Sou de um tempo em que frango de granja era novidade. As galinhas
e os frangos caipiras predominavam na face da terra e os branquelos eram motivo
de curiosidade.
No meu tempo de criança quase todo sábado
era dia de pagar mico. Está certo que essa gíria ainda não existia, mas, com
certeza, cairia como uma luva diante da situação que me era imposta.
Quando tinha meus 10 ou 11 anos meu pai
era um dos sete sócios da Fábrica de Móveis Santa Terezinha. Situada no final
da avenida Rio Branco, onde depois funcionou a Fábrica de Calçados Bellini, a
empresa fabricava móveis de qualidade, que eram comercializados em lojas de
móveis de toda a região, além do atendimento direto ao cliente.
E para fabricar os móveis era necessário
serrar a madeira que vinha de Caçador, em Santa Catarina. O processo resultava
também em um monte de cavaco, que virava piso de granja.
O destino desse cavaco era um granja de
Serra Negra, que em troca oferecia aos proprietários alguns galináceos. O
presente era dividido de forma justa e cada um dos sócios da fábrica levava
dois frangos para casa. Quer dizer, levavam coisa nenhuma, pois essa tarefa
cabia a nós, filhos, que tínhamos que buscar os bichinhos e fazer o trajeto de
volta com eles a tiracolo até chegar em casa.
Atravessar a Rio Branco inteira com aqueles dois bípedes, um em
cada mão, era uma tarefa árdua. Talvez, por saberem que o destino deles seria
uma panela, ficavam irriquietos e tentando a todo custo subir pelos braços
daquele menino magricela de orelhas grandes, ávido por chegar em casa e se
livrar daquele mico.
Está certo que depois de virarem um belo e
suculento complemento para a polenta que minha mãe fazia os bichinhos até que
se tornavam simpáticos, mas a viagem de pouco mais de um quilômetro com eles a
bordo era terrível. Sorte mesmo tinham o Tatão e o Tatinha, filhos do Tila
Avancini, que por serem dois podiam dividir a tarefa e o mico.
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