sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

O pó da avenida


Nasci e fui criado ali no início da Rua Comendador João Cintra, pertinho de onde começa a Avenida Brasil. Ali vivi boa parte da vida e dali eu guardo lembranças que jamais serão apagadas da memória.
De vez em quando viajo por aquele tempo e lembro de acontecimentos que me fazem recordar pessoas e passagens.
A Avenida Brasil, por exemplo, até o início dos anos 80, era de terra, não havia asfalto. A rua de casa era pavimentada com paralelepípedos disformes e que arrancavam a ‘champa’ do dedão de muita gente durante nossas peladas noturnas.
E, por ser de terra batida, a Avenida Brasil era puro pó em época de pouca chuva. As donas de casa do início da minha rua sofriam com a poeira que juntava sobre os móveis.
E algumas peculiaridades vivem povoando minhas lembranças daquele tempo, trazendo de volta costumes que nos dias de hoje estão em desuso. O tempo passou, os costumes mudaram, mas as lembranças servem para resgatar aqueles momentos.
Lembro que o Luciano Venturini, que tinha uma oficina que colocava carroceria em caminhões no início da avenida, quando subia para sua casa passava defronte a minha batendo os pés com força na calçada para tirar o pó. Quando ouvíamos aquele barulho todo já sabíamos que era ele que estava passando.
Lembro também que a cada enchente no ribeirão da Penha todos se dirigiam até a serraria dos Brunialti, bem ali no início da avenida, de onde dava para enxergar a movimentação da água, que transformava o ribeirão em um rio caudaloso e amedrontador. O lugar onde ficava a enorme serra de cortar toras mais parecia uma arquibancada, tal o número de pessoas ali aglomeradas.
Esse tempo já vai longe, como o pó da avenida. Ficaram as lembranças, o som dos pés batendo na calçada e a água rio abaixo com sua fúria.




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