Sou de um tempo em que o trem era um dos principais meios de
transporte do país. Um tempo em que nossos políticos ainda não tinham tido a
infelicidade de extinguir esse meio de locomoção de cargas e pessoas.
E, naquele tempo, andar de trem era uma
das mais fantásticas aventuras que havia. Demorava pra chegar? Sim, mas valia a
pena e, quem não teve a oportunidade de viajar de trem não sabe o que perdeu.
Quando eu tinha meus seis anos de idade e
era um menino magricela de orelhas grandes, passear na fazenda São Miguel, em
Martim Francisco, era algo que me fazia feliz. Minha tia Jacira, irmã de minha
mãe, residia naquela propriedade, que era administrada por meu tio Osório.
Bem cuidada, a fazenda, de propriedade dos
Cavenaghi, tinha um pomar defronte a casa em que meus parentes residiam que era
algo de dar inveja a qualquer produtor. Ali eram encontradas as mais variadas
frutas, desde a simples laranja até a castanha portuguesa, aquela que se
cozinha antes de comer.
Lembro bem de como era gostoso acordar
cedinho no sábado e descer a rua José Bonifácio até a esquina da Alfredo Pujol
e depois subir até a estação da Mogiana. O trem saía às seis da manhã com
destino a Mogi Mirim, onde era feita a baldeação até Martim Francisco. Dali até
a fazenda o trajeto era feito na charrete em que meu primo Beto ia nos buscar.
Lembro de tudo isso com aquela saudade que
aperta o peito, dá um nó na garganta e nos deixa triste e feliz ao mesmo tempo.
Triste por não ter mais como voltar no tempo e reviver tudo aquilo. Feliz por
ter vivido aqueles momentos prazerosos.
Lembro também de como minha avó materna
descia a José Bonifácio em desabalada carreira com medo de perder o trem. Até
aí tudo bem, não fosse o fato do trem sair as seis da estação e minha avó iniciar
o trajeto quando o velho relógio de parede de casa ainda não ter dado as cinco
badaladas.
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