segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Saratoga do meu avô

Não conheci meu avô materno. Anos antes do meu nascimento um câncer o levou aos 54 anos. ‘Seo’ Antonio Papaléo, pelo que minha mãe contava, era um homem austero, inteligente e muito bem informado.

Além de algumas parcas fotos que restaram do seu tempo aqui na terra, sobrou para minha família um rádio, daqueles bem antigos, da marca Saratoga. Por muitos anos aquele aparelho ficou num canto da sala, sem muito uso pois, apesar da nossa casa ainda não ter um aparelho de TV, minha mãe tinha outro rádio no quarto e era nele que ouvia as novelas da rádio Nacional do Rio de Janeiro todas as tardes, enquanto bordava, fazia crochê ou tricô.

Quando passei a gostar de ouvir rádio e a ter acesso a eles foi naquele velho aparelho herdado do meu avô que comecei a procurar por emissoras e programas. Lembro bem do som forte e limpo que seu potente falante emitia.

À noite era nele que eu ouvia a programação da rádio Mundial do Rio de Janeiro, uma AM que botava qualquer emissora de FM, principalmente as de hoje, no chinelo. Era gostoso ficar horas e horas olhando pro nada, imaginando como era a emissora por dentro e ouvir as baladas e as vozes incomparáveis de seus locutores.

O Saratoga resistia bem ao tempo e à minha curiosidade. Seu único defeito estava no botão da sintonia, que não funcionava mais por ter escapado do cordão que girava o dial. Mas isso não era problema para aquele menino magricela de orelhas grandes que já estava se tornando um jovem.

Era só meter a mão por detrás do aparelho e girar o barbante com a mão. É claro que de vez em quando dava umas queimadas nos dedos por causa das válvulas, mas valia a pena.

Mas, como tudo que é bom dura pouco, meu velho companheiro acabou me deixando sozinho. Não por minha ou sua culpa, mas por causa de um primo, que ‘entendia’ de tudo e se meteu a enrolar o motorzinho do Saratoga.

Na esperança de ver o velho rádio novo em folha, vi ele levar a peça embora e, depois de um bom tempo, voltar com a mesma toda melada, dizendo que não prestava mais. Foi o fim de uma parceria muito prazerosa, que me fez viajar nas ondas do rádio e tomar ainda mais gosto por esse meio de comunicação incrível, capaz de aguçar nossa imaginação.

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