Sou de um tempo em que ter um padre na família era como uma graça
recebida dos céus. Cresci acreditando nisso e assim penso até hoje.
Mas naquele tempo essa dádiva era ainda
mais valorizada. Afirmo isso com a certeza de quem teve esse privilégio desde
que nasceu.
Cresci tendo um tio seminarista, que
infelizmente partiu desse mundo pouco tempo depois de sua ordenação. Além de
ter inúmeras qualidades como homem, tio Zé Rubens era também meu padrinho.
Quando foi pedida sua presença no andar
superior eu não era mais um menino magricela de orelhas grandes. Aos 15 anos já
era um adolescente cheio de sonhos.
Lembro bem que, certo dia, com a família
ainda vivendo a dor da perda, fui interpelado por minha avó paterna e por uma
religiosa que atendia por Irmã Mariana. As duas queriam porque queriam que eu seguisse
a carreira sacerdotal como forma de suprir a ausência de meu tio querido. Claro
que declinei daquele ‘convite’ por entender que para tanto havia a necessidade
da vocação.
Sempre acreditei que a vocação, para
qualquer caminho na vida, nasce com a pessoa. E o exemplo maior disso vivia bem
próximo.
Afinal, cresci ouvindo que o menino que
minha mãe havia amamentado quando eu nasci e que para todos nós era como se
fosse da família seria padre. De fato, todos os caminhos levavam meu ‘irmão de
leite’ ao sacerdócio.
Sua devoção, seu jeito de ser e pensar indicavam
que aquele menino seria um padre. Ele sim tinha vocação, tinha nascido para
aquilo.
E assim acabou ocorrendo. O menino, de
nome José Eduardo, amamentado por minha mãe, cresceu, ordenou-se padre e hoje,
com as barbas brancas apesar de ainda estar na casa dos 50, já completou 25
anos de vida religiosa.