Sou de um tempo em que todo mundo conhecia todo mundo. Um tempo em
que havia mais respeito pelas pessoas e laços de amizade mais sinceros com a
vizinhança.
Lembro bem dos meus tempos de criança,
época em que os vizinhos eram como se fossem da família. No primeiro quarteirão
da Comendador João Cintra, onde nasci e vivi grande parte da vida, ali pertinho
do início da avenida Brasil, as pessoas se davam bem e se ajudavam quando
necessário.
Guardo na memória cada habitante daquele
pedaço que, para mim, um menino magricela de orelhas grandes, era tão grande
que tinha a imensidão do mundo. Lembro da feição de cada um, suas
particularidades e até mesmo a forma engraçada que minha avó materna,
italianíssima de Nápoles, tratava cada um.
Do lado de lá da ladeira São João, na
esquina, tinha a casa do Nilo Boretti e da dona Wilma. Ele, um cozinheiro de
mão cheia, principalmente quando o assunto era uma boa massa, e ela sempre
debruçada nas costuras.
Na descida da ladeira moravam o Santim
Giovelli e a dona Cida, nossa vizinha de muro e de receitas, pais do
Hermenegildo e da Rosângela. Na esquina, já na Comendador João Cintra, ficava a
residência do sapateiro Antonio Nóris, que minha vó Carmela chamava de
tritacuni ou corta couro na tradução para o português, e da dona Catarina.
Antes da nossa casa ainda tinha a moradia da dona Dinha, irmã da Cida Giovelli.
Do outro lado, também vizinhos de muro, o
maestro Américo Passarella e a dona Olga. Como era bom ouvir os ensaios do
‘seo’ Américo, que comandava a Banda Lira Itapirense e tocava pistão.
Na sequência vinha a alfaiataria do Carlos
Venturini e da dona Nega. Era ali que eu me informava sobre as notícias do
esporte lendo a Gazeta Esportiva.
Seguindo em direção à XV de Novembro vinha
a casa de minha tia Angelina Venturini, o armazém e residência de seu genro Zé Breda,
e a casa do Nando Venturini. Um pouco mais adiante morava o Zé Rocha e em
seguida o Tunim Avancini, que alugava a casa de baixo para o Hélio Jacomini. O
consultório dentário do Naite Avancini era o último antes do armazém dos
Tellini, que ficava na esquina com a XV.
Do outro lado da rua, ao lado do escadão,
reinava absoluto o palacete que abriga até hoje o Cartório Civil, sendo que em
cima dele residia o Ângelo Lizi. A casa ao lado pertencia ao Zinho Modonezi,
que tinha como vizinha a ferraria do Bertino, mais tarde substituída pela sede
da Banda Lira.
Do lado dela tinha o sobrado da família
Secchi Franco, única do quarteirão que possuía uma televisão. Era lá que as
crianças do pedaço, no início da noite, como se fosse uma sessão de cinema,
assistiam os desenhos animados e seriados.
Na casa seguinte residia o Hildebrando
Banzatto. Depois vinha a casa da igreja presbiteriana.
Como era bom aquele tempo em que se podia
brincar à noite na rua sem medo e sem os perigos dos dias atuais. Como era bom
aquele tempo em que cada quarteirão era como uma comunidade, pois era ali que
girava o nosso mundo e a vida de cada um.
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