sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Eletrovox na cabeça


A paixão pelo futebol é algo inigualável, principalmente quando se trata de futebol brasileiro. Ela chega a tal ponto que muitas vezes se torna perigosa.
Nas décadas de 80 e 90 vivenciei muitas demonstrações dessa paixão desenfreada por um clube. Paixão que leva um ser humano a tomar atitudes muitas vezes impensadas.
Em 93 eu era o chefe da equipe de esportes da Rádio Cultura de Mogi Mirim e onde o Mogi jogasse lá estávamos nós cobrindo. A cada jogo uma cidade e em cada cidade uma emoção diferente.
Lembro bem de um jogo em Marília, em uma tarde de domingo. O Mogi tinha um bom time, era a época do Carrossel Caipira inventado pelo técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão, que tinha astros como Rivaldo, Válber, Leto e Fernando, entre outros.
Jogar em Marília não era fácil e naquele dia o Mogi sentiu isso na pele. O time da casa venceu por 2 a 0 e a torcida local saiu feliz do estádio Bento de Abreu Sampaio Vidal.
Já estávamos guardando os equipamentos para pegar o rumo de casa quando dois policiais apareceram na cabine de imprensa. Assim que chegaram nos perguntaram se estava tudo bem e que ficariam ali até que deixássemos o local.
A princípio ninguém entendeu nada e o jeito foi perguntar o motivo daquela proteção. Foi aí que eles informaram que lá, ganhando ou perdendo, a torcida costumava bater em quem tivesse alguma relação com o adversário.
Em um outro jogo, desta vez no estádio Urbano Caldeira, a famosa Vila Belmiro, em Santos, a situação ficou ainda mais complicada. Tudo graças ao descontrole de um torcedor santista.
O Santos vencia por 1 a 0 e, em poucos minutos o Mogi Mirim virou para 2 a 1. Isso fez com que, inconformado, o tal torcedor virasse para a cabine onde nossa equipe trabalhava e, de posse de um guarda-chuva, desse uma cacetada no rádio de retorno que estava em cima da bancada.
Naquele instante, sem pensar nas consequências, meu sangue italiano falou mais alto e devolvi o golpe com o microfone que tinha nas mãos. Era um Eletrovox, que pesava em torno de 500 gramas, e a pancada seria das boas, caso minha pontaria fosse boa.
Ainda bem que não acertei o golpe, caso contrário aquele infeliz estaria desacordado até hoje. Mesmo assim saí da cabine e corri atrás dele pelo saguão de imprensa do estádio, até dois seguranças intervirem e tirarem o infeliz do estádio.
De volta à cabine ainda deu tempo de comentar o restante da partida, que terminou empatada em 2 a 2. Eu vi o resto do jogo, mas aquele torcedor teve que ficar lá fora e ouvir o restante em um radinho de pilhas.

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