quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Retrato do tempo

Sou de um tempo que as fotos em preto e branco retratavam a vida em família. Diferente dos dias de hoje, em que as digitais e os celulares facilitam a tarefa de quem gosta de registrar fatos e passagens, naquele tempo as famílias costumavam perpetuar os momentos importantes com a presença de todos os membros, sentados ao redor dos patriarcas.

Comparo nossa passagem pela vida a essas fotos. Quando se é criança os personagens presentes na foto compõem a família que nos rodeia. Mas, aos poucos, cada figura daquelas retratadas na fotografia vão sumindo, pouco a pouco, deixando apenas os rastros de boas lembranças.

Minha fotografia genealógica sempre foi repleta de personagens. Uns mais próximos, outros, nem tanto, mas sempre presentes na vida daquele menino magricela de orelhas grandes.

Cada personagem que o passar dos anos apaga se torna um desfalque que nos deixa órfãos de vida em família. Afinal, pessoas que gravitam ao nosso redor durante a infância são como pontos de apoio durante nossa caminhada.

Meu retrato do tempo já está bastante desfalcado. Olho para ele e vejo apenas vazios, antes ocupados por avós, tios, pais e primos, que hoje figuram em outro retrato. O retrato das boas lembranças, que nem mesmo o tempo consegue esvaziar.

A vida nos ensina a dura realidade da perda. A cada figura que se apaga, um pouco de nós segue com ela. São como golpes de punhal que perfuram e dilaceram nossa alma.


Por isso, de vez em quando, corro os olhos da mente pela foto para ver se ainda estou nítido nela ou se minha figura está se tornando opaca, sem brilho e desfigurada. E é nesse instante que um calafrio percorre o corpo de alto a baixo e me faz sentir que nada somos além de meras figuras em um retrato do tempo.

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