Era noite de sexta-feira, já quase por volta de meia-noite. O sono
ainda não havia chegado, mas deitado ao lado da minha pequena Mariane, que já
estava dormindo a sono solto, deixei a mente vagar por tempos distantes.
Embalado pelas notas de um delicioso rock choroso, que entrava
pela janela do quarto, vindo do Jazz Café, viajei por instantes que valeram
pela vida inteira. Como é bom divagar e lembrar de coisas boas, de pessoas
queridas e tempos felizes.
À minha mente vieram lembranças da infância, da juventude e até
mesmo da marmanjice. Pude relembrar fatos e acontecimentos de outrora, até
então guardados num cantinho da mente, mas que afloraram ao som daquela música
gostosa.
Como um foguete, minha mente relampejou por cada detalhe, me dando
um raro prazer de estar vivendo tudo aquilo novamente. E isso refaz qualquer
dor do presente, é o bálsamo para as feridas recentes.
E, entre as lembranças que passaram pela minha mente naqueles
momentos, uma me marcou de forma profunda, principalmente pela nitidez com que
surgiu entre tantos pensamentos embaralhados. Fui parar nos meus tempos de
menino, um menino magricela e de orelhas grandes, mas atento a tudo, buscando o
aprendizado necessário para enfrentar a vida.
Lembrei de fatos interessantes como os passados nas manhãs de
domingo. Depois de ir à missa na Matriz de Santo Antonio, invariavelmente
acompanhava meu pai ao Itapira Bar, onde os adultos se encontravam para a
cerveja gelada e o aperitivo oferecido pelo Alberto Baldissin, então
proprietário. Eu, como criança, claro, degustava minha Crush gelada e atacava
as porções de amendoim, azeitona ou mesmo de filé.
Mas, o que me veio à memória como um bólido foi exatamente o
cheiro que exalava dos barris de azeitona, instalados em um quartinho que
ficava entre o balcão e o salão. Aquele aroma delicioso, como que por encanto,
imediatamente bateu nas narinas, como se eu estivesse ali, naquele lugar
encantado e, como num passe de mágica, voltado no tempo.
Pena que os pensamentos voam rapidamente e dão lugar a outros e
outros, deixando para trás aqueles que nos fazem felizes por breves momentos.
Em instantes voltei à realidade dos meus tempos atuais, vi minha filha dormindo
como um anjo e, ciente da realidade, dei-me por feliz em saber que, pelo menos,
tenho um tesouro em minha vida. E isso já basta.
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