sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Fazenda São Miguel


Alguns lugares marcam nossa vida e nunca mais saem de nossa memória. São aqueles lugares em que passamos momentos inesquecíveis e que gostaríamos de poder rever.
E um desses lugares é a Fazenda São Miguel, no distrito de Martim Francisco, em Mogi Mirim, de propriedade do Brás Cavenaghi. De lá guardo recordações agradáveis de minha infância e que nunca serão esquecidas.
Quando eu ainda tinha seis ou sete anos, nosso passeio de final de semana, quando dava, era ir para a fazenda onde meu tio Osório Severino era o administrador. Casado com tia Jacira, irmã da minha mãe, como bom mineiro, ele sempre tinha uma boa história para contar.
O passeio começava logo nas primeiras horas da manhã de sábado. Antes de clarear o dia já estávamos na estação para esperar o trem que nos levaria até Mogi Mirim e, de lá, em outra composição, para Martim Francisco.
Minha avó Carmela, que sempre ia conosco, chegava bem antes na estação. Com medo de perder o trem, que saía as seis, quando era quatro e meia ela já descia a José Bonifácio em desabalada carreira.
Da estação de Martim até a fazenda era outro trajeto e este era feito na carrocinha guiada pelo primo Beto, filho mais velha da tia Jacira. Mais tarde, quando já dirigia, ele ia com o fusca verde claro do tio Osório e levava a tropa para a fazenda.
Como toda fazenda, a São Miguel possuía belos lugares. A casa da fazenda, de construção antiga, mantinha os traços originais e só era ocupada quando os proprietários estavam presentes.
Meus tios e os filhos José Roberto e Janete moravam na casa destinada ao administrador. Apesar de simples, possuía três quartos, uma sala ampla, um escritório e a cozinha, em um plano mais baixo, que tinha uma porta que dava acesso ao terreiro e ao banheiro.
De frente para a casa existia um pomar com todo tipo de frutas. Desde laranjas de várias espécies até castanha portuguesa e muitas até mesmo desconhecidas para nós, como uva japonesa e uma fruta que chamávamos de pele de moça, mas que mais tarde descobrimos que o verdadeiro nome era lichia.
Do lado direito da casa havia o paiol, um quarto para guardar as selas dos cavalos e outro onde dormia um dos empregados da fazenda. Lembro que bem de frente para a casa existia uma árvore frondosa e embaixo dela um banco de madeira.
Lá atrás, depois do terreiro, havia um galinheiro e um piquete com os porcos. Descendo um pouco mais havia o curral e era lá que íamos cedinho no domingo tomar leite tirado na hora.
Ir para a fazenda era uma festa, um passeio que esperávamos com ansiedade. E quando chegava a hora de voltar de trem eu já ficava contando os dias para retornar.
Guardo na memória esses bons momentos passados naquele lugar e lembro cada espaço da fazenda, os sons noturnos, o despertar do galo, o sabor do leite e das frutas tiradas do pé. Cada passeio a cavalo, cada detalhe da estrada, que passava por baixo dos trilhos do trem e cortava um pequeno riacho.
A vida nos impõe obstáculos, coloca diante de nós em determinados momentos problemas que acreditamos serem intransponíveis e nós passamos por cima de tudo. E isso só é possível graças à força que momentos como esses nos oferecem.
É assim que seguimos nesse mundo. Guardando os bons momentos como combustível para transpor os obstáculos que aparecem pela frente.



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