quinta-feira, 25 de março de 2010

O ocaso da praça central

A praça central é o ponto de referência de qualquer cidade, principalmente interiorana. E com Itapira não é diferente. Ou melhor, não era. A praça Bernardino de Campos está morrendo e com ela uma parte da história de cada um de nós.

Constatei o ocaso da praça no final da tarde de um sábado qualquer. Saí para um passeio pelo centro da cidade com minha filha Mariane, companheira de todas as horas, e, ao chegar no perímetro da Bernardino de Campos me deparei com a penumbra e o esquecimento.

Me bateu a saudade dos bons tempos de infância, adolescência e juventude, pois era ali na praça que tudo acontecia. Os bares e restaurantes, os clubes, os cinemas, pontos vitais para que o movimento fosse intenso.

Num instante me veio à memória os bares que circundavam a praça. O Bar do Odilon, com sua bomboniere recheada; o Cine Bar, que servia uma pizza fantástica, que não deixava nada a desejar se comparada à do Sebastião Bar; o Bar Central, com sua sorveteria e o restaurante; o Itapira Bar, que embora ficasse na rua ao lado, contribuía para o movimento constante; o Bar do Edifício e o Chopão, pontos de encontro dos jovens. Um a um, todos foram morrendo, os pontos transformados em outros tipos de comércio e a praça foi morrendo a cada porta fechada.

Com a mudança da Churrascaria Casa Nova para um ponto mais adequado, terminou o ciclo e a praça recebeu seu último golpe. Não há mais um ponto sequer ao seu redor para revitalizar o movimento noturno. Apenas nos finais de semana há a aglomeração em torno da perua de cachorro-quente e nada mais.

E pensar que a praça serviu de ponto de encontro e de partida para milhares de relacionamentos afetivos, namoros e casamentos. Quantas pessoas se conheceram ali e iniciaram o relacionamento que se transformaria na formação de uma nova família.

Hoje a praça central sobrevive apenas dos eventos populares como a Festa Della Nonna e a Festa da Padroeira. Muito pouco para um local aprazível, espaçoso e que representa muito na vida de todos nós.

Relembrar os pontos comerciais e de recreação que circundavam a praça central da cidade ativou outras lembranças que estavam guardadas em um cantinho da minha memória. Foi bom trazer à tona um tempo em que a praça central era o centro de tudo na vida de cada um de nós.

E essas incursões pelo passado trouxeram de volta lembranças da própria praça, de sua fonte luminosa, inaugurada nos anos 60, se não me falha a memória em 68, pelo então prefeito Benedito Alves Lima. Lembro do encanto das pessoas quando a água colorida pelas luzes começou sua dança. Era algo diferente, bonito de se ver, que tornava mais alegre o passeio pela praça.

Infelizmente tudo isso acabou e a fonte, espécie de marco de um tempo que não volta mais, virou um palco que tem sua parte frontal virada para a rua, apesar da concentração do público acontecer nas laterais.

Lembrar da fonte luminosa da praça fez-me voltar ainda mais no tempo e reviver um período em que tudo era mais difícil. Meu pai, apesar de todas as dificuldades que a época impunha, sempre que podia nos levava para ver de perto a fonte da Usina Nossa Senhora Aparecida. E como era gostoso olhar aquele espetáculo, aguardar pelo surgimento da santa, que submergia das águas.

Era o divertimento que tínhamos naqueles tempos e eu, um menino magricela de orelhas grandes, ficava maravilhado com aquilo tudo. Hoje os tempos são outros, as atrações e as facilidades também e talvez por isso não se dê tanta importância para os pequenos detalhes, fazendo com que as crianças cresçam sem um referencial, sem um arquivo na memória que não seja aquele instalado no computador que invariavelmente é o companheiro da maior parte do tempo.


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