Sou de um tempo que as fotos em preto e branco retratavam a vida
em família. Diferente dos dias de hoje, em que as digitais e os celulares
facilitam a tarefa de quem gosta de registrar fatos e passagens, naquele tempo
as famílias costumavam perpetuar os momentos importantes com a presença de
todos os membros, sentados ao redor dos patriarcas.
Comparo nossa passagem pela vida a essas
fotos. Quando se é criança os personagens presentes na foto compõem a família
que nos rodeia. Mas, aos poucos, cada figura daquelas retratadas na fotografia
vão sumindo, pouco a pouco, deixando apenas os rastros de boas lembranças.
Minha fotografia genealógica sempre foi
repleta de personagens. Uns mais próximos, outros, nem tanto, mas sempre
presentes na vida daquele menino magricela de orelhas grandes.
Cada personagem que o passar dos anos
apaga se torna um desfalque que nos deixa órfãos de vida em família. Afinal,
pessoas que gravitam ao nosso redor durante a infância são como pontos de apoio
durante nossa caminhada.
Meu retrato do tempo já está bastante
desfalcado. Olho para ele e vejo apenas vazios, antes ocupados por avós, tios,
pais e primos, que hoje figuram em outro retrato. O retrato das boas
lembranças, que nem mesmo o tempo consegue esvaziar.
A vida nos ensina a dura realidade da
perda. A cada figura que se apaga, um pouco de nós segue com ela. São como
golpes de punhal que perfuram e dilaceram nossa alma.
Por isso, de vez em quando, corro os olhos
da mente pela foto para ver se ainda estou nítido nela ou se minha figura está
se tornando opaca, sem brilho e desfigurada. E é nesse instante que um calafrio
percorre o corpo de alto a baixo e me faz sentir que nada somos além de meras
figuras em um retrato do tempo.
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