Ninguém gosta de perder, principalmente quando se é criança ou
mesmo adolescente. Com o passar dos anos as derrotas vão nos mostrando que nem
sempre se vence e o jeito é aprender com elas.
E uma junção das duas coisas, ou seja,
querer vencer e aprender com a derrota foi o que aconteceu na minha
adolescência. Era o tempo em que o Paulistinha, time da minha rua, envergava
sua camisa vermelha, tingida em um tambor na oficina do Luciano Venturini e com
números pintados com tinta branca de pintar carroceria de caminhão.
Naquela época costumávamos organizar
torneios no nosso campinho, ao lado do ribeirão da Penha, bem atrás de onde
ficava a fábrica de sofás da Jupira. Nas tardes de domingo nosso time
enfrentava, quase sempre, o time do Pito Aceso, que para quem não era da época,
é o setor que engloba as ruas Santos Dumont, Romano Mozzaquatro e parte do
final da Francisco Glicério, além da Carlos Chagas; e o time do bairro dos
Prados.
Havíamos perdido um torneio para o pessoal
do Pito Aceso, que tinha um time forte e cheio de garotos um pouco mais velhos.
E aquela derrota estava entalada na nossa garganta. Afinal, perder em casa era
uma humilhação para quem estava acostumado a derrotar a maioria dos times da
cidade.
Para recuperar o moral e a taça, que eles
tinham levado embora, o jeito foi organizar outro torneio e arriscar tudo. No
primeiro jogo, como sempre, batemos o time dos Prados com facilidade e
esperamos os dois se enfrentarem para depois travar a batalha final contra o
temido time do Pito Aceso.
O campinho estava cheio de gente, tinha
até uma barraquinha montada embaixo de uma goiabeira que ficava na
ponta-esquerda de quem atacava para o gol da avenida Brasil. Minha mãe havia
torrado amendoim e feito Ki-suco, que vendíamos para arrecadar um dinheirinho
para o time.
Estava tudo pronto para a decisão, mas
tínhamos que arrumar um jeito de vencer. Tirar alguma carta da manga para
surpreender o temido adversário.
Foi aí que surgiu a luz no fim do túnel.
No barranco, assistindo o torneio, estava o Zé Mário Piardi, que era uns anos
mais velho e bem mais alto e forte que todos nós.
O convite foi feito e o Zé Mário, hoje morando na tranquila São
Vicente, arregaçou as calças de pano xadrez e entrou em campo para compor no
meio-campo.
Não que ele fosse um Gérson, um Ademir Da
Guia, um Rivelino ou um craque da bola, mas seu tamanhão, ali no meio daqueles
meninos, fez a diferença e vencemos o jogo por 2 a 1.
O moral e a taça estavam resgatados e, por
medida de segurança, nunca mais organizamos um torneio com a presença do time
do Pito Aceso. Era melhor ficar com o gostinho da vitória e ver nosso troféu na
prateleira da alfaiataria do Carlos Venturini do que correr o risco de outro
vexame em casa.
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