Cresci ouvindo rádio e acho que isso me fez ter essa vocação para
ser um profissional da voz, entre tantos outros afazeres ligados à comunicação.
Desde minha infância o rádio faz parte da minha existência.
Lembro muito bem da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, emissora em
que minha mãe ouvia as radionovelas e os programas de auditório comandados por
César de Alencar. Tal era sua afeição à emissora e sua programação que em 1965,
quando fui ao Rio pela primeira vez, minha mãe fez meu pai incluir no roteiro
uma passagem pelo programa do César de Alencar. Tinha oito anos na época e não
me lembro bem das atrações, mas o auditório e suas cadeiras ainda estão
gravados em minha memória.
Depois dessa fase veio o período em que a Rádio Bandeirantes e a
Tupi eram a bola da vez. Minha irmã mais velha era fã dos programas comandados
por Hélio Ribeiro (Bandeirantes) e Barros de Alencar (Tupi) e eu ali, sempre na
escuta.
Minha fase independente, já aos 14 anos, mudou o cardápio
radiofônico para emissoras como Excelsior, de São Paulo; Inconfidência, de Belo
Horizonte, e Mundial, do Rio. Mas ainda era pouco, precisava de mais, precisava
participar, viver esse mundo maravilhoso do rádio.
E foi aí que passei a ser fiel ao que era nosso. Descobri que
pertinho de mim havia um campo que poderia ser explorado e que bastava ter um
pouco de talento para ganhar uma oportunidade.
Era legal acordar todos os dias ouvindo o Jornal da Clube,
comandando pelo Toy Fonseca (depois descobri que ele apresentava o programa de
pijama, pois a rádio ficava embaixo da sua casa, na Campos Salles).
Um dia criei coragem e fui tentar a sorte. Sempre atento e aberto
aos novos talentos, Toy me deu uma chance no programa musical que abria a
programação da tarde. Era um programa tipo Cultura FM de Amparo, em que você
fala o nome da música, o intérprete, o autor e a hora.
Apesar de ter gostado da minha performance, não fui aprovado.
Fiquei triste, mas não desisti. Um tempo depois lá estava eu, apresentando um
programa esportivo na emissora e realizando meu sonho.
O Bola Rolando inovou, agradou os ouvintes e preencheu, de certa
forma, a lacuna deixada pela saída de Waldemar Silvestre. Foram tempos áureos
da Clube, que tinha parceria com a Globo-SP e mostrava os jogos via rede.
Em 86, no auge dessa época, uma linha 24 horas, direto do México,
colocava os ouvintes em contato com o dia-a-dia da seleção em plena Copa do
Mundo. Pena que a turma do Telê não deu no couro e caiu nas quartas-de-final
ante a França de Platini.
Vivi e aprendi muito na Clube. Aprendi o que pude colocar em
prática anos mais tarde, quando fui para a Rádio CBN, do Sistema Globo de
Rádio.
Nunca deixei de lado o aprendizado que recebi na Clube e nunca
escondi isso de ninguém. Nem mesmo quando entrava ao vivo para todo o Brasil.
Afinal, se sabia falar ‘ao vivo’ era porque tinha aprendido em algum lugar.
E, cá entre nós, quem já tinha enfrentado um Carnaval de rua em
seus áureos tempos, incluindo a sempre conturbada apuração, ou uma apuração de
eleição, não iria tremer ante qualquer entrada ao vivo para o Brasil todo.
Hoje, mais de 20 anos depois que deixei a Clube, ainda curto ter
participado de sua história. Guardo muito bem o aprendizado que tive com meus
dois primeiros e bons mestres, Toy Fonseca e José Antonio (Tuia) Pires de
Souza, além do prazer de ter trabalhado com operadores de áudio como Jorge Luiz
Bonaldo e Gracini Neto.
Ao completar 60 anos, a emissora está pronta para iniciar uma nova
era e, novamente, alcançar patamares de qualidade e audiência capazes de
inspirar a paixão pelo rádio em um sem número de jovens. Como ocorreu comigo e
com muitos outros, que abraçaram a carreira radiofônica a partir dessa
inspiração mágica que só o rádio é capaz de instigar.
Ainda sonho em devolver à Clube tudo que dela ganhei. Aplicar meus
parcos conhecimentos na formatação de um programa jornalístico aos moldes do
padrão de grandes emissoras que priorizam a informação e abrir caminho para
jovens talentos na área do jornalismo informativo.
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