Sou de um tempo em que tudo era mais difícil. Um tempo em que, por
ser mais difícil, tudo era mais saboroso.
Ao contrário dos dias atuais, naqueles
tempos eram poucas as opções em qualquer das situações. Além da pouca
variedade, não havia tanta facilidade para se adquirir algo.
Lembro bem de como era gostoso poder
saborear um refrigerante ou um chocolate. Apesar das dificuldades que a vida
impunha, meus pais nunca deixaram de comprar aquilo que tínhamos vontade.
Apesar das facilidades de hoje tenho
saudade daqueles tempos. Tenho saudade de sentir o sabor do guaraná da Itamira,
que eu tomava pelo furo na tampo feito por um prego só para que ele durasse
mais, ou dos chocolates Sonksen que meus pais compravam no final de ano no
Buraco da Onça.
Tenho saudade das noites em saímos para
passear e da felicidade que tomava conta de nós quando parávamos na doceria das
irmãs Dini, que depois passou a ser Brasília Bar. Posso ver aqueles doces e
sentir o sabor de cada um.
Tenho saudade de ir ao Itapira Bar com meu
pai após a missa de domingo pela manhã e saborear uma Crush. Ou de ir à praça
Bernardino de Campos nas noites de domingo e ver tanta gente sentada nos bancos
ou simplesmente passeando.
Tenho saudade de ir à praça ver a fonte
luminosa. Saudade de ouvir a banda Lira, naquela época apelidada carinhosamente
de Furiosa.
Tenho saudade dos doces de batata-doce que
minha mãe fazia e colocava ao sol em uma assadeira para secarem em cima do
telhado do rancho de casa. Saudade de subir nesse mesmo telhado e comer esses
doces antes mesmo que eles secassem, deixando apenas marcas na assadeira.
Tenho saudade de descer ao quintal de casa
para subir na goiabeira. Saudade de ouvir o canto dos canários que minha mãe
fazia gosto de ter em casa.
Tenho saudade de atravessar a coloninha e comprar biscoitos e
sequilhos no Tico Donatti. Saudade de descer a ladeira São João e ver a represa
do ribeirão da Penha e sua água limpa.
Tenho saudade dos meus tempos de infância,
quando eu era um menino magricela de orelhas grandes que atravessava o parque
Juca Mulato para ir à casa de meus avós paternos na rua João Pereira. Saudade
da parreira de uva, do pé de limão galego e do rancho daquela casa que já não
existe mais, mas que continua firme e forte em minhas lembranças.
Tenho saudade de chegar à casa de meus
avós e ver o presépio enorme que minha avó Leonor montava no chão da sala, ao
pé da árvore de Natal enfeitada com bolas enormes. Saudade de sentir o aroma
dos assados preparados para o Natal ou Ano Novo, do corre-corre com os
preparativos para o almoço natalino.
Tenho saudade de ver a mesa grande repleta
de gente, das músicas natalinas e do valor que tudo isso tinha pra todos.
Saudade de ser criança e não ter tanto ainda para recordar e sofrer com a falta
que tudo isso faz.
Tenho saudade desse tempo que não volta
mais. Tempo em que tudo era mais difícil, mas ao mesmo tempo muito melhor e
mais valorizado.
Como dói ter tanto para recordar. Mas como
é bom ter vivido tudo isso e sentir saudade desse tempo que não volta mais.
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