Parece que foi ontem, mas já se passaram 36 anos.
Conhecido como a Tragédia do Sarriá, o dia 5 de julho de 1982 é sempre lembrado
pelos brasileiros, principalmente em ano de Copa.
Naquela época o apelo popular de uma Copa do Mundo era
muito maior, mais contagiante. Talvez porque não houvesse tanta exposição dos
jogadores na mídia e redes sociais.
Era um tempo em que os jogadores usavam chuteiras pretas,
não tinham cabelos que mudavam o penteado a cada jogo e não exibiam tatuagens pelo
corpo inteiro. Resumindo, era o futebol em sua verdadeira essência, sem
frescura.
Naquela época eu trabalhava na agência de Águas de
Lindóia da Caixa Federal e lembro bem daquele dia 5 de julho. Um dia que nunca
mais esquecerei por tudo que aconteceu antes, durante e depois do jogo.
Como não daria tempo de voltar para casa a tempo de ver o
jogo entre Brasil e Itália, que valeria uma vaga na semifinal do Mundial
disputado na Espanha, um aparelho de TV foi instalado na agência para que
pudéssemos assistir. Estava tudo combinado, era só comemorar mais uma vitória
brasileira.
Mas o dia já começou conspirando contra e nada deu certo
naquele 5 de julho. Como o dia 2 é feriado na cidade e caiu na sexta-feira, o
movimento na agência triplicou na segunda-feira.
Eu estava trabalhando como caixa e só consegui sentar a
frente da TV já no meio do segundo tempo, quando a Itália vencia por 2 a 1,
pouco antes de Falcão empatar em um chute de fora da área.
Mas, não deu tempo nem de comemorar e seis minutos depois
Paolo Rossi fez o seu terceiro gol e colocou a Itália outra vez na frente. Um
empate bastaria à seleção brasileira, mas o goleiro Dino Zoff acabou de vez com
o sonho ao defender uma cabeçada em cima da linha.
Mesmo tendo um time considerado mágico, com craques como
Falcão, Sócrates, Zico, Cerezzo, Éder, Leandro, Júnior e Oscar, o time
brasileiro amargou uma derrota por 3 a 2 e não foi adiante. A Itália seguiu em
frente e acabou ficando com o título naquele ano.
Mas, apesar da tristeza pela derrota, a vida tinha que
seguir em frente. Quando já estávamos preparando o fechamento da agência
aconteceu um fato que serviu para nos dar alguns momentos de descontração.
O prédio que abrigava a agência estava em construção e os
andares superiores em fase de acabamento. Depois do jogo os funcionários da
obra já estavam no batente novamente, apesar da derrota, e deviam estar tão ou
mais chateados que nós, pois tinham que voltar ao trabalho.
Um grupo de jovens que passava pelo local, talvez para
provocar as pessoas, começou a gritar Itália e aí veio o troco lá do céu, ou
melhor, de cima do prédio. Quando passavam pela calçada, um dos trabalhadores
da obra, enfurecido com a provocação, não pensou duas vezes e despejou a lata
de reboque na cabeça dos provocadores.
Aquilo serviu para quebrar por uns instantes a tristeza
pela derrota, tal a forma inesperada como tudo ocorreu. Sempre que me lembrar
daquela amarga derrota, com certeza, aquela cena hilária irá voltar à memória.
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