segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

A quarta série ginasial


Faz tempo que isso não ocorre, mas um tempo atrás eu vivia sonhando que estava nas dependências da escola onde cursei o ginasial e também o colegial. Sonhava que estava no IEEESO, isso mesmo, no IEEESO e não no ESO de hoje.
Em meus sonhos a escola era sempre do jeito que a frequentei, sem as mudanças feitas para atender os padrões atuais ou para conter o ‘ânimo’ dos alunos de hoje. Naquele tempo, nos anos 70, tudo era mais romântico, todos respeitavam a escola como ela devia ser respeitada, assim como os professores e demais funcionários, fossem diretores ou simples faxineiros.
A cada sonho lá estava o extenso saguão destinado ao recreio com os banheiros, a sala de trabalhos manuais do professor José Silveira na ponta, a sala do professor Barretto de frente para a quadra de cima, o gramado, o portão de acesso ao campo de futebol, à quadra de baixo e à pista de atletismo. Era ali que meninos e meninas se encontravam, pois naquele tempo as classes eram separadas.
De todos os sete anos que frequentei aquele lugar mágico o melhor deles foi quando cursei a quarta série ginasial. Talvez por estar naquela idade de transição, em que achamos que já sabemos tudo sobre o mundo ao nosso redor.
Lembro bem que eram duas salas abrigando alunos da quarta série, ambas no pequeno corredor que dava entrada para a biblioteca. A nossa sala era a da direita de quem entrava no corredor, com as janelas para a rua ao lado da escola.
As aulas eram no período da tarde e as de Educação Física às seis da madrugada. Quando era inverno o frio era de ‘rachar mamona’ como era costume dizer.
Eu sentava na primeira carteira na fileira perto da porta. Atrás de mim vinham Rudyard Trani, Plininho Cremasco, Kilão Galdi, Alexandre Caio e, mais atrás o Sérgio Venturini.
Lembro de muita gente daquela sala, alguns que já até partiram para o andar de cima, como o Gildo Piardi, o Paulo de Tarso Nascimento, o Paulo Marin e o Antonio Carlos Amâncio, que no início do ano tinha uma voz fina, mas que quando voltou da férias assustou todo mundo quando abriu a boca e sua voz tinha um tom grave. Era a chamada mudança da adolescência, quando a voz muda, assim como muitas outras coisas.
Eu era um bom aluno, sempre tirava boas notas, mas a sala tinha outros ‘bambas’ como o José Roberto Pretel Pereira Job, o Luís Paulo Souza Ferreira, o Maurinho Xavier, o Sávio Pegorari, o Juca Serra, o Dindão Serra, o Paulo Eduardo Sartori e o Chico Antonio Azevedo. E tinha os que eram respeitados pelos demais por serem mais velhos, como o Cláudio Nascimento, o Miltinho Piardi, o Ipê Ferreira Alves, o Carlão Nogueira, entre outros.
Guardo boas recordações daquela época e bons ensinamentos também. Tínhamos professores de ponta como Clibas Ribeiro Paiva, Sirtes Valdissera, Marlene Barizon, Ninfa Bosso, entre outros, e só não aprendia quem não queria.
Foi um tempo muito bom da adolescência. De aprendizado, mas de diversão também.
Sempre que posso fecho os olhos e volto no tempo. Me vejo sentado na primeira carteira da primeira fileira e visualizo até mesmo cada um dos demais nos lugares em que se sentavam.
Mas, como tudo na vida, aquele tempo acabou no final do ano. Quando conclui a quarta série meu pai decidiu que eu iria estudar no período noturno e tudo mudou.
O tempo pode passar, mas não apaga as boas lembranças como o apagador, implacável, tira do quadro negro a matéria antes que possamos copiá-la. E as boas amizades que aquele tempo mágico proporcionou também permanecem intactas, sem que o tempo possa diluir.

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