sábado, 23 de julho de 2011

A TV dos Secchi Franco

Sou de um tempo em que aparelho de TV era algo raro. Um tempo em que a TV era em preto e branco e eram poucas as casas que possuíam um aparelho.

Lembro bem que no quarteirão onde morava, no início da Comendador João Cintra, apenas uma casa tinha aparelho de TV. E era para lá que a criançada rumava no final da tarde, início da noite, para assistir os seriados da época.

Na casa, que na verdade era um sobrado, residia a família Secchi Franco. Lembro que era uma família excêntrica, com a velha senhora e os filhos, todos já adultos. As filhas Zoé e Zózima e os filhos Lau, João e Zito.

Era uma gente boa, que nos acolhia com paciência e deixava que todos se acomodassem no chão da sala para ver os seriados que a TV exibia. Eu, um menino magricela de orelhas grandes, entre eles, ávido por ver meus personagens preferidos na tela daquele aparelho.

A platéia era grande, vinha menino até do bairro dos Prados, com o Paulo Pedro, um garoto bom de bola que depois viraria Pedro Paulo e se tornaria jogador da Ponte Preta. Um menino bom, pobre como todos nós, mas que batalhou para vencer na vida e alcançou seu objetivo com muita luta e talento.

Naquele tempo de parcos recursos e poucas opções de lazer ver TV era a nossa diversão. Era jantar correndo e atravessar a rua até o sobrado dos Secchi Franco para pegar um bom lugar na plateia.

Na TV a gente via Vila Sésamo, os seriados americanos como Viagem ao Fundo do Mar, Túnel do Tempo, Terra de Gigantes e desenhos animados. Era um tempo gostoso, apesar das dificuldades que a vida impunha.

Lembro que um pouco mais tarde começavam as novelas da extinta TV Tupi e a gente ia embora. Afinal, já tínhamos visto nossos programas preferidos e era a hora de deixar que os donos da casa assistissem os seus programas.

Além da casa dos Secchi Franco, outra opção era a residência do Ângelo Lizzi, que morava em frente minha casa no sobrado que até hoje abriga o Cartório Civil. Lembro que foi lá que eu e minha família vimos o Santos vencer o Milan por 1 a 0 no Maracanã, com um gol de pênalti marcado pelo lateral Dalmo, na final do Mundial Interclubes em 63.

Mais tarde, quando meu pai pôde nos dar uma televisão, lembro que era da marca Colorado. Foi uma festa em nossa casa, pois afinal poderíamos ver nossos programas preferidos sem incomodar os vizinhos.

Já era um tempo em que a fábula Meu Pé de Laranja Lima, escrita por José Mauro de Vasconcellos, havia virado novela e fazia sucesso entre as crianças. Eu gostava também do seriado japonês Nacional Kid, dos desenhos animados que eram exibidos pela Record e, principalmente, do Speed Racer.

Minha mãe, que já ouvia no rádio, pela Nacional do Rio de Janeiro, enfim poderia ver a interminável O Direito de Nascer e chorar com a mamãe Dolores, vivída por Isaura Bruno, uma das personagens da telenovela. Naquela época o galã das novelas da Tupi era Juca de Oliveira, que brilhava em Nino, o Italianinho.

Que tempo bom aquele, mas que infelizmente não volta mais. Às vezes me pego pensando em tudo aquilo, em como era bom e, raras são as vezes em que não choro de tristeza por não poder recuar no tempo e voltar a ser criança.

Em poder viver tudo aquilo novamente, com a mesma intensidade que se vive quando se é criança. E, principalmente, quando se é criança e tem uma família como a que tive.


Hoje, depois de dobrar a esquina dos cinqüenta e com a bússola virada para o ocaso da vida, sinto que Deus me deu muitas coisas boas e que agora é a minha vez de retribuir isso tudo. E, graças a Ele, é o que mais tenho feito, principalmente passando para a minha pequena Mariane todos os ensinamentos que recebi quando criança.

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