quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

E lá se foi a Marta no rabecão da funerária

Longevidade é uma dádiva que deveria ser concedida a pessoas especiais. Àquelas pessoas que deviam morrer nunca ou pelo menos durar um bom tempo.

Sei que isso é pedir demais e nem penso em me tornar um imortal. Longe disso. Mas existem ou existiram pessoas que deveriam permanecer por aqui um tempo bem maior do que aquele que lhes foi concedido pelo pessoal lá de cima.

É o caso de minha avó materna, com quem convivi pouco tempo de minha existência, mas que aprendi a admirar por tudo o que ela representou. Dona Carmela, como diziam, era fogo, quando se tratava de ajudar alguém, ninguém a segurava.

Nascida em Nápoles, na Itália, no final do século 19, aportou em Itapira ainda criança e aqui escreveu sua história. Sem escolaridade, mas com um grau altíssimo de sapiência, usou sua capacidade para ajudar quem precisava.

Se alguém precisava de um tratamento ou mesmo uma cirurgia mais delicada, era só falar com a dona Carmela e o Hospital das Clínicas, na Capital, abria suas portas. Lá conhecia tudo e todos e era conhecida da mesma forma.

Ela foi embora muito cedo, aos 67 anos, mas deixou um legado de boas ações que até hoje são lembradas. E olha que já se vão mais de 40 anos de sua partida.

Algumas passagens mais curiosas ficaram marcadas em sua existência, como disputar ‘a tapa’, como diziam, com o vizinho Antonio Nóris, o Antonio Sapateiro, o estrume deixado na rua pelos cavalos e que era utilizado como adubo para os vasos. Ou mesmo uma história hilária, até hoje relembrada pela personagem principal, a Marta Ziliotto.

Era o início da década de 60 e a Marta, jovem funcionária da Cal Fortaleza, que funcionava no bairro dos Prados, onde hoje está a Novart, sempre ficava alguns minutos de prosa com minha avó na porta de casa, a espera da condução da empresa para se deslocar até seu local de trabalho.

Um belo dia, como diziam os antigos, a Marta chegou e o carro já tinha passado. Minha avó, de pronto, garantiu para a jovem amiga que arrumaria uma carona para ela. É claro que a Marta aceitou, afinal a avenida Brasil era puro chão batido e uma caminhada de mais de um quilômetro naquele poeirão não seria nada agradável.

De prontidão, à espera de um veículo, coisa rara naquela época, dona Carmela se postou à beira da via e parou o primeiro veículo que apontou em direção aos Prados. E lá se foi a Marta, de carona. No rabecão da funerária.


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