Sou de um tempo em que as casas eram mais simples. Um tempo em que
tudo era mais simples e, por isso mesmo, tinha mais valor.
Um tempo em que as pessoas podiam caminhar
nas ruas sem o perigo de serem abordadas por um assaltante. As casas comerciais
daquele tempo não precisavam colocar grades nas portas para evitar os saques e
roubos e havia, principalmente, mais respeito mútuo.
Lembro bem desse tempo que já vai longe.
Às vezes, na tentativa de recuperar tudo aquilo que ficou lá atrás, fecho os
olhos quando estou caminhando em determinadas ruas e busco lá no fundo do meu
baú de memórias o que havia naquele lugar.
Procuro, sem encontrar, o Bar do Odilon, o
Cine Bar, os cinemas, o Bar Central, o Itapira Bar, a loja Paulista, da Áurea
Rossi, a Paulista Presentes, onde eu comprava meus cavalinhos e personagens do
Forte Apache. Tento descobrir onde foram parar a loja do Lico Amâncio, a Leader
de Praça, como estava escrito em sua fachada, e o Brasília Bar, a farmácia do
Emílio Rovaris, a Casa Teté, a Farmácia da Fé e o bar do Sebastião Mendes.
Que bom seria poder rever tudo aquilo,
caminhar pelas ruas e saber o nome de cada uma das pessoas. Poder tomar um
refresco no bazar do ‘seo’ Toninho Ferreira ou sentir o aroma dos queijos
importados do Buraco da Onça.
Essa busca pelo passado me leva por
caminhos que trilhei na infância, quando eu era um menino magricela de orelhas
grandes. Em um domingo pela manhã, depois de levar minha pequena Mariane para
brincar no parque Juca Mulato, decidi dar uma volta pelos locais onde passei
minha infância.
Subi pela Rui Barbosa até o Cruzeiro e
desci a Bentico Pereira até dobrar a João Pereira. Ali, naquele quarteirão onde
passei grande parte de minha infância, fechei os olhos para resgatar na memória
a casa de meus avós paternos.
Olhei para a casa que depois pertenceu ao
Décio Luchetti, fechei os olhos por uns instantes e vi aquela casa antiga de número
41, com o portãozinho na frente, a área antes da sala e o portão lateral que
dava para o quintal. Por uns instantes senti algo indescritível no coração,
como um aperto me espremendo por dentro.
Imediatamente abri os olhos em busca de tudo aquilo que deixei no
passado, como se isso fosse possível. Triste por não ter mais tudo aquilo, mas
feliz por ter tido essa impressão por segundos, retornei ao mundo presente e
por mais alguns instantes pude relembrar tudo aquilo ao reencontrar a dona
Alzira Paschoal, vizinha de meus avós, que até hoje reside na mesma casa.
Minha caminhada de volta para casa ficou
mais leve depois desse episódio. Desci a Hortêncio Pereira da Silva ‘vendo’
tudo que antes existia naquele trecho.
Enxerguei a casa dos Pretti, os caminhões dos irmãos Pereira, o
bar do Júlio Cruz com a cadeira em que meu tio Ivan costumava se sentar, o
restaurante do Carlim Zacchi e a velha Igreja de Santo Antonio, com sua
escadaria. Olhei para a rua da Penha e lá estavam a barbearia do Paulo
Monfredini, a oficina de consertos do Piquica e o armazém do ‘seo’ Neco de
Freitas, bem na esquina, onde eu ia com meu avô João Butti.
Voltei para casa feliz, como se tivesse
cumprido minha missão. Relembrar tudo aquilo me deu a paz que meu coração
necessitava.
E é dessa forma que me transporto para
aquele tempo feliz. Sei que muitas vezes essa viagem dói no fundo da alma, mas
é assim que busco tudo aquilo que ficou no passado.
É assim que resgato a Itapira do meu tempo. Um tempo feliz e que
não volta nunca mais.
7 comentários:
Foi muito bom te encontrar na garagem de casa e hoje relembrar coisas da minha infancia em teu blog, sou daquele tempo, vivi minha infancia e minha fase boa dos 10 anos em diante, quando leio tuas memorias. Lembro-me da casa onde voce morava, perto do meu tio Antonio e Cida Brunialti. Da serraria que ficava junto à casa deles onde eu ia brincar na montanha de pó de serra.Como lhe disse, lembro-me do seus avós, da dª Leonor, da Marli, do Ivã e Seu João quando vinha da Olaria dos Riboldi com a moringa na mão e a sacola (imboiná, como a gente chamava) nos ombros que sua vó fazia para ele levar o almoço.
Como gostaria de voltar para aquele tempo......tempo de inocencia.
Olá Butti,
Tudo bem?
Foi um prazer enorme conhecê-lo, um ex-colega na nossa "ex-CEF", que, já não existe mais... hoje é mais um dos muitos bancos que emprestam para quem não precisa, tem um monte de comerciais de cunho social, que, não condizem com sua realidade voltada estritamente para o comercial. Mas, ficaram as boas lembranças... o Valentim, o Amauri, enfim, todos aqueles que fizeram parte da extinta "família da Caixa"...
Vamos nos falar mais, parabéns pelo seu trabalho no campo da SEI, pelo Blog, pelo site e pela sua linda filha Mariane.
Com sua licença, estarei me incluindo nos seus seguidores, bem como, farei do seu site um link do "O Filé dos Esportes" (paulofile.blogspot.com.br)
Tenho uma amizade muito legal com o Jota Jr (ambos moramos em Americana) e ele é um cara muito, mas, muito gente fina mesmo... um dos profissionais de imprensa mais ético e eclético que já conheci...(narra até par ou ímpar, com a mesma familiaridade que o faz com o nosso esporte bretão).
Forte abraço e disponha deste novo amigo.
PAULOFILÉ
Obrigado Paulo, seu blog (Filé dos Esportes) também será incorporado aos meus favoritos. Grande abraço e conte sempre com esse seu amigo.
Bons tempos! É pena que Itapira também tenha sido capturada pelo progresso. Seria tão bom que tudo permanecesse congelado no tempo.
Lembro-me de quando ia no Parque aos sábados a noite e no domingo a tarde para encontrar os amigos sem me preocupar com brigas e assaltos. Bons tempos aqueles.
Olá! amigo Butti, é um grande prazer que leio suas cronicas e me delicio lembrando com vc o que vivemos naquele tempo, tempo bão que não volta mais, qta saudadessss.
Quanta verdade em seu depoimento sobre a Itapira do passado!Eu gostaria de acrescentar alguma coisas:eu me lembro bem do armazem dos Stolf, dos Frassetto, de varios bares...da antiga estação de trens com a lanchonete bem em frente na esquina, ainda me recordo da fila de funcionarios deixando a fabrica de chapeus Sarkis...e tantas outras coisas que parecem ter sido esquecidas para a maioria das pessoas, mas não para mim! Saudade...oh saudade!
Me pego lembrando coisas que povoam meus pensamentos....como o antigo estádio de futebol que ficava em frente ao Parque Juca Mulato, com a entrada ao lado da antiga cadeia, onde hoje é um Museu,me lembro do caminhão que percorria as ruas vendendo "Carne Verde", e por falar em caminhão...me lembro do 1º caminhão de recolher lixo, da antiga "jardineira"...na qual "viajávamos" para Lindoya pela estrada esburacada de terra,e nos onibus da linha "Mineira" na qual trabalhava como motorista um dos meus irmãos, da serraria do Ferrari, da ferraria do Alemão na qual eu levava o cavalo de meu pai para "ferrar"...e tantas outras coisas que o espaço é pequeno para narrar, como minhas historias pessoais vividas, as quais me proponho à descrever se houver quem queira apreciar! Abrçs...por enquanto!
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