Não conheci meu avô materno. Anos antes do meu nascimento um
câncer o levou aos 54 anos. ‘Seo’ Antonio Papaléo, pelo que minha mãe contava,
era um homem austero, inteligente e muito bem informado.
Além de algumas parcas fotos que restaram
do seu tempo aqui na terra, sobrou para minha família um rádio, daqueles bem
antigos, da marca Saratoga. Por muitos anos aquele aparelho ficou num canto da
sala, sem muito uso pois, apesar da nossa casa ainda não ter um aparelho de TV,
minha mãe tinha outro rádio no quarto e era nele que ouvia as novelas da rádio
Nacional do Rio de Janeiro todas as tardes, enquanto bordava, fazia crochê ou
tricô.
Quando passei a gostar de ouvir rádio e a
ter acesso a eles foi naquele velho aparelho herdado do meu avô que comecei a
procurar por emissoras e programas. Lembro bem do som forte e limpo que seu
potente falante emitia.
À noite era nele que eu ouvia a
programação da rádio Mundial do Rio de Janeiro, uma AM que botava qualquer
emissora de FM, principalmente as de hoje, no chinelo. Era gostoso ficar horas
e horas olhando pro nada, imaginando como era a emissora por dentro e ouvir as
baladas e as vozes incomparáveis de seus locutores.
O Saratoga resistia bem ao tempo e à minha
curiosidade. Seu único defeito estava no botão da sintonia, que não funcionava
mais por ter escapado do cordão que girava o dial. Mas isso não era problema
para aquele menino magricela de orelhas grandes que já estava se tornando um
jovem.
Era só meter a mão por detrás do aparelho e girar o barbante com a
mão. É claro que de vez em quando dava umas queimadas nos dedos por causa das
válvulas, mas valia a pena.
Mas, como tudo que é bom dura pouco, meu
velho companheiro acabou me deixando sozinho. Não por minha ou sua culpa, mas
por causa de um primo, que ‘entendia’ de tudo e se meteu a enrolar o motorzinho
do Saratoga.
Na esperança de ver o velho rádio novo em
folha, vi ele levar a peça embora e, depois de um bom tempo, voltar com a mesma
toda melada, dizendo que não prestava mais. Foi o fim de uma parceria muito
prazerosa, que me fez viajar nas ondas do rádio e tomar ainda mais gosto por
esse meio de comunicação incrível, capaz de aguçar nossa imaginação.
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