Lembrar de um tempo que ficou na memória e recordar das
delícias que as vitrines do balcão do Brasília Bar ostentavam é sentir
novamente o sabor daqueles doces que as irmãs Dini produziam. Aquele balcão do
lado direito de quem entrava no recinto, próximo da salinha onde ficavam as
mesas, era a perdição para crianças, jovens e adultos.
Quando eu era um menino magricela de orelhas grandes, no
início dos anos 60, as irmãs Dini ainda eram as proprietárias do local. E,
quando meus pais decidiam aproveitar a brisa noturna para sentar na avenida dos
Biris, no Parque Juca Mulato, era um prenúncio de que o Brasília Bar poderia
estar incluído no roteiro antes de voltarmos para casa.
E, quando isso acontecia, era difícil escolher qual doce
saborear. Era um mais gostoso que o outro: pudins, carequinhas, brigadeiros,
olhos de sogra, pães de ló de mandioca, bombas, e tantas outras opções que
enchiam os olhos e atiçavam as lombrigas.
Muitas vezes, para nossa alegria, meu pai saía de casa e
voltava com um embrulho em papel rosa. Já sabíamos que ali havia um prato
recheado com doces das ‘véia’ Dini, como dizia minha mãe.
Nas sextas-feiras Santas, depois da Procissão do Enterro,
o lanche de aliche do Brasília Bar era o escolhido para nosso jantar. Enquanto
íamos para casa com minha mãe, meu pai dava um pulo até a José Bonifácio para
buscar.
Mais tarde, quando já era um adolescente, passei a
trabalhar, primeiro como office-boy e mais tarde como escriturário, no
Escritório Furiatti. Inicialmente ele ficava na Bento da Rocha, no porão da
residência do Severino Sartori e, posteriormente, na Campos Salles.
Muitas vezes, aos sábados, para adiantar o serviço,
principalmente quando era o período de fazer o Imposto de Renda dos clientes, o
Cláudio Furiatti e eu íamos trabalhar e, quando chegava a hora do lanche, era o
churrasquinho saboroso do Brasília Bar o nosso preferido. Nessa época o
estabelecimento já pertencia ao Manoel Marques, o Zito do Brasília, como ficou
conhecido.
Mas, como tudo na vida, seja bom ou ruim, tem um fim, o
Brasília Bar ficou na memória de quem conheceu e frequentou. Levou com ele a
tradição dos doces inigualáveis das irmãs Dini e o sabor do churrasco que só lá
era encontrado.
Com toda certeza, essas lembranças nos trazem lágrimas
aos olhos e enchem a boca de água. São sentimentos diferentes, mas que no fim
das contas traduzem uma única constatação, a saudade daquele tempo bom que
ficou lá atrás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário