sexta-feira, 30 de abril de 2010

Preso no alto da roda gigante

Ser criança tem suas vantagens. Não se tem compromisso a não ser com os estudos.

No meu tempo, que já vai um pouco longe, lembro muito bem, esperar por uma data festiva era algo incrível. Como o tempo custava a passar.

O Natal demorava ‘séculos’ para chegar, a Páscoa idem. Festa de Maio, então, uma eternidade.

Acredito que essa espera é que fazia com que tudo fosse mais gostoso. A Festa de Maio, por exemplo, era bem diferente do que é hoje.

Nós, crianças, não tínhamos tantas opções como atualmente, além do que a grana também era curta. Apesar disso nunca passei vontade de brincar neste ou naquele brinquedo.

As barracas de comes e bebes também eram bem diferentes das de hoje. Lembro da barraca da família Moreira, especialista em espetinho, quentão, pinhão e outras iguarias apropriadas para a época. Ficava bem em frente ao leilão instalado ao lado da igreja. A barraca do Lopes também era muito concorrida, assim como a barraca da própria igreja.

Para quem preferia os doces, ao contrário dos dias de hoje, as barracas de cocadas não tomavam conta de todos os espaços. O que mais tinha era maçã do amor, quebra-queixo e martelinho, um doce que grudava até na alma, vendido nos carrinhos de pipoca, mas que tinha um sabor muito bom.

Era um tempo bem diferente de hoje e até o clima era diferente, mais frio. Lembro que na volta da festa, já no colo do meu pai, vinha com aquele capuz, tipo aviador, na cabeça, para esquentar minhas belas e grandes orelhas.

Os tempos mudam, mas as lembranças permanecem e afloram na nossa mente quando o período da festa chega. Recordo de uma noite em que fiquei preso na roda gigante, lá no alto, porque a dita cuja parou por falta de energia. Como morria de medo de cair, fiquei duro como pedra até o brinquedo voltar a andar e tudo se normalizar.

Bons tempos que não voltam mais, que deixam saudades e aquela dor aguda na alma por representar momentos marcantes de nossa adolescência. Quem sabe um dia, numa outra ‘encadernação’, como costumo dizer, eu volte a ter a felicidade de curtir a Festa de Maio do jeitinho que ela era naqueles bons e velhos tempos.


sexta-feira, 23 de abril de 2010

Nem a santa dava jeito

Minha mãe sempre foi muito apegada aos seus santos. Rezava cedo e antes de dormir para uma relação enorme deles e também para os parentes e conhecidos que já haviam partido dessa para melhor.

A lista era tão imensa quanto sua fé nos seus protetores. E essa fé, de vez em quando, era posta à prova e, muitas vezes, funcionava de verdade.

É verdade que em certas situações nem mesmo sua fé dava jeito. Era o caso da seleção brasileira em jogos de Copa do Mundo, principalmente na fase em que a seleção sempre ficava pelo caminho.

Como sempre gostou de futebol, minha mãe não perdia um jogo de Copa e ficava fula da vida quando alguma tia dela achava de aparecer para uma visita bem na hora do jogo.

Dia de jogo do Brasil na Copa, então, era uma festa em minha casa. Tinha pipoca e muita torcida. Minha família se reunia à frente da TV para torcer e depois sair para ver a festa nas ruas.

Em determinados jogos, quando a coisa começava a ficar preta para a seleção brasileira, lá ia minha mãe para o quarto dela buscar ajuda com seus santinhos. Demorava um pouco e lá vinha ela com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, que colocava na mesinha de centro, de frente para a TV.


Quase sempre dava certo e a seleção vencia. Quando perdia, todos nós, desconsolados, olhávamos para a santa à procura de uma explicação para a derrota, mesmo sabendo que a culpa era daqueles pernas-de-pau de camisa amarela. Aí, nem a santa dava jeito e só nos restava esperar por mais quatro anos até a próxima Copa do Mundo. 

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Desta vez eu estava lá

Com certeza, comemorar por ter escapado do rebaixamento é bem diferente de festejar a conquista de um título. Mas a emoção vivida no domingo no estádio Chico Vieira na vitória suada e dramática da Esportiva sobre o Taubaté me remeteu a um fato semelhante do passado.

É incrível como as lembranças viajam de forma extremamente rápida e reavivam momentos que estavam armazenados em algum cantinho do arquivo de minha memória. Fui parar, em instantes, na conquista do título da 3ª divisão pela mesma Esportiva em 1969.
Lembro bem de muitos detalhes desse feito, da fila de carros que se formou na pista entre Itapira e Mogi Mirim, com destino a Mogi Guaçu, onde a Vermelhinha jogaria sua sorte. O time era muito bom, formado em sua maioria por jogadores da terra, com alguns reforços de cidades vizinhas.

A campanha era quase impecável, com grandes vitórias e muitos gols, principalmente do artilheiro Foraciepe. Tudo isso fazia despertar nos torcedores a vontade de acompanhar os jogos e, como a última rodada reservava para a Esportiva o confronto com o Guaçuano, a tarefa de marcar presença no estádio ficou mais fácil.

Mas, voltando no tempo, relembrei da minha ansiedade pelo desfecho do jogo. Tinha visto a maior parte dos jogos do time em casa e, aos 12 anos, era minha primeira grande experiência como torcedor.

Naquela época meu tio, ainda seminarista, quando vinha para Itapira utilizava uma caminhonete do seminário. E foi nesse veículo que participamos de boa parte da carreata com destino a Mogi Guaçu. Não fomos ao jogo, mas só de ter participado daquela espécie de romaria já me satisfez.

Hoje, 41 anos depois, a Vermelhinha estava novamente em uma decisão, desta vez para não cair e eu estava lá, de corpo e alma. Se na conquista do título, naquele empate sofrido em 0 a 0 em Mogi Guaçu, eu acompanhei a distância, desta vez eu estava lá, sofrendo até o último instante, mas recompensado com o desfecho feliz.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Os ‘caldos’ na represa do ribeirão

Aprendi a nadar depois de grande. Pra dizer a verdade, depois dos 40.

Mas na minha infância era comum descer a ladeira São João e brincar nas águas do ribeirão da Penha. Naquela época, lembro muito bem que a represa existia e sua queda formava um tipo de piscina no leito do rio, proporcionando que os pequenos garotos que não sabiam nadar pudessem brincar.

Meu pai não permitia que eu fosse sozinho ou com outros garotos à represa. E ele tinha razão, afinal eu não sabia nadar e poderia me afogar. Mas ele nunca deixou de nos levar para brincar no rio.

Enérgico e severo em suas atitudes, principalmente quando a gente aprontava alguma, meu pai era um cara legal e nunca deixava de fazer o melhor por sua família. Quando resolvia descer a ladeira era uma festa, pois a gente sabia que a tarde seria repleta de brincadeiras.

Lembro dos famosos ‘caldos’ que ele me dava e também de entrar no vão entre a queda d’água e a base da represa. Era de perder o fôlego, mas muito prazeroso.

Outro dia, uma foto da antiga represa, estampada na coluna do historiador Plínio Magalhães da Cunha, no jornal Tribuna de Itapira, me levou àqueles tempos em que piscina só em clube ou casa de gente rica, como costumávamos dizer. O ribeirão, ali mostrado em sua plenitude, era o local predileto de quem gostava de nadar ou de uma boa pescaria de lambaris.

Por coincidência, naquela mesma edição do jornal, uma reportagem alertava para a situação caótica em que se encontra o ribeirão, com seu fio d’água. A foto principal mostrava o ambientalista Antonio Carlos Avancini, o Tatão, em pé no meio do leito do ribeirão, onde antigamente a água era abundante e os peixes também.


Deu tristeza constatar que mais um de nossos pontos de lazer prediletos está indo embora, enxotado pela ação depredadora do ser humano, que não pensa nas próximas gerações. Como não há como brecar as ações impostas pela expansão industrial, o jeito é reviver aqueles bons momentos.

A quarta série ginasial

Faz tempo que isso não ocorre, mas um tempo atrás eu vivia sonhando que estava nas dependências da escola onde cursei o ginasial e também ...