Sou de um tempo em que ouvir a banda tocar na praça nas noites de
domingo era o lazer preferido de quase todas as famílias. O antigo coreto da praça
Bernardino de Campos ficava rodeado de pessoas para a tradicional retreta
domingueira.
Naquele tempo a Banda Lira era a atração
em quase todos os eventos. Fosse festa, procissão ou jogo de futebol e lá
estava a corporação para dar um toque especial.
Lembro bem que, quando eu ainda era um
menino magricela de orelhas grandes e o barracão onde funcionava a ferraria do
Bertino começou a ser desmanchado para a construção da sede da Banda Lira no
quarteirão de minha casa passei a ter um contato ainda maior com a banda. Desde
pequeno eu já estava acostumado a ouvir os acordes do pistão do maestro Américo
Passarella, que era vizinho de minha casa.
Mas foi a partir da mudança da sede da
banda para os arredores de casa que passei a ouvir com mais frequência todos os
ensaios e a admirar ainda mais aqueles senhores, que aos domingos vestiam o
uniforme na cor oliva para as retretas na praça. Lembro de alguns integrantes
como o Berto Pontes, o Dito Ventania, os Marcati, o Américo Levatti, o
Joãozinho Brandão, os Riberti, os Bazani e tantos outros que passaram pela
corporação, deram sua contribuição e foram importantes para que tantos jovens
se interessassem em fazer parte da Lira.
Recordo, como se fosse hoje, dos
aniversários da banda, no mês de abril, quando todos nós, vizinhos da sede,
éramos convidados para a festa. Lembro da entrada da sede, antes da mesma cair
durante um temporal, no início dos anos 80, com a grade cercada de pequenos
arbustos antes da porta principal.
Aquele era um tempo diferente, um tempo em
que as pessoas saíam de casa nas noites de domingo para ouvir a banda que a
gente, carinhosamente, chamava de Furiosa. Bem diferente dos tempos atuais, a
praça tinha vida, as pessoas frequentavam os bares e cinemas que a rodeavam e
davam valor para tudo aquilo, pois era ali que ocorria o movimento noturno da
cidade.
Como era bom acordar nos feriados em que
havia procissão ou mesmo a alvorada do 13 de maio e ouvir a banda, logo no
início da madrugada. Lembro que a mesma deixava a sede já executando as marchas
e dobrados que ainda hoje, quando ouço, me emocionam e me remetem àquele tempo
tão diferente e gostoso.
Aquele foi um tempo feliz de minha vida.
Um tempo em que as pessoas davam mais valor a tudo e tinham respeito pelos seus
semelhantes.
Um tempo em que não se via locais públicos
destruídos pelo simples prazer de destruir, como acontece nos dias atuais. Um
tempo em que as famílias podiam frequentar a praça ou o parque Juca Mulato nas
noites de domingo sem o medo de serem molestadas por vândalos ou incomodadas
pela selvageria que se vê pelas ruas nos dias de hoje.
Quem saía de casa para ouvir a banda tocar
na praça podia ter a certeza de que conseguiria ouvir de fato, sem ser
incomodado pelos carros que hoje circulam pelas ruas com o volume do som nas
alturas, parecendo que o motorista deseja que todos saibam o quanto é péssimo o
seu gosto musical. Quem se sentava nos bancos da praça podia fazê-lo com a
certeza de que voltaria para casa feliz em ter tido a oportunidade de dar à
família um pouco de lazer antes de iniciar uma nova semana de trabalho.
Pena que aquele tempo já não existe mais.
Pena que ficou apenas na memória de quem viveu aquele tempo e, como eu, já com
os cabelos pintados pelo tempo, sinta um pontinha de dor no peito a cada vez
que recorda de tudo aquilo.
2 comentários:
Prezado
Gostaria de saber sem tem alguma foto da banda furiosa, pois meu bisavô tocava trombone. Floriano Zizzi
ezizzi@gmail.com
www.linhadiretadoconsumidor.com
Caro Estêvão, não tenho fotos, mas se você acessar o site www.sfreinobreza.com vai encontrar diversas fotos da banda Lira. Abraços e obrigado.
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