sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Um certo dia 5 de julho


Parece que foi ontem, mas já se passaram 36 anos. Conhecido como a Tragédia do Sarriá, o dia 5 de julho de 1982 é sempre lembrado pelos brasileiros, principalmente em ano de Copa.
Naquela época o apelo popular de uma Copa do Mundo era muito maior, mais contagiante. Talvez porque não houvesse tanta exposição dos jogadores na mídia e redes sociais.
Era um tempo em que os jogadores usavam chuteiras pretas, não tinham cabelos que mudavam o penteado a cada jogo e não exibiam tatuagens pelo corpo inteiro. Resumindo, era o futebol em sua verdadeira essência, sem frescura.
Naquela época eu trabalhava na agência de Águas de Lindóia da Caixa Federal e lembro bem daquele dia 5 de julho. Um dia que nunca mais esquecerei por tudo que aconteceu antes, durante e depois do jogo.
Como não daria tempo de voltar para casa a tempo de ver o jogo entre Brasil e Itália, que valeria uma vaga na semifinal do Mundial disputado na Espanha, um aparelho de TV foi instalado na agência para que pudéssemos assistir. Estava tudo combinado, era só comemorar mais uma vitória brasileira.
Mas o dia já começou conspirando contra e nada deu certo naquele 5 de julho. Como o dia 2 é feriado na cidade e caiu na sexta-feira, o movimento na agência triplicou na segunda-feira.
Eu estava trabalhando como caixa e só consegui sentar a frente da TV já no meio do segundo tempo, quando a Itália vencia por 2 a 1, pouco antes de Falcão empatar em um chute de fora da área.
Mas, não deu tempo nem de comemorar e seis minutos depois Paolo Rossi fez o seu terceiro gol e colocou a Itália outra vez na frente. Um empate bastaria à seleção brasileira, mas o goleiro Dino Zoff acabou de vez com o sonho ao defender uma cabeçada em cima da linha.
Mesmo tendo um time considerado mágico, com craques como Falcão, Sócrates, Zico, Cerezzo, Éder, Leandro, Júnior e Oscar, o time brasileiro amargou uma derrota por 3 a 2 e não foi adiante. A Itália seguiu em frente e acabou ficando com o título naquele ano.
Mas, apesar da tristeza pela derrota, a vida tinha que seguir em frente. Quando já estávamos preparando o fechamento da agência aconteceu um fato que serviu para nos dar alguns momentos de descontração.
O prédio que abrigava a agência estava em construção e os andares superiores em fase de acabamento. Depois do jogo os funcionários da obra já estavam no batente novamente, apesar da derrota, e deviam estar tão ou mais chateados que nós, pois tinham que voltar ao trabalho.
Um grupo de jovens que passava pelo local, talvez para provocar as pessoas, começou a gritar Itália e aí veio o troco lá do céu, ou melhor, de cima do prédio. Quando passavam pela calçada, um dos trabalhadores da obra, enfurecido com a provocação, não pensou duas vezes e despejou a lata de reboque na cabeça dos provocadores.
Aquilo serviu para quebrar por uns instantes a tristeza pela derrota, tal a forma inesperada como tudo ocorreu. Sempre que me lembrar daquela amarga derrota, com certeza, aquela cena hilária irá voltar à memória.


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