sexta-feira, 8 de julho de 2011

Doce de batata-doce

Sou de um tempo em que se deixava a vasilha de leite na janela e o leiteiro enchia pela manhã. Um tempo em que não existia leite em caixinha ou de saquinho.

Um tempo em que se podia confiar no leiteiro e no padeiro com a certeza de que pela manhã tudo estaria lá, no mesmo lugar de sempre. Bem diferente de hoje, um tempo em que é bem capaz da vasilha sumir do pedaço bem antes do leiteiro dar o ar da graça.

Lembro bem que quando eu ainda era um menino magricela de orelhas grandes o leite de casa era entregue pelo Sílvio Semolini, um senhor alto, forte, do tipo bonachão, que conduzia a charrete com o tambor na parte traseira do veículo. O leite chegava às casas pela manhã, bem cedinho, naquelas garrafas de vidro de um ou meio litro.

O pão, que também era entregue em casa, vinha da padaria dos Samora, lá na avenida Rio Branco, entregue pelo Irineu Samora, um senhor magrinho, mas igualmente de boa índole. Ele parava a perua Kombi no outro lado da rua e a gente ia até lá buscar o pão e, quando minha mãe autorizava, voltava também com uma bela rosca ou um pão doce.

Era um tempo bem diferente da realidade atual. Um tempo em que os alimentos não eram acondicionados em saquinhos e encontrados nas prateleiras dos supermercados.

Mesmo porque não havia supermercados. A venda ou armazém mais perto de casa era o local indicado para a compra do arroz e do feijão, que eram pesados na balança, na frente do freguês.

O feijão e o arroz não tinham marca. Vinham direto da roça. O arroz ainda passava pela máquina de descascar, mas era colocado à venda a granel.

Lembro bem que perto de casa tinha a venda dos Tellini, na esquina onde funcionou por muito tempo a Farmácia Nossa Senhora da Penha e hoje abriga o Pastel Gigante. Um pouco mais adiante, já na rua XV, tinha a venda do Evilásio Avancini, que mais tarde pertenceu ao Bittar. Minha mãe também gostava de comprar no Sesi, que ficava na Regente Feijó e depois mudou-se lá para a Embaixador Pedro de Toledo, pertinho da avenida Rio Branco.

Carne se comprava no açougue. As peças ficavam expostas e o freguês escolhia aquela que queria e só então o açougueiro cortava ou desossava. O açougue do Mingo Bruzasco, que mais tarde foi do Nego Franceschini, no entroncamento da Comendador João Cintra com a Saldanha Marinho era o preferido de meus pais.

Frutas, ovos e verduras vinham do Mercado Municipal. O local, recheado de bancas com os mais variados produtos, ficava lotado nas manhãs de domingo.

Eu gostava muito de ir com meus pais fazer as compras naquele local. Primeiro que sempre gostei de acordar bem cedinho e, segundo, porque sempre acabava escolhendo um doce ou outra iguaria.

Lembro bem de uma passagem de minha infância que nunca mais esqueci. Um acontecimento que ficou marcado na minha memória.

Recordo que estava no mercadão com minha mãe e ela havia comprado um frango vivo em uma banca lá na parte de baixo. Pedi pra minha mãe deixar eu carregar o penoso até em casa, no que fui prontamente atendido.

Quando estávamos passando pela parte superior meus olhos avistaram uma banca de doces e, entre eles, o meu predileto: o doce de batata-doce. Pedi e minha mãe, de pronto, parou para comprar.

Quando eu estava ali, parado defronte os doces, aguardando que o dono da banca embrulhasse o meu, o frango que estava debaixo do meu braço e que acho que também tinha predileção por doce de batata-doce, deu uma bicada em um daqueles que estavam expostos sobre a banca. O dono dos doces, injuriado com a cena, esbravejou comigo e minha mãe, com seu sangue de boa descendente de napolitana com catalão, não deixou por menos. Na mesma hora mandou o homem cobrar o doce que havia comprado pra mim e também o outro, que o frango havia bicado.

Nunca mais me esqueci daquela cena. Um fato simples, mas que serviu para colocar aquele homem mal-educado em seu devido lugar.

No caminho de volta pra casa comi meu doce de batata-doce mais do que depressa, antes que o frango crescesse os olhos pra cima dele também. Mesmo porque ele não iria fazer muito proveito, afinal horas depois seu destino seria a panela.

Um comentário:

MARCIA CRISTINA disse...

oi primo, ADOREI, e sou suspeita porque sou sua FÃ de sempre. abraços de todos daqui.

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