Sou de um tempo em que as séries de TV eram importadas. Quase não
havia produção nacional e as emissoras de televisão mostravam os seriados que
encantavam a garotada.
Quem não se lembra de Viagem ao Fundo do
Mar, Terra de Gigantes, Túnel do Tempo, Bonanza, Daniel Boone, Perdidos no
Espaço e tantos outros seriados. Ou os desenhos animados como Speedy Racer, por
exemplo.
Eu ainda era um menino magricela de
orelhas grandes e, sempre que podia ou meus pais deixavam, atravessava a rua e
subia a escadaria do sobrado da família Secchi Franco, na Comendador João
Cintra, para me deleitar com os episódios que eram exibidos no início da noite.
Naquele tempo não pegava a Globo e tudo girava em torno da TV Tupi e da Record.
Lembro bem que quando começava o episódio,
fosse qual fosse o seriado, lá vinha aquela voz grave para anunciar ‘versão
brasileira Herbert Richers’. Claro que aquilo não tinha qualquer importância
para a plateia formada por garotos da rua e outros de locais mais distantes,
afinal o que interessava era a estória que seria exibida.
Mas, talvez por já ter nas veias um pouco
do que faço hoje, aquela frase não me saía da cabeça e enquanto não descobri o
que aquilo queria dizer não sosseguei. Versão brasileira Herbert Richers,
claro, descobri mais tarde que significava o estúdio onde eram gravadas as
vozes dos dubladores, aquelas pessoas que diziam em português o que os artistas
do seriado falavam em inglês.
Assim como muitas outras coisas, essa
frase marcou minha infância e, acredito, a de muita gente que, como eu, era
criança naquela época e adorava aqueles seriados. Ainda hoje, quando algum
seriado desses é reprisado por algum canal de TV, logo me vem à cabeça aquele
tempo que deixou tanta saudade.
Minha mãe, de saudosa memória, sempre
dizia que uma música ou um perfume marcavam e cada vez que uma canção que tinha
sido ouvida em determinada situação ou um perfume de alguma pessoa fosse
sentido novamente, imediatamente o fato ou a pessoa voltariam à nossa mente.
Como essa frase, ouvida centenas de vezes em minha infância, acredito que
ocorra a mesma coisa, pois cada vez que ouço aquela voz grave de alguém que
talvez nem faça mais parte desse mundo, meu baú de memórias se abre
instantaneamente e as lembranças afloram como num passe de mágica.
Imediatamente volto no tempo e revivo um episódio de minha
infância. Um episódio de uma série que já tem mais de meio século, mas que
continua com seus episódios precedidos por aquela frase imortal: ‘versão
brasileira Herbert Richers’.
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