Apesar das lembranças estarem bem vivas na minha memória,
confesso que nunca mais tive coragem de ir até lá. Prefiro guardar as boas
lembranças e levá-las comigo para sempre.
Em 2009, alguns dias depois que minha mãe partiu para o
andar de cima, tive que criar coragem e voltar naquela casa onde nasci, cresci
e vivi muitos momentos felizes e outros nem tanto. Era preciso retirar alguns
objetos que tinham ficado para trás e deixar a casa vazia para que fosse
colocada a venda.
Em uma tarde de sábado, com minha pequena Mariane, então
com apenas sete meses, no colo, fui até lá com minha irmã Claudia para executar
a tarefa. Até parecia que meu corpo adivinhava o que estava para acontecer,
pois embora eu soubesse que tinha que ir, meu andar era pesado e lento.
Entrar naquela casa já foi um esforço incomum, foi entrar
e um turbilhão de lembranças se apossou de minha mente. A cada passo, a cada
cômodo, um sem número de momentos foi aflorando na memória e meu sentimento era
uma mistura de saudade e dor.
Aos poucos dominei meus nervos, respirei fundo e parti
para a mais difícil das missões. O destino era o último quarto da casa, o meu
quarto.
Com a Mariane no colo, fui andando pelo corredor e dobrei
a direita, em frente a porta do banheiro para entrar naquele cômodo vazio, mas
ao mesmo tempo carregado de lembranças de um tempo que já havia passado. Senti
as pernas ficarem bambas e um frio na barriga, mas segui firme até a janela
para abrir e olhar a minha paisagem favorita durante anos e anos.
No momento em que abri aquela janela e defronte meus
olhos apareceram o telhado do terraço, o quintal e a vista panorâmica do
Cubatão, não consegui mais segurar minha emoção e o choro foi inevitável. Me
apoiei no beiral da janela e ali deixei que tudo o que estava entalado como um
nó na garganta fosse colocado para fora.
Olhei pela última vez para tudo aquilo, como se estivesse
me despedindo da vida, ou de tudo que já tinha vivido para nunca mais voltar.
Ali se encerrava um ciclo da vida, ali ficariam para sempre minhas lembranças
daquela casa, daquele quarto, daquela janela onde sentei noites e noites para
olhar a paisagem na escuridão e ouvir as boas músicas da Rádio Mundial, ou
seja, de tudo que já não tinha mais direito de viver.
Aquela foi minha última vez naquela janela. A minha
janela para o mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário