vestia camisa vermelha tingida na oficina do Luciano Venturini e que para nós era um orgulho vestir.

São tantas emoções


Parafraseando o rei Roberto Carlos, já vivi muitas emoções na profissão que escolhi. O Jornalismo meu deu a chance de viver muitos momentos, conhecer pessoas e lugares.
A base do meu trabalho veio da rádio e de jornais locais. Foi aqui no âmbito local que dei meus primeiros passos nessa área que deslumbra e abre horizontes.
Mais tarde pude galgar outros patamares, ocupar posições estratégicas em determinados órgãos de comunicação e, dessa forma, vivenciar experiências ímpares. Tudo isso me fez crescer profissionalmente e também como pessoa.
No jornalismo esportivo conheci muitos ídolos e também profissionais que nem por sonho esperava conhecer. Poder conversar com pessoas como o ex-jogador Tostão; o jornalista Orlando Duarte, que fez carreira na TV Cultura; Chico Pinheiro e Mauro Naves, da TV Globo; os narradores Fiori Gigliotti, da Bandeirantes, e José Carlos Araújo, da Rádio Globo do Rio, entre tantos, foi algo que marcou minha carreira.
O futebol me levou a lugares que nem sonhava em conhecer como Belo Horizonte-MG ou Cali, na Colômbia. Me fez frequentar templos sagrados como a Vila Belmiro, conhecida como a Vila Famosa, por ter abrigado grandes astros, entre eles o maior de todos – Pelé.
Mas, nada se compara com a emoção de falar ao vivo para o Brasil inteiro através de uma rede chamada CBN (Central Brasileira de Notícias), afiliada ao Sistema Globo de Rádio, experiência que me deu uma enorme bagagem profissional. Foi o ponto de crescimento que faltava, pois o aprendizado em uma rede assim é inigualável.
Lembro bem de passagens como as eleições de 2002, quando a cada meia hora três afiliadas da CBN no Brasil inteiro entravam com repórteres ao vivo dando um panorama da votação. Eu era o encarregado dessa tarefa pela CBN Mogi Mirim e foi uma emoção muito grande poder participar desse projeto.
Na Copa de 2002 um fato incrível aconteceu quando eu estava apresentando o Jornal da CBN Mogi. Como a Copa era na Ásia, o jogo das quartas-de-final entre Itália e Coréia do Sul estava rolando solto durante o jornal que ia ao ar das 9h30 ao meio-dia.
O som da rede estava no monitor, pois se saísse gol ficaríamos sabendo e informaríamos os ouvintes. De repente, no som do monitor surgiu a tarantela, música que nos remete à Velha Bota.
Imediatamente, no ar, indaguei: será que foi gol da Itália? O Brother, apelido do Daniel Silva, que era técnico de som, colocou a rede no ar e, como se tivesse me ouvido, o Milton Young, que comandava o Jornal da CBN São Paulo respondeu: não, foi gol da Coréia.
Claro que ele não havia respondido para mim, afinal nem me conhecia, mas a coincidência foi tão grande que ficou parecendo que a resposta tinha sido para minha pergunta. Momentos assim jamais serão esquecidos.
Foram anos e anos de emoções, viagens e convivência em um mundo que só se vê pela TV ou se ouve pelo rádio. Deus me deu essa oportunidade e guardo para sempre tudo que aprendi, vivi e conheci.


Rivalidade sadia


Houve um tempo em que praticamente todas as paróquias da cidade possuíam suas comunidades de jovens. Um tempo que os jovens e os nem tão jovens assim dedicavam parte do tempo às coisas da igreja e às campanhas para auxiliar os mais carentes.
Lembro que cada uma tinha sua sigla e arrebanhava os jovens do bairro e das redondezas da paróquia. Uns, por laços de amizade com integrantes de outras comunidades, acabavam integrando o movimento de igrejas distantes de onde moravam, mas o que importava era a finalidade, a união em torno das causas religiosas e de benemerência.
No início dos anos 80, quando era forte a participação da juventude, havia a Jussabe (São Benedito), Jucrisp (Prados), Jucric (São Judas), Cojuc (Menino Jesus de Praga) e Aleluia (Santo Antonio). Eu, a convite da minha irmã Claudia, que já fazia parte da comunidade Aleluia, passei a frequentar as reuniões e as campanhas da mesma.
A participação dos jovens era tão forte e representativa que até uma competição esportiva, organizada pelo Departamento de Esportes, envolvendo as comunidades e seus integrantes. E entre as modalidades esportivas incluídas estava o futebol de campo.
A maior rivalidade era entre Aleluia e Jussabe. Por ser a comunidade com maior volume de jovens e possuir bons jogadores, era o time a ser batido e a disputa era sempre de sair faísca, embora no final a amizade prevalecesse.
Nosso time não era uma maravilha da natureza, mas possuía bons jogadores como o Paulinho Adorno, o Wande Felippe, o Van Pires de Camargo, entre outros. Mas, o que mais corria, mais brigava e dava trabalho para os adversários era um atacante chamado Juscelino Scaglia.
Ele era do tipo de jogador que não desanimava nunca, ía em todas as bolas e dava trabalho para a defesa do adversário. Não que fosse um craque, mas por sua impetuosidade, incomodava os marcadores.
Mais tarde, como funcionário da Caixa Federal, joguei novamente com o Juscelino no time da agência local. Nosso time era enxertado por alguns convidados e participava de torneios como o da AABB (Associação Atlética Banco do Brasil).
No gol jogava o Pedro Godoy Bueno, que na época era subgerente; a defesa tinha o Fernando Massarente, que ocupava a gerência e organizava tudo. Eu jogava no ataque juntamente com o Juscelino.
Lembro que em 84 nosso time estava na final do torneio da AABB e iria enfrentar o time da casa na manhã de um domingo. Mas a fatalidade não permitiu que o jogo fosse disputado.
Nosso intrépido atacante, ao subir o viaduto Tiradentes com sua moto para ir à missa, foi fechado por um veículo e acabou sofrendo um grave acidente. O jogo nunca foi realizado e nosso time nunca mais voltou a entrar em campo com seu uniforme preto e verde abacate, parecido com o do América Mineiro.
Juscelino foi embora um tempo depois, mas seu jeito nervoso de ser marcou nossas vidas. Deixou bons motivos para guardarmos ele para sempre na memória e no coração e foi dar trabalho para as defesas adversárias lá no andar de cima.


Pula, Futrica


Acredito que todo mundo, pelo menos uma vez na vida, já foi ao circo. Desde os mais modestos até aqueles com fama internacional, cada um com suas atrações, palhaços, trapezistas, acrobatas e a magia que só o circo pode proporcionar.
Na minha infância o circo da moda tinha nome e sobrenome: Irmãos Almeida. Um circo feito por uma família e que nos dava o prazer do encantamento e a alegria de poder ver artistas interpretando.
Foram várias as passagens do circo na cidade. Por ser enraizado em Campinas, o circo Irmãos Almeida corria o interior paulista com mais assiduidade do que fazia em outros estados e vez ou outra acabava aportando por aqui.
Eu, como toda criança daquela época, adorava ir ao circo para ver os palhaços, o Fredô – interpretado pelo Alfredo Almeida, irmão do mentor do circo, o Walter de Almeida. Fredô era um palhaço bastante engraçado que puxava uma cadelinha feita de pano cujo nome era Futrica e contracenava com Nhá Tica, personagem encarnada por sua irmã Abegair.
A cada aparição do Fredô e sua Futrica era certeza de boas risadas. Sua espontaneidade e pureza daquela época contrastam com o que vemos hoje nos espetáculos circenses, em que os palhaços, em sua maioria, utilizam muita a linguagem chula que muitas vezes é nociva às crianças.
Mas tinha também as atrações musicais, os cantores e cantoras convidados que sempre engrandeciam o espetáculo. Era só anunciar e o circo lotava para ver as atrações de perto.
O ponto culminante de cada sessão era a peça teatral. Os artistas do circo se vestiam a caráter para interpretar grandes sucessos teatrais como O Cangaceiro, Marcelino Pão e Vinho e muitas outras, que arrancavam lágrimas da plateia.
Os integrantes do circo Irmãos Almeida eram tão famosos por essas bandas que quando o circo chegava tornavam-se as atrações principais nos programas da Rádio Clube. Eram tratados como verdadeiros ídolos pela população.
Hoje tudo isso acabou, o circo Irmãos Almeida não roda mais pelas cidades levando alegria para crianças e adultos. Esse encanto acabou, mas aqueles momentos ficaram gravados na memória de quem viveu aquele tempo simples e puro.

Praça agonizante


Quem conheceu a praça Bernardino de Campos quando ela realmente era o cartão postal da cidade pode se considerar um privilegiado. Era um tempo em que a principal praça da cidade, com seus atrativos e cheia de vida em seu entorno, dividia com o Parque Juca Mulato a honra de representar a beleza da cidade um dia chamada de A Linda.
Conheci a antiga praça antes da revitalização promovida no final dos anos 60 pela mãos do engenheiro Renato Righetto. Tanto a antiga como a nova sempre foram belas e atraíam pessoas de todas as idades.
Em seu entorno existiam bares, restaurantes, cinemas, clubes, enfim, havia vida e movimento. Com a construção da nova Matriz, iniciada no final dos anos 50 e concluída em 1967, a praça também ganhou novos ares com a construção da fonte luminosa em sua parte baixa, fator que se constituiu em mais um atrativo para a população.
Mas, aos poucos, a beleza foi se transformando em tristeza. Os estabelecimentos que antes faziam a praça ter vida foram sendo trocados por bancos, farmácias e lojas que encerram suas atividades com o cair da tarde, deixando a praça entregue à solidão e ocupada por flanelinhas, pedintes e usuários de drogas.
A fonte, o coreto, a vida da praça principal da cidade não existem mais. Os grandes eventos que faziam daquele logradouro o ponto de encontro das pessoas, como os desfiles cívicos e o Carnaval, já não fazem da praça seu ponto culminante e nem mesmo as árvores, que antes embelezavam a praça Bernardino de Campos foram substituídas por novos exemplares.
Sobrou apenas a estátua do Comendador Virgolino de Oliveira, isolado em meio ao vazio que tomou conta daquela que antes era uma das mais belas praças do interior paulista. Do alto de sua imponência, ele vê, aos poucos, morrer um dos orgulhos da cidade.
Querer a velha praça de volta é pura utopia de um teimoso saudosista, é sonhar com o impossível. Mas, ver a praça ganhar vida novamente é algo perfeitamente plausível.

Pessoas que são imortalizadas por seus atos


Algumas pessoas, quando sobem para o andar de cima, não morrem, são imortalizadas pelos atos de generosidade e ações que visam sempre o bem do próximo. Acredito que Deus as chama para que continuem lá em cima a obra que aqui deixaram de forma inacabada.
Flávio Zacchi é um desses, com certeza. Sua partida precoce, aos 53 anos, deixou uma lacuna, não só no seio familiar, mas na orda de benemerência que sempre integrou.
Conheci Flávio Zacchi por diversos motivos. Pela proximidade das famílias, principalmente. A família Zacchi sempre foi próxima da família de meus avós paternos, pela pouca distância entre as casas e, principalmente, pela devoção a Santo Antônio.
Nascido no final de maio de 1939, Flávio Zacchi foi um dos fundadores da Guarda Mirim, abrindo assim a oportunidade para que muitos jovens e adolescentes pudessem trilhar o mesmo caminho que ele. Afinal, foi dessa forma que iniciou sua carreira profissional no escritório de contabilidade do qual depois se tornou um dos proprietários.
Lembro como se fosse hoje da educação com que tratava a todos, fosse qual fosse o nível social ou econômico. Talvez isso fizesse parte daquilo que chamamos de berço e algo que carregou consigo desde os tempos em que trabalhava com o pai Carlim Zacchi no restaurante defronte a igreja do santo casamenteiro.
Figura comum nas missas da Matriz de Santo Antônio, estava sempre pronto a auxiliar na celebração. E, por ter uma boa dicção, comumente era chamado a ler durante a mesma.
Essa afinidade com as coisas de Deus e a facilidade para se fazer entender o levaram a comandar, anos a fio, a Oração da Ave Maria, um momento de pura reflexão nos microfones da Rádio Clube, caminho para adentrar nas casas dos ouvintes com uma mensagem de fé. Talvez essa fosse mais uma fatia de sua missão enquanto trilhou pelos caminhos do mundo.
Em 69 foi o apresentador itapirense no então famoso Cidade contra Cidade, comandado por Sílvio Santos na extinta TV Tupi. Lá, com maestria, representou sua cidade e sua gente.
Formou sua família ao lado da esposa Antonia Ruth de Souza e com ela teve as três filhas: Flávia, Fernanda e Fabiana.
Assim como meu tio padre José Rubens Butti, que partiu desse mundo ainda jovem, aos 29 anos, Flávio Zacchi também foi chamado para integrar o grupo que preserva os bons costumes e a fé de seu povo, mesmo estando em um plano superior.
E como sempre dizia no final da Ave Maria, Flávio deve estar nesse momento nos enviando através das ondas do rádio de Deus a mensagem que deixava aos ouvintes: ‘que o Senhor nos abençoe e nos dê a luz para o dia de amanhã’. Amém!

Pequeno, mas eclético e versátil


Ele era pequeno na estatura, mas era eclético e versátil, como ele mesmo costumava falar quando elogiava alguém. E um de seus predicados era conhecer profundamente a música brasileira, principalmente aquelas canções da chamada velha guarda.
Conheci Luis Cestaro, o Gijo, quando o mesmo trabalhava como fotógrafo junto com o irmão Orlando Cestaro, o Orlando Bóia. O estúdio ficava na Campos Salles, no mesmo prédio que abrigava, em sua entrada principal na José Bonifácio, a Casas Pernambucanas. Era ali que minha mãe nos levava para tirar as fotos quando éramos crianças.
Gijo sempre teve uma paixão pela música. Fã incondicional de Francisco Alves, chegava a se emocionar quando, em seu programa semanal na Rádio Clube, atendia seus ouvintes e colocava uma das faixas dos discos de vinil do cantor conhecido como Rei da Voz.
Apesar de sempre estar presente no dia a dia da emissora, principalmente pela amizade com seu proprietário, Luiz Norberto da Fonseca, foi na década de 80 que Gijo emplacou seu programa Encontro com a Saudade nas noites de segunda-feira. Nele, a pedido das centenas de ouvintes, mandava para o ar canções de Elizete Cardoso, Ataulfo Alves, Marlene, Nelson Gonlçalves e, claro, Chico Alves, entre outros grandes nomes da era de ouro da música nacional.
Gijo Cestaro, com seu jeito extrovertido, tinha carisma e era querido por todos os que o conheciam. Da juventude trazia a grande amizade com Hideraldo Luis Bellini, o capitão da Copa de 58, e sua família.
Lembro que seu programa noturno pela Clube era aguardado pelos fãs das músicas do passado e o pedidos eram atendidos com o auxílio de seu fiel escudeiro Jorge Luis Bonaldo, que atuava na técnica de som. E, quando queria citar o amigo que dava sustentação à qualidade do programa sempre usava o bordão – ‘o eclético e versátil Jorge Luis Bonaldo’.
Naquelas horas de música de boa qualidade, Gijo costumava citar seus ouvintes. Mas, algumas vezes a memória do locutor falhava e lá estava o Jorginho, do lado de fora do aquário, como costumamos falar na gíria do rádio, para auxiliar.
Lembro de duas passagens hilárias que até hoje são relembradas quando citamos aquele pequeno grande homem. Certa vez, ao agradecer a audiência do então pastor da Igreja Presbiteriana, Osvaldo Chamorro, Gijo trocou as bolas e mandou um abraço para o pastor Charroio.
E, em outra oportunidade, ao tentar homenagear um amigo que estava na audiência, Gijo foi acometido de lapso de memória e não conseguia lembrar o nome do cidadão. Aí, com o microfone aberto, iniciou a homenagem – ‘gostaria de mandar um abraço para o meu amigo, meu grande amigo, meu inesquecível amigo...’ e o nome não vinha à memória, até que emendou – ‘como é mesmo o nome dele Jorginho?’
Gijo Cestaro já partiu para o andar de cima, mas deixou muitas recordações. Deixou boas e grandes amizades por aqui.
As noites de segunda-feira jamais foram as mesmas depois que parou com o seu Encontro com a Saudade pelas ondas da Clube. Francisco Alves, Ataulfo Alves, Marlene, Emilinha Borba, Nelson Gonçalves e tantos nomes de peso da música brasileira perderam de vez o espaço que tinham no rádio, mas devem estar agradecendo até hoje aquele pequeno, mas eclético e versátil homem que por muito tempo divulgou suas belas músicas aqui embaixo.





Pé de pobre não tem número


Dessa vida nada se leva, apenas as boas ações, as amizades sinceras e os lugares que enchem nossos olhos. Viajar nem sempre é possível, amizades sinceras são cada vez mais raras, mas as boas ações podemos praticar sem medo e sem dó.
Conheço muita gente que se sente constrangido quando alguém diz: ‘tenho algumas roupas que foram dos meus filhos e não servem mais, quer para você?’. Ao invés de entender que aquela pessoa de bom coração está querendo ajudar, se sente ofendida pela oferta.
Desde que minha pequena passou a frequentar a escola, primeiro na Vivência e depois no Anglo, raras foram as vezes que precisei comprar uniforme. Sem que eu imaginasse, muitas vezes chegava com ela na escola e lá vinha uma funcionária com uma sacola que alguém tinha deixado para mim repleta de peças de uniforme.
Muitas vezes nem descobri o autor da ação para poder agradecer, mas no meu íntimo esse agradecimento era feito, pois eu sabia que aquela pessoa era portadora de um grande coração. E nada mais justo que eu pedisse a Deus para que a recompensasse.
Quantas e quantas vezes apertaram a campainha de casa e quando desci para atender era algum amigo ou pai de algum colega de escola dela com sacola de roupas e brinquedos para minha pequena. E não foram poucas as vezes que isso ocorreu.
Quem conhece a luta que travamos para enfrentar a vida de frente sabe que todos devem ser solidários. E eu também procuro fazer a minha parte.
Lembro que quando chegou o momento de trocar de escola e, consequentemente, de uniforme, tudo que pudesse servir para outra criança levei para ser encaminhado. É assim que deve ser e é assim que sempre será.
A vida não é uma estrada feita apenas de chão liso, sem pedras ou buracos. Quando estamos pisando em terreno firme, devemos sempre nos preparar para o que vem pela frente ou para ajudar quando alguém está em dificuldade para transpor um obstáculo.
Nunca sinta vergonha de ser ajudado, nunca se sinta ofendido se alguém pensou em você e ofereceu algo que não lhe serve. Pegue com as duas mãos e agradeça com o coração, pois um dia você também vai poder oferecer algo que não lhe serve para alguém que esteja necessitando, afinal, pé de pobre não tem número.

A quarta série ginasial

Faz tempo que isso não ocorre, mas um tempo atrás eu vivia sonhando que estava nas dependências da escola onde cursei o ginasial e também ...