quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Atolado na lama até o pescoço

Certas passagens da vida a gente nunca esquece. Os anos passam, ficamos velhos e a lembrança permanece abarrotada de pequenos detalhes.

Quando criança e até mesmo já adolescente, sempre acompanhei meu pai para caçar rãs. Bichinho de carne saborosa que hoje não se encontra mais à beira dos rios, a rã era o meu prato predileto. E ir caçar com meu pai era só alegria.

Com sua lanterna a carbureto e um facão na cinta, lá ia meu pai ladeira abaixo até chegar ao ribeirão da Penha, que ainda não era margeado pela avenida dos Italianos. Eu, na sua cola, era o encarregado de segurar o saco, onde as rãs seriam colocadas.

A várzea atrás do olaria do Riboldi era o ponto predileto nosso, pois ali se encontrava a maior quantidade de rãs. Exímio caçador, dificilmente meu pai perdia uma e, vez por outra, se abaixava no barranco para voltar com uma em cada mão.

E eu ficava ali, no meio da escuridão, no aguardo da sua volta, sempre torcendo para que sua investida tivesse sucesso.
Mas, se existe uma passagem que permaneceu na minha memória foi uma em que o personagem principal fui eu mesmo. Afinal, fui eu quem sofreu as conseqüências daquele momento hilário.

Em uma das nossas andanças pelas margens do ribeirão, cuidadoso como sempre, meu pai ia à frente, iluminando o caminho e escolhendo onde pisar. Quando encontrava um local onde o terreno estivesse mais encharcado e fosse escorregadio, logo me indicava para dar a volta.

E foi o que aconteceu naquela noite. Quando foi passar por uma cerca de arame farpado, sentiu que o chão estava escorregadio e cheio de água. Temendo que eu caísse em uma poça, logo indicou para dar a volta pela sua esquerda e eu, sempre confiante em suas palavras, fiz o que indicou e lá fui eu, com o saco de rãs e tudo, pra dentro de um buraco que estava escondido pela lama.


Atolado até o pescoço, mas sem deixar escapar uma só rã que fosse, olhei pro meu velho e nós dois ficamos rindo um tempão do meu sumiço temporário dentro da lama.

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