Longevidade é uma dádiva que deveria ser concedida a pessoas
especiais. Àquelas pessoas que deviam morrer nunca ou pelo menos durar um bom
tempo.
Sei que isso é pedir demais e nem penso em me tornar um imortal.
Longe disso. Mas existem ou existiram pessoas que deveriam permanecer por aqui
um tempo bem maior do que aquele que lhes foi concedido pelo pessoal lá de
cima.
É o caso de minha avó materna, com quem convivi pouco tempo de
minha existência, mas que aprendi a admirar por tudo o que ela representou.
Dona Carmela, como diziam, era fogo, quando se tratava de ajudar alguém,
ninguém a segurava.
Nascida em Nápoles, na Itália, no final do século 19, aportou em
Itapira ainda criança e aqui escreveu sua história. Sem escolaridade, mas com
um grau altíssimo de sapiência, usou sua capacidade para ajudar quem precisava.
Se alguém precisava de um tratamento ou mesmo uma cirurgia mais
delicada, era só falar com a dona Carmela e o Hospital das Clínicas, na
Capital, abria suas portas. Lá conhecia tudo e todos e era conhecida da mesma
forma.
Ela foi embora muito cedo, aos 67 anos, mas deixou um legado de
boas ações que até hoje são lembradas. E olha que já se vão mais de 40 anos de
sua partida.
Algumas passagens mais curiosas ficaram marcadas em sua
existência, como disputar ‘a tapa’, como diziam, com o vizinho Antonio Nóris, o
Antonio Sapateiro, o estrume deixado na rua pelos cavalos e que era utilizado
como adubo para os vasos. Ou mesmo uma história hilária, até hoje relembrada
pela personagem principal, a Marta Ziliotto.
Era o início da década de 60 e a Marta, jovem funcionária da Cal
Fortaleza, que funcionava no bairro dos Prados, onde hoje está a Novart, sempre
ficava alguns minutos de prosa com minha avó na porta de casa, a espera da
condução da empresa para se deslocar até seu local de trabalho.
Um belo dia, como diziam os antigos, a Marta chegou e o carro já
tinha passado. Minha avó, de pronto, garantiu para a jovem amiga que arrumaria
uma carona para ela. É claro que a Marta aceitou, afinal a avenida Brasil era
puro chão batido e uma caminhada de mais de um quilômetro naquele poeirão não
seria nada agradável.
De prontidão, à espera de um veículo, coisa rara naquela época,
dona Carmela se postou à beira da via e parou o primeiro veículo que apontou em
direção aos Prados. E lá se foi a Marta, de carona. No rabecão da funerária.
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