sábado, 15 de maio de 2010

Um gigante no meio-campo

Ninguém gosta de perder, principalmente quando se é criança ou mesmo adolescente. Com o passar dos anos as derrotas vão nos mostrando que nem sempre se vence e o jeito é aprender com elas.

E uma junção das duas coisas, ou seja, querer vencer e aprender com a derrota foi o que aconteceu na minha adolescência. Era o tempo em que o Paulistinha, time da minha rua, envergava sua camisa vermelha, tingida em um tambor na oficina do Luciano Venturini e com números pintados com tinta branca de pintar carroceria de caminhão.

Naquela época costumávamos organizar torneios no nosso campinho, ao lado do ribeirão da Penha, bem atrás de onde ficava a fábrica de sofás da Jupira. Nas tardes de domingo nosso time enfrentava, quase sempre, o time do Pito Aceso, que para quem não era da época, é o setor que engloba as ruas Santos Dumont, Romano Mozzaquatro e parte do final da Francisco Glicério, além da Carlos Chagas; e o time do bairro dos Prados.

Havíamos perdido um torneio para o pessoal do Pito Aceso, que tinha um time forte e cheio de garotos um pouco mais velhos. E aquela derrota estava entalada na nossa garganta. Afinal, perder em casa era uma humilhação para quem estava acostumado a derrotar a maioria dos times da cidade.

Para recuperar o moral e a taça, que eles tinham levado embora, o jeito foi organizar outro torneio e arriscar tudo. No primeiro jogo, como sempre, batemos o time dos Prados com facilidade e esperamos os dois se enfrentarem para depois travar a batalha final contra o temido time do Pito Aceso.

O campinho estava cheio de gente, tinha até uma barraquinha montada embaixo de uma goiabeira que ficava na ponta-esquerda de quem atacava para o gol da avenida Brasil. Minha mãe havia torrado amendoim e feito Ki-suco, que vendíamos para arrecadar um dinheirinho para o time.

Estava tudo pronto para a decisão, mas tínhamos que arrumar um jeito de vencer. Tirar alguma carta da manga para surpreender o temido adversário.

Foi aí que surgiu a luz no fim do túnel. No barranco, assistindo o torneio, estava o Zé Mário Piardi, que era uns anos mais velho e bem mais alto e forte que todos nós.

O convite foi feito e o Zé Mário, hoje morando na tranquila São Vicente, arregaçou as calças de pano xadrez e entrou em campo para compor no meio-campo.
Não que ele fosse um Gérson, um Ademir Da Guia, um Rivelino ou um craque da bola, mas seu tamanhão, ali no meio daqueles meninos, fez a diferença e vencemos o jogo por 2 a 1.


O moral e a taça estavam resgatados e, por medida de segurança, nunca mais organizamos um torneio com a presença do time do Pito Aceso. Era melhor ficar com o gostinho da vitória e ver nosso troféu na prateleira da alfaiataria do Carlos Venturini do que correr o risco de outro vexame em casa.

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