quarta-feira, 17 de março de 2010

Um menino magricela de orelhas grandes

Era noite de sexta-feira, já quase por volta de meia-noite. O sono ainda não havia chegado, mas deitado ao lado da minha pequena Mariane, que já estava dormindo a sono solto, deixei a mente vagar por tempos distantes.

Embalado pelas notas de um delicioso rock choroso, que entrava pela janela do quarto, vindo do Jazz Café, viajei por instantes que valeram pela vida inteira. Como é bom divagar e lembrar de coisas boas, de pessoas queridas e tempos felizes.

À minha mente vieram lembranças da infância, da juventude e até mesmo da marmanjice. Pude relembrar fatos e acontecimentos de outrora, até então guardados num cantinho da mente, mas que afloraram ao som daquela música gostosa.

Como um foguete, minha mente relampejou por cada detalhe, me dando um raro prazer de estar vivendo tudo aquilo novamente. E isso refaz qualquer dor do presente, é o bálsamo para as feridas recentes.

E, entre as lembranças que passaram pela minha mente naqueles momentos, uma me marcou de forma profunda, principalmente pela nitidez com que surgiu entre tantos pensamentos embaralhados. Fui parar nos meus tempos de menino, um menino magricela e de orelhas grandes, mas atento a tudo, buscando o aprendizado necessário para enfrentar a vida.

Lembrei de fatos interessantes como os passados nas manhãs de domingo. Depois de ir à missa na Matriz de Santo Antonio, invariavelmente acompanhava meu pai ao Itapira Bar, onde os adultos se encontravam para a cerveja gelada e o aperitivo oferecido pelo Alberto Baldissin, então proprietário. Eu, como criança, claro, degustava minha Crush gelada e atacava as porções de amendoim, azeitona ou mesmo de filé.

Mas, o que me veio à memória como um bólido foi exatamente o cheiro que exalava dos barris de azeitona, instalados em um quartinho que ficava entre o balcão e o salão. Aquele aroma delicioso, como que por encanto, imediatamente bateu nas narinas, como se eu estivesse ali, naquele lugar encantado e, como num passe de mágica, voltado no tempo.


Pena que os pensamentos voam rapidamente e dão lugar a outros e outros, deixando para trás aqueles que nos fazem felizes por breves momentos. Em instantes voltei à realidade dos meus tempos atuais, vi minha filha dormindo como um anjo e, ciente da realidade, dei-me por feliz em saber que, pelo menos, tenho um tesouro em minha vida. E isso já basta.

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