sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Escuridão que assusta

Desde a infância sempre tive como maior medo possibilidade de um dia ficar sem enxergar. Só de pensar nisso já fico incomodado.
Talvez seja pelo fato de ter problemas com lugares fechados, onde me sinta sem chance de sair. Ainda hoje, quando tenho um sonho desse tipo acordo assustado.
Acredito que, se um dia ficar sem poder enxergar, não sei se seria capaz de enfrentar e me adaptar à nova situação. Talvez não fosse capaz de superar essa escuridão que assusta.
Só de pensar em viver em um mundo onde não haja luz ou a vida como sempre conheci já me dá um certo frio na espinha. E vem a certeza que não seria forte o suficiente para seguir em frente.
E todas essas certezas e incertezas só reforça o que sinto em relação a dois amigos, que viram a vida e hoje enfrentam outra realidade por estarem cegos. Admiro a força deles para seguirem em frente.
No início dos anos 2000 quando soube que o amigo Glauco Lauri tinha perdido a visão por causa do diabetes me coloquei em seu lugar e entendi o quanto o ser humano precisa de forças para superar adversidades. E, essa força, sinto que não tenho.
Acompanhei sua superação, seu novo modo de viver, sua demonstração de força e capacidade e posso afirmar que minha admiração pelo amigo apenas aumentou ainda mais. Se antes eu o admirava pela capacidade profissional, passei a admirar também sua força interior.
Mais tarde, um outro amigo passou a conviver com a escuridão que a perda da visão impõe. Carlos Eduardo Chagas, o Kako, acometido por uma doença rara, iniciou sua caminhada na escuridão que de repente envolveu sua vida.
E, novamente, pude vivenciar mais uma demonstração de força e superação. Kako também não vê a vida como antes, mas segue em frente e renova suas forças a cada momento.
Tanto um com outro merece todas as formas de respeito pela demonstração de força interior. São exemplos de vida que devemos sempre reverenciar, pois acredito que não há nada mais desafiador para o ser humano do que ter que conviver com a escuridão.
Se não possuem o direito de enxergar a vida como sempre puderam, usam o coração e a sensibilidade aguçada da percepção para sentirem as forças se renovarem a cada momento. Glauco nos deixou e partiu desse mundo, talvez para que lá de cima pudesse enxergar os que deixou por aqui. E o Kako, com sua força interior, segue em frente do jeito que a vida reservou.

Nenhum comentário:

A quarta série ginasial

Faz tempo que isso não ocorre, mas um tempo atrás eu vivia sonhando que estava nas dependências da escola onde cursei o ginasial e também ...