Sou de um tempo em que música era algo marcante, assim como um
perfume. Um tempo que música era algo que ficava para sempre, bem diferente do
que se ouve nos dias de hoje.
Lembro bem dos meus tempos de criança,
quando ainda era aquele menino magricela de orelhas grandes, Naquela época o
programa da moda era comandado pelo Dácio Clemente, com quem, mais tarde, tive
o prazer de trabalhar e que passei a admirar pelo seu profissionalismo à frente
dos microfones da Rádio Clube.
Fui crescendo e experimentando outras
emoções, descobrindo novas emissoras e ampliando meu mundo radiofônico e meu
gosto musical. Aos 14 anos, já na quarta série ginasial no IEEESO, meu gosto
musical já havia tomado a forma que permanece até hoje, mais quarenta anos
depois.
Lembro bem que minha carteira na escola
era a primeira de uma fila que tinha, na sequência, o Rudyard Trani, o Plininho
Cremasco, o Alexandre Caio e o Kilão Galdi. Foi um ano marcante em minha
vida, talvez o melhor deles, principalmente pela convivência escolar.
Como sempre tinha boas notas e era um dos
melhores alunos da classe, me permitia, de vez em quando, uma escapada das
aulas para ouvir rádio na casa do Rudyard, que morava na Santos Dumont, no
chamado Pito Aceso.
Não fazíamos nada de errado. Afinal, íamos
sempre que não havia aula importante. Mas, de qualquer forma, enforcar aula era
sempre algo considerado errado por nossos pais.
Embora soubéssemos que estávamos burlando
a vigilância deles, nunca íamos direto pra casa do Rudyard. Sempre descíamos a
Rui Barbosa até a José Bonifácio para subir a rua principal e depois descer a
Comendador João Cintra até chegar ao famoso Pito Aceso.
Nossa rádio preferida era a Excelsior, de
São Paulo, conhecida como A Máquina do Som. Sua programação e suas músicas só
eram comparadas com o que tocava na Mundial, do Rio de Janeiro, emissora que só
se conseguia ouvir à noite.
Ali ficávamos por horas, jogando conversa
fora e ouvindo aquelas músicas que me encantavam. Invariavelmente éramos
descobertos pela dona Edna, mãe do Rudyard, que depois de nos repreender pelo
fato de enforcar aula, nos convidava para um café da tarde, sempre acompanhado
por pão com requeijão.
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