Sou de um tempo em que televisão era artigo de luxo e a maioria
das famílias não tinha recursos para contar com aquela novidade. Um tempo em
que o lazer preferido das famílias e talvez um dos únicos era sentar na calçada
para conversar no início da noite.
Lembro bem que com minha família não era
diferente. Ver televisão era algo raro e, quando ocorria, era na casa de algum
vizinho.
Nasci e cresci na casa de número 20 da rua
Comendador João Cintra. Foi ali que vivi grande parte de minha existência.
Quando nasci era uma casa antiga, com teto
alto e assoalho de madeira com buracos que deixavam ver o andar de baixo.
Naquele tempo eu ainda era um menino magricela de orelhas grandes.
Somente no final da década de 60, mais
precisamente em 1970, na época da Copa do Mundo do México, quando eu já contava
13 anos, que uma nova casa começou a surgir a partir das idéias de minha mãe,
que praticamente desenhou nossa nova residência.
E quando a reforma por fim terminou, já em
71, alguns acessórios foram adquiridos para dar vida à casa. E, entre eles,
três banquinhos em fórmica que circundavam uma pequena mesa de mármore
incrustada na parede da cozinha.
Está certo que os mesmos praticamente
nunca foram utilizados como assento para refeições naquela mesa. Primeiro
porque dificilmente alguém comia ali e, depois, porque eram extremamente baixos
para tal finalidade.
Mas o destino havia reservado uma tarefa
mais importante para aqueles bancos nanicos e de pernas finas. Quis o destino
que por mais de três décadas fossem eles as testemunhas de uma das uniões mais
perfeitas que já vi.
Por mais de três décadas aqueles
banquinhos serviram como assento para meus pais se sentarem na porta de casa.
Fosse de dia ou de noite, a cada folga nos afazeres domésticos ou no trabalho e
lá estavam os dois, sentados nos banquinhos jogando conversa fora ou planejando
algo novo para nossa família.
Cresci vendo aquela cena e hoje, alguns
anos depois que meu pai se foi e depois da partida de minha mãe, a cada vez que
passo por aquele quarteirão, sinto a presença de ambos.
Olho para aquela casa, de coração apertado
e a saudade aflorada no peito e parece que vejo os dois sentados ali,
encostados no portãozinho do abrigo. Essa cena não me sai da memória e, mesmo à
distância, se fecho os olhos posso visualizar ambos ali sentados.
Os banquinhos nem sei onde foram parar.
Foram consumidos pelo tempo e se deterioraram, mas a lembrança permanece
intacta e a imagem nítida em minha retina.
Infelizmente o tempo é implacável e senhor de todas as coisas. Ele
rege nossa vida e nossa história e nada podemos fazer para mudar o curso
natural das coisas.
É como um rio, que segue seu curso deixando para trás as marcas
indeléveis de sua força. Tal como as águas, que passam e não voltam mais, nossa
vida segue seu curso de acordo com o tempo e, por mais que desejamos, jamais
conseguiremos voltar no tempo para reviver tudo o que já se foi.
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