terça-feira, 23 de setembro de 2014

Os embalos de domingo na discoteca do Centrão

Quem nunca frequentou a discoteca do Centrão que levante a mão. Se essa pesquisa for feita entre aqueles que nasceram nas décadas de 50, 60, 70 e 80, vai ser difícil encontrar alguém com as mãos para o alto.

Eu vivi esse tempo mágico. Frequentei a discoteca do Centrão em diversas épocas e não há como negar que foram anos dourados em minha vida.

Como era bom esperar pelo domingo a noite e viver aquelas horas contagiantes. Ouvir músicas da melhor qualidade, músicas de verdade, bem diferentes da porcaria que se ouve ou se é obrigado a ouvir nos dias atuais.

Aquele foi um tempo mágico, principalmente para quem fez do Centrão seu lazer das noites de domingo. Eu vivi tudo isso em três épocas distintas, no início dos anos 80, no final da mesma década e, depois, no princípio dos anos 90.

Não há como deixar esquecidos em um canto da memória tempos tão felizes e momentos tão mágicos. Como era gostoso ficar ali, ouvindo os hits do momento que eram tocados, um a um, pelo trio formado pelos irmãos Zé e Paulinho Labegalini e pelo Luisão, que comandava a festa.

Um tempo mágico que não volta mais, mas que ficou guardado na memória de quem teve a oportunidade de viver toda essa magia. Quantos casamentos começaram ali, naquele lugar mágico, cheio de luzes e som.

Guardo na memória os amigos de cada época de minha passagem pela discoteca do Centrão. Muitos deles presentes nas três fases, como o Rochinha e o Rosinha, amigos inseparáveis e apreciadores de tudo que é bom.

Como seria bom poder voltar àquele tempo. Chegar na porta do Centrão e ver a Idalina ali, parada, aguardando para conferir a carteirinha de cada um ou encontrar o ‘seo’ Paulinho Luvizetto, uma lenda viva na história do Centrão.

Daria tudo para sentir novamente a magia daquele lugar. Encostar no balcão do bar, ao lado do Ronalde Soares, do Di Canguru, do Bolão, do Dênis Rocha e de tantos amigos que ficaram pelo caminho ou sumiram por esse mundo afora.

Como seria bom reviver aquele tempo. Um tempo em que a noite do domingo era reservada para a discoteca do Centrão. Tenho guardada na mente as músicas verdadeiras de discoteca e o ambiente sadio e saudável.

Sou desse tempo. Um tempo em que ter um som no carro era equipar o mesmo com um tape TKR ou Road Star, que eram o que havia de melhor. Muito diferente de hoje, tempos em que quem equipa o carro coloca o som do lado de fora e sai pelas ruas com o volume aos berros, evidenciando o mau gosto musical do proprietário do veículo, sem ser molestado pelos homens de farda.

Às vezes, quando o sono vai embora e os olhos secam, me pego divagando por esse tempo, que marcou a vida de quem teve o privilégio de vivê-lo, e que me traz nostalgia, saudade e prazer, principalmente prazer de ter vivenciado tudo isso. Sinto que minha cabeça roda no embalo das músicas e das luzes. Meu pensamento voa velozmente e, como se penetrasse em um túnel do tempo, me remete aos bons tempos dos embalos de domingo.

Sou um saudosista inveterado, gosto de relembrar bons momentos de minha vida e dividir tudo isso com quem teve a oportunidade de viver todos aqueles momentos. Às vezes, em meio aos meus devaneios, chego a pensar se existe alguém que, como eu, derrube lágrimas de saudade desse tempo que não volta mais.

O Centrão fez e faz parte da vida de milhares de pessoas. Marcou a adolescência, a juventude e a vida de quem freqüentou suas discotecas.


Não vou me esquecer nunca desse tempo mágico, das músicas que até hoje curto e tenho orgulho de dizer que são as minhas prediletas ou de tantos momentos inesquecíveis. E tenho plena certeza que quem pisou naquele lugar vai relembrar de cada segundo vivido ali.

Os anos dourados do ginásio

Quando se é criança o tempo custa a passar e tudo parece caminhar de forma lenta. Nossos sonhos se tornam quase impossíveis e tudo que queremos é que o tempo voe e a hora de realizá-los chegue logo.

No meu tempo de criança era assim. Tudo que eu sonhava era completar o grupo escolar e ingressar no tão famoso ginásio. Para as crianças da minha época, estudar no ginásio significava um passo muito grande a frente, a transposição da fase de criança para a adolescência.

Mal sabia eu que o tempo seria implacável e que um dia cobraria toda essa pressa. Se eu soubesse que quando o tempo chegasse e pintasse meus cabelos de cinza eu teria essa saudade toda do meu tempo de criança, acredito que daria tudo para ele parar e me deixar criança para sempre.

O ano era 1967. Eu cursava o quarto ano do Grupo Escolar Dr. Júlio Mesquita, que ficava um pulinho da minha casa. Bastava subir o escadão da Ladeira São João e lá estava eu na porta da escola.

Essa familiaridade toda me dava a segurança que toda criança busca quando sai debaixo da saia da mãe. Mas minha ansiedade em ingressar no ginásio era tão grande que eu não via a hora disso acontecer.

Lembro que, apesar de ainda ser um menino de nove para 10 anos, tinha consciência do que me esperava no final do ano. Sabia que para entrar no ginásio precisaria passar pelo exame de admissão, um verdadeiro vestibular tal a disputa pelas vagas no Instituto de Educação Estadual Elvira Santos Oliveira.

Naquele ano, quando eu estava prestes a completar 10 anos, o Sérgio Venturini, um amigo de infância que conservo até hoje e que já estava no IEEESO, me convidou pra ver a final do Interno de Futebol da escola. Topei na hora, afinal iria entrar pela primeira vez naquele local sagrado.

Lembro que os campeonatos realizados pelo professor José Barretto eram famosos, pois toda criança que gostava de futebol aguardava pela chance de disputar um campeonato organizado, coisa rara naquela época em se tratando de torneios para garotos de minha idade. O professor Barretto, que naquela época já era uma verdadeira lenda para todos nós, tal o respeito que angariava perante todos, realizava a competição logo no início do ano letivo e, mais tarde, fiquei sabendo que tinha muito aluno que iniciava o ano escolar, disputava o campeonato e depois desistia de estudar, só para voltar no ano seguinte e participar novamente da competição.

Quando chegou o tão aguardado dia da decisão, fui para o IEEESO junto com o Sérgio e fiquei no barranco, lotado de alunos e visitantes, aguardando a disputa. Lembro que o time dele tinha o Paulo Pedro como capitão e o time adversário era comandado pelo Uka Sartori, que não participou da final por estar suspenso na escola, dando vez a um rapaz gorduchinho, de face corada, que era ninguém menos que o Luiz Arnaldo Alves de Lima.

O jogo terminou com o placar de 7 a 3 para o time do Paulo Pedro, que já era um adolescente de 14 ou 15 anos, pronto para fazer carreira no futebol como realmente acabou acontecendo e só ele fez quatro gols. Aquela tarde marcou minha vida porque foi a primeira vez que pisei na escola com a qual sonho até hoje, mais de quatro décadas depois.

No ano seguinte, depois de passar com sobras pelo exame de admissão, tive a oportunidade de, já como aluno do ginásio, disputar por quatro anos o famoso campeonato interno de futebol da escola. Não tive a sorte de cair em times de qualidade e nunca passei da primeira fase da competição, mas pude sentir o prazer de jogar naquele campo, que sempre ficava rodeado de alunos e visitantes e até ser convocado para a seleção da escola, que treinada pelo Clóvis Avancini, o Ná, faria história como um dos grandes times infantis formados na cidade, com participação no campeonato colegial do estado.

Aquele era um tempo diferente, um tempo em que os alunos respeitavam os professores e valorizavam os ensinamentos que recebiam. Lembro que havia um respeito muito grande por todos que exerciam suas funções na escola, como os inspetores de alunos, por exemplo. Bastava olhar para o Luiz Leme, o Luizão Xerife, com seu semblante sério e o aluno já sabia que algo de errado estava cometendo.

Vivi aquele tempo mágico e sou grato por isso. Guardo na memória cada momento que ele me proporcionou e cada vez que tenho a oportunidade de visitar aquela escola todas essas lembranças voltam e me emocionam.


Ver a fanfarra de ex-alunos desfilando e ouvir seu toque irretocável tem o mesmo efeito, pois me remete a tantos e tantos momentos inesquecíveis que vivi em minha passagem por aquele estabelecimento de ensino. Momentos que o tempo, apesar de já ter pintado meus cabelos de cinza, não consegue apagar. 

Chopão, um dos pontos de encontro na década de 70

Quem viveu aquela época com certeza curtiu muito e irá relembrar. Quem não teve a mesma sorte, pelo menos, terá a oportunidade de entender um pouco da magia que envolvia a juventude na década de 70.

No final de 74, em meio às comemorações do Natal e a preparação para a chegada de um novo ano, a cidade viveu momentos de glória com a inauguração de uma de suas mais tradicionais casas de entretenimento. Idealizado para ser um ponto de encontro das famílias, o Chopão acabou virando um dos locais preferidos dos jovens de então.

Vivi intensamente essa época de ouro e lembro bem da inauguração da casa. Uma festa concorrida e regada a muito chopp Brahma, oferecido pelos proprietários.

O Chopão, instalado no local onde hoje está a Montreal, bem defronte a antiga e de saudosa memória fonte luminosa, nasceu sob a estigma do sucesso e essa aura perdurou por um bom tempo. 
Diferente de tudo que havia por aqui, com suas mesas ao ar livre, protegidas por guarda-sóis, o Chopão era tudo que os jovens da época queriam, pois oferecia aquilo que todos chamavam de liberdade para se viver intensamente.

Ainda posso ver, em lampejos de memória, o movimento dos carros na praça Bernardino de Campos, que naquela época tinha o tráfego de veículos no sentido inverso ao atual. Ou seja, os carros faziam o trajeto de baixo para cima, passando primeiro pela parte inferior da praça e depois pelo setor de cima.

Naquela época os jovens se reuniam na praça central da cidade e não em postos de combustível, ao longo de avenidas ou na porta de concessionárias de veículos. E, aqueles que consumiam bebidas alcoólicas, utilizavam as mesas dos bares e lanchonetes e não as ruas, e nem atiravam os vasilhames nos locais públicos, prática tão comum nos dias atuais.

Os que tinham carro e dotavam o mesmo de equipamentos de som, optavam por tapes Road Star ou TKR, que eram o que havia de melhor, além de colocar potentes falantes e twitters Selenium, mas tudo dentro do carro. Muito diferente de hoje, tempos em que quem equipa o carro coloca o som do lado de fora e sai pelas ruas com o volume aos berros, evidenciando o mau gosto musical do proprietário do veículo.

Às vezes, quando o sono vai embora e os olhos secam, me pego divagando por esse tempo, que marcou a vida de quem teve o privilégio de vivê-lo, e que me traz nostalgia, saudade e prazer, principalmente prazer de ter vivenciado tudo isso.

A inauguração do Chopão, de propriedade do Sebastião Pompeo, o Dinho, e seus sócios, se deu no final de dezembro e foi bastante concorrida. Lembro que foi uma noite memorável para a cidade, que ganhava um novo ponto de encontro que, junto com o Bar do Edifício, passaria a receber a nata da sociedade e completaria o ciclo que tinha em seu centro o Clube XV de Novembro.

A praça era frequentada, tinha vida própria e inúmeros bares e restaurantes. Além do Bar do Edifício e do Chopão, contava também com o Bar Central, o Cine Bar e o Bar do Odilon, além do Itapira Bar, que estava mudando de mãos e passaria a ser conhecido como Sobradão.


Esse é um tempo que já vai longe, há 40 anos, mas que permanece vivo na memória de quem o viveu. Um tempo diferente e que não volta nunca mais, mas quem teve a felicidade de viver aquele período vai guardá-lo para sempre na memória e no coração.  

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O menino que costurava bolas

Sou de um tempo em que as dificuldades impostas pela vida assolavam grande parte das famílias. O sustento da família geralmente era de responsabilidade do homem da casa e os filhos, muitas vezes ainda crianças, eram colocados no mercado de trabalho para reforçar o orçamento.

Naquele tempo, quando eu ainda um menino magricela de orelhas grandes, com oito para nove anos, havia um garoto, um pouco mais velho, que retratava bem esse quadro. Embora ainda um menino, com sonhos de criança, não media esforços para auxiliar no sustento da casa.

Não o conheci daquele tempo, mas sei que sua tarefa era árdua. Dividia seu tempo entre a escola, as brincadeiras com os meninos da vizinhança, nas proximidades de sua casa, ali na Visconde de Cairú, no início da Vila Bazani, e a tarefa de costurar bolas de capotão.

Não era uma tarefa fácil, mas era a maneira que ele encontrou para ajudar seu pai, o ‘seo’ Benedito, no sustento da casa. Além disso, costurando as bolas para a fábrica Decar, de propriedade dos irmãos Décio e Carlito Nogueira, que ficava na esquina da João de Moraes com a Regente Feijó, embaixo do casarão dos Nogueira, conseguia o suficiente para o cinema do final de semana.

E era essa sua vida. Costurar bolas de capotão e sair para entregá-las na fábrica. Em uma das mãos o saco de bolas, na outra a mala de roupas que sua mãe, a dona Natalina, lavava pra fora e que ele entregava na casa do doutor José de Mello.

No caminho entre sua casa e o destino, havia sempre um tempo para passar em frente aos três cinemas da cidade. Na descida o primeiro era o Cine Teatro Américo Bairral.
Em seguida uma passadinha nos outros dois, que ficavam na praça central. Ali conferia os filmes que estariam em cartaz no Cine Rádio e no Cine Paratodos para, só depois, escolher a fita que veria no sábado, pois sabia que o dinheiro daria apenas para uma sessão.

Era um tempo difícil, mas aquele menino, talvez tão magricela quanto eu, era feliz com a única diversão semanal que tinha, pois sabia que em primeiro lugar vinha sua família. Ver os cartazes e escolher qual filme iria ver no sábado já bastava.

Mais tarde, já aos 14 anos, sua habilidade para costurar bolas foi reconhecida e aquele menino acabou contratado pela própria Decar, então instalada na Major David Pereira, e já de propriedade do Paulo Pereira da Silva e do Aloísio Victor dos Santos, como um funcionário da casa. Ali começava sua carreira como empreendedor.

Conheci esse menino bem mais tarde, quando já era homem feito e de barba na cara. Fui conhecê-lo já como empresário de sucesso, mas nem por isso acomodado.

Hoje, depois de tantos anos, vejo minha filha, que por sinal faz aniversário no mesmo dia que ele, chamá-lo carinhosamente pelo apelido que acabou virando sua marca registrada. Ouvi-la chamando-o por Mestre me faz entender que nenhuma luta é por acaso.


Daí, volto no tempo e entendo que perdi muito em não ter conhecido aquele menino que costurava bolas. Talvez, se tivesse visto de perto sua luta, poderia ter aprendido um pouco mais com a vida.

A quarta série ginasial

Faz tempo que isso não ocorre, mas um tempo atrás eu vivia sonhando que estava nas dependências da escola onde cursei o ginasial e também ...