Sou de um tempo em que a amizade entre as pessoas era muito mais
verdadeira. Um tempo em que havia respeito para com os mais velhos.
Cresci aprendendo que o amor ao próximo
era um sentimento original. Amar pai e mãe, principalmente, era primordial.
Lembro bem que, como criança, era meu
dever respeitar os mais velhos, pedir a bênção aos meus avós, tios e padrinhos.
Bem diferente dos dias atuais e da forma com que os mais velhos são tratados.
Já passei dos cinquenta, já vai longe o
tempo em que eu era um menino magricela de orelhas grandes, mas nem por isso
esqueci como se deve tratar uma pessoa mais velha. Acredito que os ensinamentos
que recebemos quando criança devem ficar para sempre.
Sempre amei e respeitei meus pais e guardo
seus ensinamentos como se guarda um tesouro. Aprendi com eles que o amor é algo
verdadeiro.
Gostei de muita gente nessa vida e algumas
pessoas, acredito, também gostaram de mim. Por isso sei o que é esse sentimento
e o que ele significa.
Mas, como na vida a gente vive aprendendo,
nada melhor que um dia após o outro para descobrirmos novas formas de amor.
Para ser sincero, nunca imaginava que seria pai e sentiria tanto orgulho por
isso.
Mas, mais do que isso, nunca imaginava ser
pai depois dos 50 e sentir que sou alvo de tanto amor. E esse sentimento que
vem de dentro do coração torna-se ainda maior e mais sincero quando parte de
uma criança.
Às vezes, quando minha pequena Mariane já
dorme a sono solto, me entrego aos pensamentos e busco uma explicação para tudo
aquilo que ela me ensina com seu jeito simples de encontrar soluções ou pela
forma de externar o amor que sente pelo pai. Fico a imaginar como seria minha
vida sem ela, sem sua presença, sem seu amor e carinho.
Por tudo o que ela representa em minha
existência, tenho plena consciência da sua importância para mim. Mas, muitas
vezes, não consigo encontrar explicação para tudo que represento para ela.
Sei que um filho deve amar e respeitar pai
e mãe, como aprendi na infância, mas sua forma de expressar esse amor e esse
carinho é algo muito além de tudo que experimentei nessa minha caminhada. Por
isso, sozinho em meus pensamentos, frequentemente olho para ela, dormindo como
um anjo, e me pergunto: que amor é esse? A resposta vem quase que de forma
imediata, pois seu semblante sereno, tranquilo, enquanto dorme, traduz tudo
aquilo que seu coração emana para seu velho pai.