quinta-feira, 27 de maio de 2010

Minha primeira eleição

Sou de um tempo em que se aprendia, de fato, nos bancos escolares. Um tempo em que os valores morais ditavam as regras e o respeito para com os educadores era o mesmo que tínhamos em casa, para com nossos pais.

E, naquele tempo, o aluno saía do quarto ano primário afiado, sabendo de fato ler e escrever. Se não aprendesse era reprovado e havia a necessidade de cursar novamente a mesma série no ano seguinte. Bem diferente do que temos hoje no ensino de modo geral.

Tive excelentes educadoras, principalmente nos quatro anos de primário. Professoras como Ismaelina Proença Pinto, Genny Piva Zázera, Gilmery Vasconcellos Pereira Ulbricht e Ivone Pegorari Vieira foram pessoas fundamentais na minha educação, tanto na formação escolar como na formação moral.

Lembro bem que minha afeição aos números já vem de longe, dos primeiros anos de Júlio Mesquita. Gostava dos números e das estatísticas que eles proporcionavam.

E foi dessa forma que vivi intensamente minha primeira eleição. O ano, lembro bem, era 1968. A disputa pela cadeira de prefeito tinha nomes respeitáveis como Hélio Pegorari, César Bianchi e Alcides de Oliveira, pela Arena, e Pedro Boretti, pelo MDB, que era a oposição.

Claro que eu não era eleitor ainda, afinal tinha apenas 11 anos. Mas pela proximidade da casa de meus avós paternos com a residência dos Bianchi, na João Pereira, meu candidato na disputa passou a ser o César Bianchi.

Acompanhei a apuração dos votos através da Rádio Clube e marcando atentamente cada urna em uma folha de papel de embrulho. Tudo muito bem feito, com a supervisão de minha mãe, que também gostava de acompanhar a apuração.

César Bianchi não ganhou. Ficou em terceiro, atrás do Alcides de Oliveira, que foi o segundo.

O eleito foi Hélio Pegorari, que foi um grande prefeito. Mas o que ficou na minha memória foi meu interesse por algo inusitado até então para aquele menino magricela de orelhas grandes.


Às vezes paro para pensar qual motivo me leva ao prazer de registrar essas lembranças. Aí descubro que o maior motivo talvez seja o de perpetuar algo nobre que existe em meu cerne para que, quando futuro se transformar em presente para minha pequena Mariane e eu talvez já faça parte do passado, ela possa descobrir, através desses escritos, um pouco do que o pai dela viveu na infância e na adolescência.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Pirulito Zorro

Sou de um tempo em que devolver a garrafa de Coca-Cola na cantina do ginásio rendia um pirulito Zorro. Era a forma encontrada pela direção da escola para disciplinar uma geração que já dava indícios de rebeldia.

Um tempo em que a maioria dos garotos da escola esperava com ansiedade o início do campeonato interno de futebol. E muitos até desistiam dos estudos no meio do ano só para garantir presença no ano seguinte e participar da competição.

Um tempo em que as competições esportivas realizadas pelo professor Barretto davam o que falar. Todo mundo marcava presença para ver de perto as disputas.

Naquela época, início dos anos 70, o ginásio – hoje chamado de ESO – era celeiro de grandes atletas e temido em todo o Estado. O trabalho que era comandado pelo professor Barretto era árduo, mas mostrava resultados. Atletas com Dão Rossi, Claudião Nascimento, Carlão Nogueira, Zé Alair, Pudim Simionato, Bi Rosário, Gildo Piardi, Ypê Ferreira Alves e tantos outros davam seqüência ao sucesso da geração anterior, que tinha em Paulinho Teté e Valdir Barbanti seus expoentes.

No meu tempo de ginásio, quando a pista em torno do campo de futebol era palco de uma corrida de mil metros, todo mundo parava para conferir qual seria a distância entre o vencedor e o resto do pelotão, pois todo mundo sabia que a vitória seria do Gildo Piardi, imbatível na distância e que comprovaria isso em competições pelo Brasil afora e por outros países da América do Sul.

Naquela mesma época surgiu um outro especialista na prova dos mil metros. Embora corresse descalço e fosse um garoto franzino, era capaz de deixar o resto do pessoal na poeira.

E por tudo isso, aquele menino, oriundo de Eleutério, era uma atração a parte. Luís Gustavo Cruz, apelidado de Tonelada por causa de seu tamanho e peso, mesmo sem a técnica necessária, fez história e figurou por muito tempo como recordista em sua categoria e também deu sua contribuição para que a fama que a cidade tinha lá fora como formadora de grandes atletas fosse mantida.


Lembrar fatos, detalhes e nomes é uma forma de manter vivo em minha memória esse tempo feliz de estudante. Buscar lá no fundo do baú de recordações o período em que professores eram respeitados pelos alunos como se fossem mestres, pais e gurus ao mesmo tempo. Um respeito que hoje, infelizmente, assim como o pirulito Zorro, não existe mais.

sábado, 15 de maio de 2010

Um gigante no meio-campo

Ninguém gosta de perder, principalmente quando se é criança ou mesmo adolescente. Com o passar dos anos as derrotas vão nos mostrando que nem sempre se vence e o jeito é aprender com elas.

E uma junção das duas coisas, ou seja, querer vencer e aprender com a derrota foi o que aconteceu na minha adolescência. Era o tempo em que o Paulistinha, time da minha rua, envergava sua camisa vermelha, tingida em um tambor na oficina do Luciano Venturini e com números pintados com tinta branca de pintar carroceria de caminhão.

Naquela época costumávamos organizar torneios no nosso campinho, ao lado do ribeirão da Penha, bem atrás de onde ficava a fábrica de sofás da Jupira. Nas tardes de domingo nosso time enfrentava, quase sempre, o time do Pito Aceso, que para quem não era da época, é o setor que engloba as ruas Santos Dumont, Romano Mozzaquatro e parte do final da Francisco Glicério, além da Carlos Chagas; e o time do bairro dos Prados.

Havíamos perdido um torneio para o pessoal do Pito Aceso, que tinha um time forte e cheio de garotos um pouco mais velhos. E aquela derrota estava entalada na nossa garganta. Afinal, perder em casa era uma humilhação para quem estava acostumado a derrotar a maioria dos times da cidade.

Para recuperar o moral e a taça, que eles tinham levado embora, o jeito foi organizar outro torneio e arriscar tudo. No primeiro jogo, como sempre, batemos o time dos Prados com facilidade e esperamos os dois se enfrentarem para depois travar a batalha final contra o temido time do Pito Aceso.

O campinho estava cheio de gente, tinha até uma barraquinha montada embaixo de uma goiabeira que ficava na ponta-esquerda de quem atacava para o gol da avenida Brasil. Minha mãe havia torrado amendoim e feito Ki-suco, que vendíamos para arrecadar um dinheirinho para o time.

Estava tudo pronto para a decisão, mas tínhamos que arrumar um jeito de vencer. Tirar alguma carta da manga para surpreender o temido adversário.

Foi aí que surgiu a luz no fim do túnel. No barranco, assistindo o torneio, estava o Zé Mário Piardi, que era uns anos mais velho e bem mais alto e forte que todos nós.

O convite foi feito e o Zé Mário, hoje morando na tranquila São Vicente, arregaçou as calças de pano xadrez e entrou em campo para compor no meio-campo.
Não que ele fosse um Gérson, um Ademir Da Guia, um Rivelino ou um craque da bola, mas seu tamanhão, ali no meio daqueles meninos, fez a diferença e vencemos o jogo por 2 a 1.


O moral e a taça estavam resgatados e, por medida de segurança, nunca mais organizamos um torneio com a presença do time do Pito Aceso. Era melhor ficar com o gostinho da vitória e ver nosso troféu na prateleira da alfaiataria do Carlos Venturini do que correr o risco de outro vexame em casa.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Mãe só tem uma

Quando se é criança é o colo da mãe que procuramos se algo nos aflige. É nele que buscamos a proteção contra qualquer ameaça.

Comigo não foi diferente. Quando algum pesadelo me atormentava durante o sono, lá estava ela, do meu lado, para dar proteção e acalmar meu pequeno coração.

E é incrível como, tantos anos depois, ainda tenho guardadas na memória inúmeras passagens que me fazem retroceder no tempo e ter a sensação de estar na janela do banheiro, olhando para as casinhas que compunham a paisagem ao alcance dos meus olhos.

Era sempre ali, naquela janela, de frente para o Cubatão, que ainda não tinha a grandeza de hoje, que minha mãe, com sua psicologia caseira, me fazia tomar o leite que eu muitas vezes não queria. Era contando quantas casas de cada cor havia no horizonte que ela me levava no bico e fazia com que o leite se transformasse em mero detalhe.
Talvez ali eu tenha tomado gosto pela estatística e pelos números, como tenho até hoje.

Lembro como se fosse hoje das nossas brincadeiras. Como gostava de brincar de futebol, minha mãe se transformava no goleiro adversário. Incorporava o goleiro José Poy, como sãopaulina fanática, para defender os chutes que eu desferia com a perna esquerda.

Ainda estão bem vivas em minha memória suas brincadeiras, piadas ou anedotas, como dizia, e a facilidade para as adivinhações. Era sempre a primeira a acertar qualquer tipo de charada.

Hoje, depois que Deus a levou, me pego muitas vezes de coração apertado, relembrando passagens de minha infância e muitas vezes sinto sua presença ao meu lado, me confortando e dando forças para seguir em frente. Talvez até nesse momento, em que tento segurar as lágrimas, que teimam em turvar minha visão, e engolir o nó que insiste em apertar minha garganta, sinto que meus pensamentos voam transportados por uma força inigualável.


Uma força que só as mães possuem. Uma força que sinto todos os dias, em todos os momentos, e que me impulsiona para seguir em frente.

A quarta série ginasial

Faz tempo que isso não ocorre, mas um tempo atrás eu vivia sonhando que estava nas dependências da escola onde cursei o ginasial e também ...