Sou de um tempo em que o respeito aos pais era o ponto de partida
para a educação dos filhos. Um tempo em que pai e mãe eram figuras imponentes
no seio de uma família. Cada um com seu valor dentro da criação dos filhos, mas
com o mesmo peso no momento das decisões.
Lembro bem de minha infância e da participação que cada um teve
para minha formação. Aquele era um tempo em que, geralmente, só o homem
trabalhava, enquanto que para a esposa sobravam os deveres de casa e a criação
dos filhos.
Minha mãe tinha seus métodos eficazes para
resolver as situações que surgiam, deixando meu pai em paz para que pudesse
desenvolver suas atividades como marceneiro. Se algum problema mais grave
ficasse pendente, somente após o jantar é que o mesmo seria levado ao seu
conhecimento.
Sua forma de agir e pensar sempre colocou
em evidência sua inteligência e perspicácia para resolver algum problema ou
influenciar nas decisões dentro de casa. Como ela mesma dizia, era preciso usar
a cabeça e a psicologia para resolver as mais diversas situações.
Naquele tempo a última palavra era do
homem da casa, mas minha mãe sempre conseguia, com sua psicologia, influenciar
nas decisões e mudar o rumo das coisas.
Lembro bem como ela foi decisiva para que
minha irmã mais velha continuasse seus estudos após o quarto ano primário, ao
invés de entrar para um curso de corte e costura, como era desejo de meu pai.
Em minha memória guardo inúmeras passagens
de minha infância, dos tempos em que eu era um menino magricela de orelhas
grandes. E a presença de minha mãe nessas recordações é forte e reflete sua
importância em minha existência. Uma dessas passagens, embora de consequência
não muito agradável para mim, ficou gravada em minha memória pela forma como
ocorreu.
Lembro bem que, por algum motivo, depois de ter torrado bastante a
paciência de minha mãe, ouvi dela que se não sossegasse iria levar um pescoção.
Sem saber o que era aquilo, disse a ela que queria saber o significado daquela
palavra.
Depois de tanta insistência de minha parte
minha mãe me pegou pelo cangote e me aplicou o tal pescoção. Com o joelho
ralado, levantei do chão e imediatamente recebi um abraço de minha mãe e
começamos a rir da situação.
Daquele dia em diante nunca mais ousei
duvidar das coisas que ela dizia, procurando sempre ficar atento ao seu método
eficaz de resolver cada problema. Ainda hoje, depois de ter dobrado a curva dos
cinqüenta, sempre recordo de como ela agia nas mais diversas situações.
Lembro bem também de como minha mãe
cuidava para que minha crença em Papai Noel se mantivesse viva. No dia 24,
apesar das tarefas finais na cozinha, ela sempre encontrava um tempinho para
cortar o capim que eu colocaria ao lado dos meus sapatos, junto com a vasilha
com água.
Segundo ela, se o Papai Noel chegasse em casa e o capim e a
vasilha com água não estivessem ao lado dos meus sapatos, seus burrinhos não
poderiam se alimentar e matar a sede antes do velhinho seguir sua viagem. Claro
que, quando eu acordava e corria para abrir o presente, a água e o capim já
haviam sumido, aumentando ainda mais minha crença na existência daquele
velhinho de barbas brancas e roupa vermelha.
Talvez seja por isso que até hoje eu goste
tanto do Natal e guarde na memória tantas boas recordações. E, claro, já esteja
com a vasilha pronta para colocar a água e o capim preparado para que minha pequena
Mariane coloque perto de seus sapatinhos, ao pé da árvore de Natal, ávida para
abrir seus presentes de Natal.
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