terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Tenho saudade

Sou de um tempo em que tudo era mais difícil. Um tempo em que, por ser mais difícil, tudo era mais saboroso.

Ao contrário dos dias atuais, naqueles tempos eram poucas as opções em qualquer das situações. Além da pouca variedade, não havia tanta facilidade para se adquirir algo.

Lembro bem de como era gostoso poder saborear um refrigerante ou um chocolate. Apesar das dificuldades que a vida impunha, meus pais nunca deixaram de comprar aquilo que tínhamos vontade.

Apesar das facilidades de hoje tenho saudade daqueles tempos. Tenho saudade de sentir o sabor do guaraná da Itamira, que eu tomava pelo furo na tampo feito por um prego só para que ele durasse mais, ou dos chocolates Sonksen que meus pais compravam no final de ano no Buraco da Onça.

Tenho saudade das noites em saímos para passear e da felicidade que tomava conta de nós quando parávamos na doceria das irmãs Dini, que depois passou a ser Brasília Bar. Posso ver aqueles doces e sentir o sabor de cada um.

Tenho saudade de ir ao Itapira Bar com meu pai após a missa de domingo pela manhã e saborear uma Crush. Ou de ir à praça Bernardino de Campos nas noites de domingo e ver tanta gente sentada nos bancos ou simplesmente passeando.

Tenho saudade de ir à praça ver a fonte luminosa. Saudade de ouvir a banda Lira, naquela época apelidada carinhosamente de Furiosa.

Tenho saudade dos doces de batata-doce que minha mãe fazia e colocava ao sol em uma assadeira para secarem em cima do telhado do rancho de casa. Saudade de subir nesse mesmo telhado e comer esses doces antes mesmo que eles secassem, deixando apenas marcas na assadeira.

Tenho saudade de descer ao quintal de casa para subir na goiabeira. Saudade de ouvir o canto dos canários que minha mãe fazia gosto de ter em casa.

Tenho saudade de atravessar a coloninha e comprar biscoitos e sequilhos no Tico Donatti. Saudade de descer a ladeira São João e ver a represa do ribeirão da Penha e sua água limpa.

Tenho saudade dos meus tempos de infância, quando eu era um menino magricela de orelhas grandes que atravessava o parque Juca Mulato para ir à casa de meus avós paternos na rua João Pereira. Saudade da parreira de uva, do pé de limão galego e do rancho daquela casa que já não existe mais, mas que continua firme e forte em minhas lembranças.

Tenho saudade de chegar à casa de meus avós e ver o presépio enorme que minha avó Leonor montava no chão da sala, ao pé da árvore de Natal enfeitada com bolas enormes. Saudade de sentir o aroma dos assados preparados para o Natal ou Ano Novo, do corre-corre com os preparativos para o almoço natalino.

Tenho saudade de ver a mesa grande repleta de gente, das músicas natalinas e do valor que tudo isso tinha pra todos. Saudade de ser criança e não ter tanto ainda para recordar e sofrer com a falta que tudo isso faz.

Tenho saudade desse tempo que não volta mais. Tempo em que tudo era mais difícil, mas ao mesmo tempo muito melhor e mais valorizado.


Como dói ter tanto para recordar. Mas como é bom ter vivido tudo isso e sentir saudade desse tempo que não volta mais.

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