sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Pão com ovo


Quando Deus uniu meu pai e minha mãe, com certeza sabia o que estava fazendo. Afinal por mais de meio século os dois caminharam juntos até meu pai subir para o andar de cima.
Aquela era uma união perfeita que entrelaçava a simplicidade e a força de vontade de meu pai com a perspicácia e o poder de convencimento de minha mãe. Quando ela antevia algo, bom ou ruim, sempre se colocava a frente e dava seu jeitinho para mostrar o melhor caminho para meu pai.
E assim foi em várias oportunidades, como na compra de uma das partes na fábrica de móveis onde meu pai suava para sustentar a família, na compra da casa de minha avó materna e em tantas outras situações. E, em todas elas, lá estava minha mãe para apoiar e dar o caminho.
Meu pai sempre trabalhou, desde a infância. Sua honestidade e força de vontade contrastavam com a simplicidade na hora de pensar. Mas minha mãe, com o sangue catalão de meu avô Antônio e napolitano de minha avó Carmela, estava sempre pronta para dar o empurrãozinho que faltava.
Lembro bem quando minha irmã mais velha concluiu o quarto ano primário no Júlio Mesquita e meu pai, por toda lei, queria que ela fosse aprender corte e costura com a Lia Pretti, pois acreditava que filha mulher devia ser costureira. Minha mãe, com seu jeitinho peculiar, mudou o rumo das coisas e convenceu meu pai a deixar que ela seguisse nos estudos e, assim, com a inteligência que Deus lhe deu, ela chegou à gerência do Banco do Brasil.
Mas, além dessa perspicácia, minha mãe também tinha um bom coração. Nos meus tempos de Júlio Mesquita, na hora do recreio, lá ia ela escadão da Ladeira São João acima para levar salada de frutas em um potinho de margarina que eu ficava esperando no portão da escola.
Quando chegou a vez da Claudia, a caçula dos três filhos, o cardápio era outro. Um ovo era transformado em omelete na hora e colocado no pão para que minha irmã comesse no recreio.
Um dia, ao saber que minha irmã repartia o lanche com a amiga de classe, imediatamente passou a levar dois lanches iguais, um para cada uma. Esse seu gesto, mais tarde, foi lembrado pela Rosângela Tonolli, a amiga do pão com omelete, que foi quem cuidou de minha mãe quando ela permaneceu na UTI da Santa Casa em recuperação devido ao pequeno AVC que a acometera.
Deus sempre sabe o que faz e quem ele une. Por isso meus pais foram felizes por mais de meio século, construíram a família com a força de meu pai e a perspicácia de minha mãe, um casamento perfeito para que tudo desse certo, como deu.

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