sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Unha encravada

A vida nos prega peças, mas também nos oferece amigos para a vida toda. Amigos que mesmo que não estejam presentes no nosso cotidiano são guardados em um lugar precioso do coração.
No final da década de 70 e início dos anos 80 ganhei uma dessas amizades que podemos chamar de eternas. Era o tempo de ouvir a boa música de Belchior, Chico Buarque, Bee Gees e tantos outros, além da Rádio Mundial do Rio de Janeiro.
Minha vida seguia seu rumo e nos finais de semana o programa era jogar futebol no campo da AABB (Associação Atlética Banco do Brasil). E, apesar do futebol começar lá pelas quatro da tarde, eu gostava de chegar antes para bater uma bolinha e fazia isso sempre em companhia de um amigo que a vida me deu.
A gente gostava de chegar mais cedo para esquentar o esqueleto antes de encarar o futebol e era no campinho ao lado da piscina que a gente costumava bater nossa bolinha. Era divertido e servia para descontrair, mas eram raras as vezes em que meu companheiro de futebol não sentia um problema que o afligia de forma intermitente.
Uma unha encravada no dedão do pé era o seu tormento e quando o chute era dado com aquela parte do pé direito a dor vinha na hora. Depois que a dor passava a gente continuava nosso bate-bola e acabava dando risada da situação.
Embora fosse um cara mais reservado, que gostava de ficar na sua, Alexandre Redondano sempre foi uma pessoa com quem eu me identifiquei. Inteligente, de bom coração, sabia dar valor às boas amizades.
No início de 78, lembro que estávamos em São Paulo para enfrentar os vestibulares e combinamos de ver o filme Nasce Uma Estrela, com Barbra Streisand e Kris Kristofferson nos papéis principais. Depois do filme eu ia voltar para o apartamento onde estava e ele tinha que aguardar até cinco da manhã para pegar o ônibus para Pouso Alegre (MG), onde prestaria vestibular para Medicina.
Não pensei duas vezes e, mesmo sabendo que teria que acordar cedo no dia seguinte, disse que lhe faria companhia até a hora dele embarcar. E assim fizemos, rodamos o centro da Capital paulista até dar a hora do seu ônibus para a cidade onde se tornaria médico e conheceria o amor de sua vida, sua esposa Stella Maris Ribeiro Redondano.
Hoje, apesar de residir em Itatiba, onde exerce a profissão que escolheu, vez ou outra conversamos e combinamos de um dia colocar o papo em dia na mesa de um bar com uma cerveja bem gelada. E, quando esse dia chegar, com certeza teremos muita coisa para relembrar e para contar sobre nossa caminhada nessa vida.
E a unha encravada, que já deve ter sido curada, será um dos assuntos principais. Amizades como essa a gente guarda com a certeza de que é uma das boas coisas que levaremos dessa vida.

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