Sou de um tempo em que os discos de vinil eram o principal meio
para se ouvir as músicas do momento. Um tempo em que as pessoas aguardavam pelo
lançamento do disco de seus cantores preferidos para comprar os long plays ou
compactos.
Lembro bem que, além do rádio, a vitrola
era um acessório quase que obrigatório nas casas. Em forma de eletrola ou mesmo
portátil, as vitrolas ocupavam seu espaço nas salas de quase todas as
residências.
Na metade da década de 60, quando eu ainda
era um menino magricela de orelhas grandes, era na casa de meus avós paternos
que eu ouvia as músicas que faziam sucesso. Em casa não tinha vitrola, apenas
rádio, mas minha tia Marly tinha uma portátil, da marca Phillips, em cuja tampa
ficava o alto-falante. Lembro que a gente ficava no rancho do quintal,
principalmente nas datas festivas como Natal, Páscoa e Ano Novo e era naquele
aparelho que a gente ouvia as boas músicas daquela época.
Naquele tempo as baladas de Jhonny Rivers,
como Do You Wanna Dance?, Poor Side Of Town e Summer Rain, ou Sunny, de Chris
Montez, eram as nossas preferidas, assim como Happy Together, da banda The
Turtles ou No Milk Today, com Herman’s Hermits. Ficávamos, horas e horas, em
volta daquele aparelho ouvindo aquelas melodias que, embora não soubéssemos o
que a letra dizia, soavam de uma forma gostosa nos ouvidos.
Na época do Natal, quando meu tio José
Rubens, que ainda morava no seminário, estava presente, os discos do Lafayette
eram os mais tocados, assim como os discos natalinos que tinham na harpa o
principal instrumento. Ainda posso ouvir tudo isso a cada vez que relembro
aquele tempo gostoso.
Um tempo depois, já no início da década de
70, minha irmã Vera, que também é Marli assim como a Cláudia também ostenta
Marli como segundo nome – nunca vi uma família gostar tanto desse nome –
comprou uma vitrola igual e passamos a comprar os discos para ouvir em casa.
Era o tempo de B J Thomas e sua Rock and Roll Lullaby, de Billy Paul com Oh Me
Oh My, de Carole King com It’s Too Late e assim por diante. Lembro que a gente
juntava os trocados que tínhamos para comprar os discos, principalmente os
compactos, que eram mais baratos.
Minha irmã já dava aulas particulares e
tinha um monte de alunos e podia dispor do dinheiro com mais facilidade. Eu já
tinha que esperar pelo Ano Novo, quando ganhava meus trocados de Bom Princípio
do Ano, ou pela generosidade de minha mãe para juntar minha parte e contribuir
para a aquisição dos discos em 33 rotações.
Aquele era um tempo bem diferente, mais
gostoso. Os discos eram a única forma de se ter em casas as músicas preferidas.
Ao contrário do que acontece hoje, quando
se baixa uma música em segundos pela internet ou se pode ouvir um lançamento
antes mesmo dele ser colocado no mercado, a ansiedade era grande quando um
cantor de sucesso anunciava um novo disco. No final do ano, por exemplo, as
lojas ficavam abarrotadas de gente aguardando pela chegada do novo LP do
Roberto Carlos.
Como tenho saudade daqueles tempos. Como
gostaria de sentar novamente embaixo da parreira de uva da casa de minha avó
Leonor para ouvir as músicas naquela vitrolinha Phillips da minha tia Marly.
De tudo aquilo sobrou apenas a lembrança de um tempo que não volta
mais. A casa de minha avó já não existe mais, assim como ela, meu avô, meu tio
José Rubens, meu tio Ivan e meus pais já partiram desse mundo.
Minha tia Marly, embora não tenha mais a
vitrola Phillips, continua com o mesmo bom gosto de antigamente. E é quando me
sento com ela em sua casa que relembro aqueles bons momentos de minha infância.
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