sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

E a calça caiu

Todos nós passamos por situações bizarras e muitas vezes constrangedoras. Situações em que ficamos sem ação, indefesos ante o inesperado.
Quando isso ocorre, fatalmente o rubor da vergonha floresce na face, queremos enterrar a cabeça na terra tal qual uma avestruz. Mas não há como negar que quando o inesperado atinge outra pessoa, o riso também é inevitável por ver a situação que se formou em torno do fato.
Vivi um desses momentos hilários no final dos anos 90 e que nunca mais saiu da minha memória. A cada conversa com o amigo jornalista Paulo Rogerio Tenório aquela cena que presenciamos vem à tona e damos boas risadas.
O cenário é a rodoviária de Mogi Mirim. Nós dois trabalhávamos em Mogi e o retorno para Itapira se dava no último horário do Expresso Cristália, por volta de 23h30.
E naquela noite, que tinha tudo para ser igual a tantas outras, um fato inesperado ocorreu diante de nossos olhos. Algo tão inesperado quanto bizarro.
Na plataforma, à espera do busão que ainda tinha muita semelhança com uma melancia, embora já pertencesse ao Grupo Santa Cruz, Paulo e eu conversávamos, obviamente sobre futebol. Além de nós, apenas um grupo formado por quatro ou cinco moças, que também iriam voltar para a terrinha.
Quando o ônibus adentrou na rodoviária e estacionou na plataforma, ficamos esperando os ocupantes que iriam descer em Mogi saírem para depois entrarmos no busão. E foi naquele momento que tudo aconteceu de forma rápida, mas inesquecível.
Entre os passageiros que desciam do ônibus estava um senhor, que deveria ser vendedor, advogado ou algo parecido. Trajava camisa branca, gravata e terno, além de carregar uma maleta tipo 007.
Como era noite e o mesmo, vencido pelo cansaço, devia ter dormido na viagem e, para seu conforto tirado o paletó e desabotoado as calças. Despertado pela parada do ônibus iniciou a descida sem perceber que o inesperado estava mais próximo do que imaginava.
Ainda sonolento, iniciou a descida dos degraus do ônibus para alcançar a plataforma. Em uma das mãos a maleta 007 e na outra o paletó dobrado.
Quando pisou na plataforma a casa caiu, ou melhor, a calça caiu. O pobre, sem ação, e sem ter como se prevenir, já que estava com as duas mãos ocupadas, viu as calças arriadas e a cueca tipo samba-canção branca à mostra.
Ficou ali por alguns segundos, inerte, até colocar a maleta no chão e desajeitadamente recolocar as calças como se nada tivesse acontecido. Foram apenas alguns segundos, mas que para aquele senhor de cabelos grisalhos devem ter durado uma eternidade.
Eu e o Paulão nos entreolhamos ainda atônitos com a cena bizarra e, em respeito aos cabelos brancos daquele senhor, seguramos o riso. Mas, ao ver as moças quase sentadas no chão de tanto rirem, nos rendemos e também caímos na risada.
O tempo passou, mas aquela cena ficou guardada para sempre na memória. O inesperado aconteceu diante de nossos olhos e, para dizer a verdade, ainda bem que foi com ele e não comigo.

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