Sou de um tempo em que casamento era para a vida toda. Um tempo em
que a união de duas pessoas era o alicerce para a construção de um lar e uma
família verdadeira. Cresci acreditando nisso e tive como exemplo vivo a vida a
dois de meus pais, que por mais de meio século formaram um casal exemplar.
As regras básicas que regem a união perante Deus eram encontradas
com facilidade no seio daquela união. Na alegria e na tristeza, na saúde e na
doença, e por aí afora. Tudo isso fez parte da vida a dois dessas duas
criaturas que me colocaram nesse mundo.
Quando vejo um casal já com os cabelos
pintados pelo tempo, a pele marcada pela longevidade e o corpo arcado pelo peso
dos anos e das dificuldades por eles imposta vem à minha memória a cena de meus
pais sentados na porta de casa, sempre juntos, sempre com algum assunto para
conversar. E não tem como segurar as lágrimas e o nó que se instala na
garganta.
O tempo é cruel e implacável e nos leva
tudo que temos. Somente a lembrança doída, mas ao mesmo tempo gostosa, é que
permanece.
E é nesse tempo de aproximação das festas
natalinas que essa lembrança fica mais viva. Voltam à tona os tempos felizes em
que aquele menino magricela de orelhas grandes ficava com o coraçãozinho
repleto de felicidade pela ansiedade que tomava conta na espera pelo Natal.
São tempos que não voltam mais, que guardo
em minha memória como cristais indestrutíveis. Capazes de iluminar minhas
lembranças e colocar à minha frente cenas que me fazem chorar e rir ao mesmo
tempo.
É como se eu pudesse ver o presente atrás da porta, perto dos
sapatos colocados na noite anterior junto com o capim e a água para os
burrinhos do Papai Noel, como dizia minha mãe.
Relembrar tudo isso, apesar da triste
constatação de que não é possível entrar no túnel de tempo e retroceder,
revigora minhas forças para a batalha em busca da paz e da felicidade. Busco
naquele tempo o que é necessário para seguir em frente no caminho da vida,
aplicando na educação de minha pequena Mariane os ensinamentos que tive
enquanto criança.
Se um dia Deus me permitir reencontrar
meus pais e lhes dirigir algumas palavras, com certeza direi obrigado. Obrigado
pela educação que me foi dada, pelo sentimento de respeito pelas pessoas, pelos
momentos – e não foram poucos – em que encheram meu coração de alegria.
E, mais que tudo, pedirei perdão. Perdão por não ter feito por
eles tudo o que mereciam.