Sou de um tempo em que um simples brinquedo de madeira ou plástico
já fazia uma criança feliz. Um tempo em que jogos eletrônicos, videogames e
outras parafernálias eram apenas projetos futuros.
Lembro bem de muitos brinquedos que tive.
Cada um com sua peculiaridade.
Mas, nem sempre eram os carrinhos, jogos
ou mesmo a bola que atraíam aquele menino magricela de orelhas grandes. Muitas
vezes, olhar pela janela do banheiro de casa e ver as casas que compunham o
cenário à minha frente era uma atividade mais atraente.
Pode parecer um tanto quanto estranho uma
criança gostar de ver casas e suas diversas cores, mas talvez pode sido ali,
naquela janela, que minha predileção por números e estatísticas tenha começado.
Ficava ali, olhando aquelas casas no Cubatão, contando quantas eram amarelas,
quantas tinham a parede pintada em azul, verde ou outra cor qualquer .
Invariavelmente a brincadeira de contar as
casas de cada cor era sempre feita a dois. Minha mãe, com paciência de Jó,
estava sempre pronta para me fazer companhia.
E, brincar de cor talvez seja hereditário.
Depois de tantos anos, com os cabelos já pintados pelo tempo, minha relação com
as cores continua, mas de uma forma totalmente diferente.
Minha tarefa agora é árdua, parecida com
aquela que minha mãe realizava, mas muito prazerosa. A cada convite da Mariane,
minha pequena de quase dois anos, para brincar em seu quarto, já sei que vou
viajar no tempo e vislumbrar aquelas casinhas e suas cores que me fascinavam.
Na sua simplicidade de criança, chamar o
pai para brincar de cor é sua diversão preferida. Passo horas sentado no tapete
com seus lápis coloridos e a cada resposta correta sobre a cor do lápis em
minha mão é um prêmio para quem já imaginava passar pela vida sem ter o
privilégio de ser pai.
Vê-la se ocupando com as cores é um
bálsamo que cura qualquer ferida aberta pela ação do tempo. Ficar ali, sentado
ao seu lado, ao contrário de ser um incômodo para o esqueleto de quem já fez a
curva dos 50, é uma viagem até a janela do banheiro de minha casa na Comendador
João Cintra.
Olhando para aquela garotinha compenetrada
acabo enxergando um garotinho com os olhinhos buscando cores e mais cores entre
as casinhas no longínquo alto do Cubatão, pertinho da mata que existia onde
hoje está o Cemitério da Paz. Segundo minha mãe, era lá naquela mata que os
urubus pousavam para descansar.
2 comentários:
Oi Humberto, além de sua prima sou sua fã.Adoro ler seus textos que tb me levam aas lembranças de minha infancia... continue se recordando e fazendo seus leitores felizes...
Obrigado, minhas recordações é que me fazem seguir em frente no caminho e no tempo. Beijos a todos
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