sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

O be-a-bá


Quem já dobrou a esquina dos 50 sabe do que estou falando. No meu tempo de infância e no dessa gente toda também, o aprendizado adquirido nos quatro anos de Grupo Escolar era a base de tudo.
Fiz meus quatro primeiros anos de escola no Grupo Escolar Dr. Júlio Mesquita. Ali, naquele imponente prédio de dois andares na esquina da Campos Salles com a Ribeiro de Barros, bem de frente para o Parque Juca Mulato, aprendi meu be-a-bá e as primeiras regras de aritmética.
Todas as manhãs eu subia os degraus do escadão da Ladeira São João, atravessava a rua ao lado da casa do padre Henrique e ingressava no mundo do saber. Foram quatro anos que jamais serão esquecidos, assim como as professoras e demais pessoas que gravitavam naquela casa de ensino.
Naquele tempo, bem diferente de hoje, as professoras eram respeitadas pelos alunos. Eram vistas como se fossem uma extensão de nossas casas e só faltava pedir a bênção para elas para que ficassem em igualdade de condições com nossos pais, tios e avós.
Não havia vandalismo, pichações ou depredação daquele que era nosso segundo lar. Professoras, diretores e funcionários eram tratados com respeito, não sofriam pressões, desacatos ou agressões por parte dos alunos, fatos tão comuns em tempos atuais.
Recebi ensinamentos que guardo até hoje de professoras como Ismaelina Proença Pinto, Genny Piva Zázera, Gilmere Vasconcellos Pereira Ulbricht e Ivone Pegorari Vieira. Cada uma do seu modo, mas sempre com o intuito de dar aos alunos a base para os anos seguintes e para a vida toda.
Outros personagens, que embora não atuassem no ensino, também deixaram suas marcas em minha memória. Um deles ficava ali, na beira da calçada com seu carrinho recheado de guloseimas e sempre que ganhava uns trocados de meus pais eu me deliciava.
‘Seo’ Parízio, que na verdade se chamava Barizio Calil, vendia a melhor raspadinha que já experimentei. Sem falar de delícias como quebra-queixo, amendoim salgado, pipoca, doces, pirulitos e os famosos doces com segredinhos, que traziam um anel como brinde.
Além de marcar ponto na frente da escola, ‘seo’ Parízio vendia seus produtos na porta do Cine Rádio, na XV de Novembro, bem pertinho de casa. Quem frequentava o cinema sempre dava uma paradinha em seu carinho, na entrada ou na saída, depois de ver a ‘fita’.
Na cantina da escola, sempre pronto para atender os alunos, a bondade e a alegria constante ficavam por conta do ‘seo’ Evilásio Avancini. Embora ele não tivesse sido o proprietário da cantina nos meus tempos de Júlio Mesquita – veio algum tempo depois – lembro muito dele por causa do armazém que mantinha na frente de sua residência, na XV de Novembro, no mesmo quarteirão do Cine Rádio.
Pessoas assim nunca deixam nosso baú de memórias, são guardadas para sempre em nossas recordações e lembranças. Lembranças de um tempo que já vai longe, mas que permanecem incólumes em nossos corações.


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