Sou de um tempo em que o respeito, com o perdão da redundância,
era tratado com respeito. Lembro bem das noites de domingo, quando a praça
central da cidade recebia centenas de pessoas, ávidas por um bate-papo com
conhecidos e por momentos de lazer ao som da banda Lira.
A praça, recém reformulada, ostentava a
matriz como baluarte da arquitetura e da fé das pessoas. O soar dos sinos era o
sinal para que todos que ocupavam a praça parassem de andar, falar ou o que
estivessem fazendo naquele momento. Era a senha para que as pessoas que
ocupavam os bancos se levantassem e aguardassem pelo final do repicar para
retomarem o que haviam interrompido.
Esse tempo, claro, ficou no passado, um passado repleto de
costumes e gestos respeitosos, como pedir a bênção aos pais, avós, tios e
padrinhos. Ou chamar de senhor ou senhora os mais velhos.
Lembro bem das brincadeiras na rua de casa
todas as noites. Podia ser pega-pega, futebol ou qualquer outra brincadeira.
Quando os ponteiros do relógio se aproximavam das dez da noite era hora de tomar
o rumo de casa, sem esperar pelo chamado dos pais.
No meu tempo de criança estudar no ginásio
era o sonho de 10 entre 10 alunos do primário. Para conseguir uma vaga era
preciso passar pelo exame de admissão e, para tanto, aulas particulares eram
ministradas na Escola Técnica de Comércio.
Lembro bem dessas aulas, à tarde, em
período contrário ao das aulas no Júlio Mesquita, onde menino estudava no
período da manhã e menina frequentava as aulas à tarde. No cursinho
preparatório para o exame de admissão era importante aproveitar ao máximo as
instruções dos professores Fenízio Marchini e Orlando Dini, pois só assim as
chances de entrar para o ginásio eram concretas. Fiz a minha parte, garantindo
minha vaga com sobras e notas expressivas.
São lembranças de um tempo que não volta mais, que ficaram
guardadas no meu baú de memórias e que são desenterradas sempre que algum fato
me transporta no tempo. Aí, volto a ser aquele menino magricela de orelhas
grandes, sempre atento aos fatos e aos ensinamentos que a vida nos reserva.