Quando Deus uniu meu pai e minha mãe, com certeza sabia o
que estava fazendo. Afinal por mais de meio século os dois caminharam juntos
até meu pai subir para o andar de cima.
Aquela era uma união perfeita que entrelaçava a
simplicidade e a força de vontade de meu pai com a perspicácia e o poder de
convencimento de minha mãe. Quando ela antevia algo, bom ou ruim, sempre se
colocava a frente e dava seu jeitinho para mostrar o melhor caminho para meu
pai.
E assim foi em várias oportunidades, como na compra de
uma das partes na fábrica de móveis onde meu pai suava para sustentar a
família, na compra da casa de minha avó materna e em tantas outras situações.
E, em todas elas, lá estava minha mãe para apoiar e dar o caminho.
Meu pai sempre trabalhou, desde a infância. Sua
honestidade e força de vontade contrastavam com a simplicidade na hora de
pensar. Mas minha mãe, com o sangue catalão de meu avô Antônio e napolitano de
minha avó Carmela, estava sempre pronta para dar o empurrãozinho que faltava.
Lembro bem quando minha irmã mais velha concluiu o quarto
ano primário no Júlio Mesquita e meu pai, por toda lei, queria que ela fosse
aprender corte e costura com a Lia Pretti, pois acreditava que filha mulher
devia ser costureira. Minha mãe, com seu jeitinho peculiar, mudou o rumo das
coisas e convenceu meu pai a deixar que ela seguisse nos estudos e, assim, com
a inteligência que Deus lhe deu, ela chegou à gerência do Banco do Brasil.
Mas, além dessa perspicácia, minha mãe também tinha um
bom coração. Nos meus tempos de Júlio Mesquita, na hora do recreio, lá ia ela
escadão da Ladeira São João acima para levar salada de frutas em um potinho de
margarina que eu ficava esperando no portão da escola.
Quando chegou a vez da Claudia, a caçula dos três filhos,
o cardápio era outro. Um ovo era transformado em omelete na hora e colocado no
pão para que minha irmã comesse no recreio.
Um dia, ao saber que minha irmã repartia o lanche com a
amiga de classe, imediatamente passou a levar dois lanches iguais, um para cada
uma. Esse seu gesto, mais tarde, foi lembrado pela Rosângela Tonolli, a amiga
do pão com omelete, que foi quem cuidou de minha mãe quando ela permaneceu na
UTI da Santa Casa em recuperação devido ao pequeno AVC que a acometera.
Deus sempre sabe o que faz e quem ele une. Por isso meus
pais foram felizes por mais de meio século, construíram a família com a força
de meu pai e a perspicácia de minha mãe, um casamento perfeito para que tudo
desse certo, como deu.
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