quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Um mundo chamado quarteirão

Sou de um tempo em que todo mundo conhecia todo mundo. Um tempo em que havia mais respeito pelas pessoas e laços de amizade mais sinceros com a vizinhança.

Lembro bem dos meus tempos de criança, época em que os vizinhos eram como se fossem da família. No primeiro quarteirão da Comendador João Cintra, onde nasci e vivi grande parte da vida, ali pertinho do início da avenida Brasil, as pessoas se davam bem e se ajudavam quando necessário.

Guardo na memória cada habitante daquele pedaço que, para mim, um menino magricela de orelhas grandes, era tão grande que tinha a imensidão do mundo. Lembro da feição de cada um, suas particularidades e até mesmo a forma engraçada que minha avó materna, italianíssima de Nápoles, tratava cada um.

Do lado de lá da ladeira São João, na esquina, tinha a casa do Nilo Boretti e da dona Wilma. Ele, um cozinheiro de mão cheia, principalmente quando o assunto era uma boa massa, e ela sempre debruçada nas costuras.

Na descida da ladeira moravam o Santim Giovelli e a dona Cida, nossa vizinha de muro e de receitas, pais do Hermenegildo e da Rosângela. Na esquina, já na Comendador João Cintra, ficava a residência do sapateiro Antonio Nóris, que minha vó Carmela chamava de tritacuni ou corta couro na tradução para o português, e da dona Catarina. Antes da nossa casa ainda tinha a moradia da dona Dinha, irmã da Cida Giovelli.

Do outro lado, também vizinhos de muro, o maestro Américo Passarella e a dona Olga. Como era bom ouvir os ensaios do ‘seo’ Américo, que comandava a Banda Lira Itapirense e tocava pistão.

Na sequência vinha a alfaiataria do Carlos Venturini e da dona Nega. Era ali que eu me informava sobre as notícias do esporte lendo a Gazeta Esportiva.

Seguindo em direção à XV de Novembro vinha a casa de minha tia Angelina Venturini, o armazém e residência de seu genro Zé Breda, e a casa do Nando Venturini. Um pouco mais adiante morava o Zé Rocha e em seguida o Tunim Avancini, que alugava a casa de baixo para o Hélio Jacomini. O consultório dentário do Naite Avancini era o último antes do armazém dos Tellini, que ficava na esquina com a XV.

Do outro lado da rua, ao lado do escadão, reinava absoluto o palacete que abriga até hoje o Cartório Civil, sendo que em cima dele residia o Ângelo Lizi. A casa ao lado pertencia ao Zinho Modonezi, que tinha como vizinha a ferraria do Bertino, mais tarde substituída pela sede da Banda Lira.

Do lado dela tinha o sobrado da família Secchi Franco, única do quarteirão que possuía uma televisão. Era lá que as crianças do pedaço, no início da noite, como se fosse uma sessão de cinema, assistiam os desenhos animados e seriados.

Na casa seguinte residia o Hildebrando Banzatto. Depois vinha a casa da igreja presbiteriana.


Como era bom aquele tempo em que se podia brincar à noite na rua sem medo e sem os perigos dos dias atuais. Como era bom aquele tempo em que cada quarteirão era como uma comunidade, pois era ali que girava o nosso mundo e a vida de cada um.

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