sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Pequeno, mas eclético e versátil


Ele era pequeno na estatura, mas era eclético e versátil, como ele mesmo costumava falar quando elogiava alguém. E um de seus predicados era conhecer profundamente a música brasileira, principalmente aquelas canções da chamada velha guarda.
Conheci Luis Cestaro, o Gijo, quando o mesmo trabalhava como fotógrafo junto com o irmão Orlando Cestaro, o Orlando Bóia. O estúdio ficava na Campos Salles, no mesmo prédio que abrigava, em sua entrada principal na José Bonifácio, a Casas Pernambucanas. Era ali que minha mãe nos levava para tirar as fotos quando éramos crianças.
Gijo sempre teve uma paixão pela música. Fã incondicional de Francisco Alves, chegava a se emocionar quando, em seu programa semanal na Rádio Clube, atendia seus ouvintes e colocava uma das faixas dos discos de vinil do cantor conhecido como Rei da Voz.
Apesar de sempre estar presente no dia a dia da emissora, principalmente pela amizade com seu proprietário, Luiz Norberto da Fonseca, foi na década de 80 que Gijo emplacou seu programa Encontro com a Saudade nas noites de segunda-feira. Nele, a pedido das centenas de ouvintes, mandava para o ar canções de Elizete Cardoso, Ataulfo Alves, Marlene, Nelson Gonlçalves e, claro, Chico Alves, entre outros grandes nomes da era de ouro da música nacional.
Gijo Cestaro, com seu jeito extrovertido, tinha carisma e era querido por todos os que o conheciam. Da juventude trazia a grande amizade com Hideraldo Luis Bellini, o capitão da Copa de 58, e sua família.
Lembro que seu programa noturno pela Clube era aguardado pelos fãs das músicas do passado e o pedidos eram atendidos com o auxílio de seu fiel escudeiro Jorge Luis Bonaldo, que atuava na técnica de som. E, quando queria citar o amigo que dava sustentação à qualidade do programa sempre usava o bordão – ‘o eclético e versátil Jorge Luis Bonaldo’.
Naquelas horas de música de boa qualidade, Gijo costumava citar seus ouvintes. Mas, algumas vezes a memória do locutor falhava e lá estava o Jorginho, do lado de fora do aquário, como costumamos falar na gíria do rádio, para auxiliar.
Lembro de duas passagens hilárias que até hoje são relembradas quando citamos aquele pequeno grande homem. Certa vez, ao agradecer a audiência do então pastor da Igreja Presbiteriana, Osvaldo Chamorro, Gijo trocou as bolas e mandou um abraço para o pastor Charroio.
E, em outra oportunidade, ao tentar homenagear um amigo que estava na audiência, Gijo foi acometido de lapso de memória e não conseguia lembrar o nome do cidadão. Aí, com o microfone aberto, iniciou a homenagem – ‘gostaria de mandar um abraço para o meu amigo, meu grande amigo, meu inesquecível amigo...’ e o nome não vinha à memória, até que emendou – ‘como é mesmo o nome dele Jorginho?’
Gijo Cestaro já partiu para o andar de cima, mas deixou muitas recordações. Deixou boas e grandes amizades por aqui.
As noites de segunda-feira jamais foram as mesmas depois que parou com o seu Encontro com a Saudade pelas ondas da Clube. Francisco Alves, Ataulfo Alves, Marlene, Emilinha Borba, Nelson Gonçalves e tantos nomes de peso da música brasileira perderam de vez o espaço que tinham no rádio, mas devem estar agradecendo até hoje aquele pequeno, mas eclético e versátil homem que por muito tempo divulgou suas belas músicas aqui embaixo.





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