sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

O rádio correndo nas veias


Certas pessoas nascem para aquilo que realmente acabam sendo durante a vida. Para ser radialista, por exemplo, o rádio deve correr nas veias e aflorar a cada dia.
Conheci Wilson Baragatti no final dos anos 80, quando ele veio para integrar a equipe de locutores da Rádio Clube. Era um cara diferenciado, acostumado a grandes emissoras e que demorou um pouco para entrar no ritmo da rádio.
Quando o conheci não tinha ideia do quanto aquele cara tinha de rádio em seu sangue. O quanto ele já havia dado de contribuição para o rádio de várias regiões do país.
Vi de perto seu sofrimento com a perda do filho Daniel, ainda um menino, e mesmo assim seguiu firme e forte no propósito de fazer o seu melhor. Com sua simplicidade cativou e fez muitos amigos na cidade, que até hoje, mesmo estando fora há anos, visita regularmente.
Mais tarde, quando já estava em Mogi Mirim, abriu as portas para que eu pudesse fazer carreira por lá. E, por mais incrível que possa parecer, quando eu era redator-chefe do jornal O Impacto, às segundas e quartas ficava na rádio até tarde de noite para esperar eu fazer o fechamento da edição e me dar carona até Itapira.
Baragatti sempre teve seu jeito peculiar de se apresentar às pessoas. Sempre que era apresentado a alguém, costumava falar o nome e as rádios onde trabalhava. Um dia brinquei com ele e disse que tinha trabalhado em tantas emissoras que ao se apresentar, falasse o nome de todas, ficaria a noite inteira até terminar.
Assim como o Leo Santos, personagem de várias passagens dentro de nossa vida no rádio, Wilson Baragatti vez ou outra fazia das suas. Em 93, quando estávamos em Bauru para cobrir a goleada do Mogi Mirim sobre o Noroeste por 4 a 1, durante o almoço saiu à cata de uma lista telefônica no restaurante para tentar encontrar seus parentes na cidade.
Em outra passagem, já na Capital paulista, ficamos à sua mercê na busca por uma cantina no Bexiga. Ao chegar no local, depois de muito rodar, parou em uma esquina e soltou a pérola: ‘nossa, em 69 tinha uma pizzaria aqui”, isso porque já estávamos em 93 e, como todos sabem, São Paulo muda a cada instante.
Wilson Baragatti, apesar da longevidade na profissão, continua firme no rádio paranaense. Todos os dias, vejo sua postagem nas redes sociais sobre as músicas que manda para o ar.
Que essa vontade de viver prossiga por muitos e muitos anos, pois pessoas assim fazem bem à humanidade. Wilson Baragatti é algo como um pássaro raro, que deve ser preservado antes que seja extinto.

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