Sou de um tempo em que se deixava a vasilha de leite na janela e o
leiteiro enchia pela manhã. Um tempo em que não existia leite em caixinha ou de
saquinho.
Um tempo em que se podia confiar no
leiteiro e no padeiro com a certeza de que pela manhã tudo estaria lá, no mesmo
lugar de sempre. Bem diferente de hoje, um tempo em que é bem capaz da vasilha
sumir do pedaço bem antes do leiteiro dar o ar da graça.
Lembro bem que quando eu ainda era um
menino magricela de orelhas grandes o leite de casa era entregue pelo Sílvio
Semolini, um senhor alto, forte, do tipo bonachão, que conduzia a charrete com
o tambor na parte traseira do veículo. O leite chegava às casas pela manhã, bem
cedinho, naquelas garrafas de vidro de um ou meio litro.
O pão, que também era entregue em casa,
vinha da padaria dos Samora, lá na avenida Rio Branco, entregue pelo Irineu
Samora, um senhor magrinho, mas igualmente de boa índole. Ele parava a perua
Kombi no outro lado da rua e a gente ia até lá buscar o pão e, quando minha mãe
autorizava, voltava também com uma bela rosca ou um pão doce.
Era um tempo bem diferente da realidade
atual. Um tempo em que os alimentos não eram acondicionados em saquinhos e
encontrados nas prateleiras dos supermercados.
Mesmo porque não havia supermercados. A
venda ou armazém mais perto de casa era o local indicado para a compra do arroz
e do feijão, que eram pesados na balança, na frente do freguês.
O feijão e o arroz não tinham marca.
Vinham direto da roça. O arroz ainda passava pela máquina de descascar, mas era
colocado à venda a granel.
Lembro bem que perto de casa tinha a venda
dos Tellini, na esquina onde funcionou por muito tempo a Farmácia Nossa Senhora
da Penha e hoje abriga o Pastel Gigante. Um pouco mais adiante, já na rua XV,
tinha a venda do Evilásio Avancini, que mais tarde pertenceu ao Bittar. Minha
mãe também gostava de comprar no Sesi, que ficava na Regente Feijó e depois
mudou-se lá para a Embaixador Pedro de Toledo, pertinho da avenida Rio Branco.
Carne se comprava no açougue. As peças
ficavam expostas e o freguês escolhia aquela que queria e só então o açougueiro
cortava ou desossava. O açougue do Mingo Bruzasco, que mais tarde foi do Nego
Franceschini, no entroncamento da Comendador João Cintra com a Saldanha Marinho
era o preferido de meus pais.
Frutas, ovos e verduras vinham do Mercado
Municipal. O local, recheado de bancas com os mais variados produtos, ficava
lotado nas manhãs de domingo.
Eu gostava muito de ir com meus pais fazer
as compras naquele local. Primeiro que sempre gostei de acordar bem cedinho e,
segundo, porque sempre acabava escolhendo um doce ou outra iguaria.
Lembro bem de uma passagem de minha
infância que nunca mais esqueci. Um acontecimento que ficou marcado na minha
memória.
Recordo que estava no mercadão com minha
mãe e ela havia comprado um frango vivo em uma banca lá na parte de baixo. Pedi
pra minha mãe deixar eu carregar o penoso até em casa, no que fui prontamente
atendido.
Quando estávamos passando pela parte
superior meus olhos avistaram uma banca de doces e, entre eles, o meu
predileto: o doce de batata-doce. Pedi e minha mãe, de pronto, parou para
comprar.
Quando eu estava ali, parado defronte os
doces, aguardando que o dono da banca embrulhasse o meu, o frango que estava
debaixo do meu braço e que acho que também tinha predileção por doce de
batata-doce, deu uma bicada em um daqueles que estavam expostos sobre a banca. O
dono dos doces, injuriado com a cena, esbravejou comigo e minha mãe, com seu
sangue de boa descendente de napolitana com catalão, não deixou por menos. Na
mesma hora mandou o homem cobrar o doce que havia comprado pra mim e também o
outro, que o frango havia bicado.
Nunca mais me esqueci daquela cena. Um
fato simples, mas que serviu para colocar aquele homem mal-educado em seu
devido lugar.
Um comentário:
oi primo, ADOREI, e sou suspeita porque sou sua FÃ de sempre. abraços de todos daqui.
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