É normal sentirmos o sabor ou o aroma de algo quando lembramos de
alguma coisa gostosa que comemos e que já não existe mais. E esse fato
realmente ocorre comigo toda vez que lembro das iguarias que eram fabricadas
pelo Tico Donatti em sua residência, ali no comecinho da Francisco Glicério,
perto da coloninha, que os mais antigos lembram muito bem.
Atravessar o trecho entre minha casa, na Comendador João Cintra,
até a casa dos Donatti era sempre motivo de alegria, pois sabia que lá eu
encontraria os biscoitos, sequilhos e bolachas que tanto gostava. Minha mãe,
embora nunca tivéssemos vivido na fartura, nunca negava o trocadinho necessário
para irmos buscar aquelas delícias.
O aroma dos biscoitos de polvilho e dos sequilhos saindo do forno
artesanal, tirados pelo Dito Lagarto, era algo indescritível. Só mesmo
quem conheceu e sentiu pode relembrar.
Lembro bem da casa da dona Itália, defronte a residência do senhor
Mauro Xavier de Sousa. Quando nos aproximávamos já dava pra sentir aquele aroma
delicioso, de dar água na boca.
Lembro também do carrinho, azul e vermelho, com o qual o Maneco,
um dos filhos, comercializava pães, roscas, pãezinhos recheados com linguiça,
além dos biscoitos, sequilhos e bolachas. Um dos pontos onde a carrocinha
parava era justamente na fábrica de móveis em que meu pai era um dos sócios, na
avenida Rio Branco. Quando ia com
ele para a fábrica, não via a hora da parada para o café da tarde chegar, pois
sabia que a carrocinha estaria ali, naquela porta ao lado, esperando pelos
fregueses.
São lembranças que até machucam a alma, pois trazem à memória um
tempo que não volta mais e carrega com ele momentos de minha infância. Às
vezes, divagando por esses momentos que já ficaram lá atrás no passado, lembro
como tive uma infância feliz e recheada de passagens dignas de serem lembradas
até o fim dos meus dias.
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