Sou de um tempo em que os preparativos para o Natal consumiam dias
e dias no seio de minha família. Um tempo em que todos nós nos reuníamos para a
tradicional ceia natalina e para o almoço de Natal.
Lembro bem desse tempo e um pequeno
detalhe que seja já serve para me reportar àquela época feliz de minha
existência. Seja uma música, um enfeite natalino ou mesmo um cheirinho tradicional
de algo assando e pronto, lá vou eu para o túnel do tempo.
Esse período que antecede o Natal deixa
meu espírito desprotegido no que diz respeito aos sentimentos que a saudade
daquele tempo me dá. Basta fechar os olhos e recordar um daqueles dias e o nó
na garganta aperta, os olhos marejam e a dor da perda aparece como um bólido.
Dia desses ocorreu algo parecido que me
fez voltar imediatamente no tempo. Nas muitas andanças pelas lojas da cidade,
em uma delas, a Marfim, um frasco com aroma de pinheiro foi o bastante para me
remeter ao tempo em que eu ainda era um menino magricela de orelhas grandes.
Quando ouvi dizer que aquele spray tinha
cheiro de Natal, imediatamente fui sentir o tal cheiro para ver se era mesmo
aquele cheiro que eu sentia quando era criança. Esperava, ao sentir o aroma,
voltar aos meus tempos de infância, mas aí me bateu a dúvida: o que seria para
mim um cheiro de Natal?
Mais do que depressa me veio à mente o
cheiro da leitoa assada ou do frango assando no forno. Eram esses os aromas que
eu esperava sentir, que me faziam lembrar do Natal, não que cheiro de pinheiro
não seja um aroma natalino, mas para mim cheiro de Natal é cheiro de carne
assando no forno.
A Claudia, minha irmã mais nova, que
estava comigo na loja, sem que eu dissesse algo, já foi logo dizendo que para
ela cheirinho de Natal era aquele dos canudos recheados com doce de coco que
minha mãe fazia. Claro que nada disso havia na fragrância daquele spray, mas
aquele momento serviu para mostrar o quanto lembramos de nossa infância e das
coisas boas que guardamos dela.
Tudo isso acabou. Não temos mais o jantar
da véspera ou o almoço de Natal, na casa de nossos avós paternos, lá no alto da
Vila Pereira. Mas as boas lembranças permanecem até hoje e um simples cheiro
gostoso de assado já serve para trazer de volta todos os bons momentos daquele
tempo em que eu era um menino magricela de orelhas grandes.
Hoje, meu Natal se resume à Mariane e eu. Mas nem por isso deixa
de ser Natal. Guardo as boas lembranças no coração e procuro dar a ela tudo que
tive de bom nessa época mágica que a espera pelo Natal e pelo Papai Noel
representa para as crianças.
Faço isso porque um dia, lá no futuro, quero que ela se lembre de
tudo isso e fique feliz em ter em seu coração as recordações dos tempos em que
era criança. Assim, onde eu estiver, terei a certeza de ter feito a coisa certa
ao dar a ela tudo aquilo que tive de bom nos meus tempos de criança.
Hum, que cheirinho de Natal! Será que é leitoa assada. Ou será que
é canudo recheado com doce de coco? Só sei que deve ter alguém por aí preparando
uma bela ceia de Natal.
2 comentários:
Já estou contando os meses, os dias. Adoro natal.
Fernanda Ceragioli
Natal dos fios de ovos...e da Vó Dalva cantando velhas canções natalinas e enxugando as lágrimas emotivas no avental enquanto assava a leitoa!
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